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Músicos e ativistas destacam legado de Mandela

Karina Gomes / Marina Estarque13 de dezembro de 2013

Em Angola e Guiné-Bissau, jovens organizaram homenagens ao ex-Presidente sul-africano. O rapper moçambicano Azagaia acredita, assim como Mandela, que é preciso lutar pela libertade até o fim.

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Foto: Reuters

A luta do ex-Presidente da África do Sul, Nelson Mandela, pela igualdade e justiça ainda não acabou. Para muitos jovens africanos, o exemplo do líder ajuda a nortear as reivindicações por mais democracia e liberdade.

Em Angola, um grupo de jovens vestidos de preto participou de uma homenagem com flores e velas a "Madiba", como Nelson Mandela também é conhecido. O encontro foi a forma que os membros do Movimento Jovens Revolucionários de Angola encontrou para se despedir de Mandela.

O coletivo, que existe desde 2011, organiza manifestações em prol da democracia no país. Adolfo Campos, de 34 anos, é um dos jovens que integra o movimento. Ele, que já foi detido por participar da distribuição e afixação de panfletos, diz que a trajetória de Mandela o anima a continuar seu trabalho como ativista.

Nelson Mandela Beerdigung Beisetzung Demonstranten Demonstration
Pessoas chegam ao local da cerimônia em homenagem a Mandela em JoanesburgoFoto: Reuters

“Foi um homem que lutou pela liberdade de expressão e igualdade racial. E isso nos incentiva. Nós nos encontramos em uma ditadura entre irmãos, que não é racial, mas entre angolanos”, afirma. Campos está lendo a auto-biografia de Mandela "Long Walk to Freedom" que, segundo ele, é uma grande fonte de inspiração. Ele assegura que, apesar das dificuldades, não vai desistir das suas reivindicações.

“O governo angolano é um governo corrupto, assassino e ditador. Mas nós vamos dar sequência. Estamos habituados, porque desde que começamos sempre fomos presos e torturados”, diz.

Poder e desigualdade

Adolfo Campos ressalta que é preciso alternância no poder: “O Presidente da República encontra-se há mais de 34 anos no cargo, é muito tempo. Desde a data em que eu nasci até hoje nunca conheci outro presidente”, protesta.

Para ele, um dos principais problemas é a desigualdade social. “Desde o dia que abri a vista como homem, sempre tive dificuldade de ter água, luz, educação e saúde. Coisas básicas que o Governo nunca consegue ultrapassar”, explica.

Mandela Trauerfeier Johannesburg 10.12.2013
Jovens sul-africanos despedem-se de MandelaFoto: Reuters

O ativista afirma que a corrupção impede que haja uma melhoria da qualidade de vida da população. “O país tem muito dinheiro, mas eles preferem sufocar o povo angolano para levarem a vida que têm. Querem viver em mansões enquanto o povo vive no lixo”, defende.

Com Mandela, Adolfo Campos aprendeu que é preciso ter coragem, determinação e fé. “Mesmo preso, ele nunca perdeu a esperança de que um dia o povo negro teria liberdade. Ele tinha isso dentro dele e sabia que isso ia acontecer”, conta. “Mandela estendeu a mão para as pessoas que o maltrataram. Sem rancor”.

O membro do Movimento Jovens Revolucionários de Angola destaca uma passagem da auto-biografia de Mandela que o marcou profundamente. “Ele diz que não se importaria de perder a vida em prol da nação. Isso me trouxe muita alegria”.

Segundo o ativista, o exemplo de Mandela deveria servir de lição para os políticos do seu país. “O Presidente em Angola só quer amarrar o poder, ele deveria dar alternância e não se importar com os bens materiais”.

Guiné-Bissau

Na Guiné Bissau, Mamadu Saidana, de 27 anos, concorda. Ele é membro do coletivo “Tchintchor - Promover a Guiné-Bissau positiva”, que une jovens em torno do exemplo de Mandela.

Mamadu Saidana também exorta os políticos do seu país a colocarem em prática as lições do líder sul-africano. “Mandela conseguiu trazer paz e estabilidade para a África do Sul e isto, neste momento, é tudo que a Guiné-Bissau precisa. Por isso ele é uma referência”, explica. O jovem conta que a Guiné Bissau é um país “dividido entre as várias posições, o anti e o pró golpe, a favor disto e contra aquilo”. Saidana acredita que é importante que os jovens conheçam a vida de Mandela.

Ele menciona uma frase do líder que o norteia: “Sonho com o dia em que todas as pessoas se levantarão e compreenderão que foram feitos para viver como irmãos. É deste dia que nós guineenses estamos à procura”.

Moçambique

Para o rapper moçambicano Azagaia, que compôs em 2011 uma faixa em homenagem a Nelson Mandela, a mensagem de ex-presidente foi de paz e reconciliação. “Nunca mostrou um ódio aos brancos. Podia-se dizer que o Mandela, depois de presidente, ia desencadear uma vingança contra aqueles que o mantiveram preso durante tantos anos, mas ele não o fez”.

Bildergalerie Leben Nelson Mandela
Nelson Mandela visita a cela onde passou 18 dos 27 anos de prisão na Ilha Robben, na Cidade do CaboFoto: Getty Images/Afp/Guy Tillim

Músicos e ativistas destacam legado de Mandela para a juventude africana

Azagaia ressalta que isto não deve significar um esmorecimento da luta. “Temos que continuar guerreiros, mas sem esquecer que a meta é essa: paz, reconciliação e respeito pela identidade dos povos”, diz.

Neste ponto, o rapper destaca a persistência como uma das grandes qualidades de Mandela. Segundo ele, o líder sul-africano não renunciou aos seus princípios, mesmo que isso significasse mais tempo de prisão.

“Como a libertação não obedecia aos critérios que ele queria, ele recusou. Muitas vezes somos convidados a desistir daquilo que acreditamos para ganhar algo”, relata o rapper, que acrescenta: “A mensagem de Mandela é que temos que lutar até o fim”.

Renúncia ao poder

Assim com os outros jovens, Azagaia afirma que os políticos do seu país precisam dar mais atenção ao legado do ex-presidente sul-africano, que não tirou proveito pessoal do poder.

Azagaia Rapper in Mosambik
Azagaia: "A mensagem de Mandela é que temos que lutar até o fim”Foto: DW/R.d.Silva

"No caso de Moçambique, muito líderes dizem que lutaram pela independência e, por isso, têm direito de se perpetuar no poder. É como se o povo devesse alguma coisa a eles".

Para Azagaia, Mandela contrariou esse posicionamento. "Essa, infelizmente, não é a atitude dos líderes africanos hoje em dia", conclui.

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