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Insegurança alimentar aguda atinge milhões de pessoas

Lusa
2 de abril de 2019

Milhões de pessoas em 53 países estavam à beira da fome e num estado de "insegurança alimentar aguda" em 2018, especialmente em África, segundo relatório global sobre a crise alimentar.

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Moatize, Tete Provinz, Mosambik
Foto ilustrativaFoto: DW/Amós Zacarias

Mais de 113 milhões de pessoas em 53 países estavam à beira da fome em 2018, especialmente no continente africano, segundo um relatório global sobre a crise alimentar, divulgado esta terça-feira (02.04.) em Bruxelas.

O Iémen, a República Democrática do Congo, o Afeganistão, a Etiópia, a Síria, o Sudão, o Sudão do Sul e o norte da Nigéria são os oito países do mundo que estão a sofrer as piores crises alimentares, segundo o relatório.

O documento foi apresentado conjuntamente pela União Europeia (UE), pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), entre outros organismos.

O relatório também refere que, nos últimos três anos, cerca de cinquenta países têm cada vez mais dificuldades em alimentar a sua população.

Países atingidos de forma desproporcional

Os países africanos são tocados de forma "desproporcional" pela fome aguda, com quase 72 milhões de pessoas afetadas, disse Dominique Burgeon, chefe de emergências da FAO, numa entrevista à agência de notícias francesa AFP.Os conflitos foram a principal causa de insegurança alimentar em 2018 no mundo.

FAO, Food and Agriculture Organisation of the United Nations, Logo

Cerca de 74 milhões de pessoas, ou dois terços da população total que enfrenta a fome aguda, estavam em 21 países ou territórios em guerra, um dado que permanece estável em comparação a 2017.

"Nesses países, até 80% das populações afetadas dependem da agricultura", disse Burgeon. "Estas pessoas precisam de receber assistência humanitária de emergência para se alimentarem e condições para impulsionar a agricultura" e a produção de alimentos, defendeu o responsável da ONU.

Em 2018, o número total de pessoas à beira da fome diminuiu ligeiramente em comparação a 2017 (124 milhões), tendo alguns países sido menos expostos a riscos climáticos violentos, como secas, inundações ou chuvas.

"Este recuo no valor absoluto é um epifenómeno", relativizou Burgeon, referindo que ocorreu "devido à ausência do fenómeno climático 'El Nino', que afetou muito as culturas na África Austral e no Sudeste Asiático em 2017". "Por causa dos violentos ciclones e tempestades em Moçambique e no Malawi este ano, já sabemos que esses países estarão no relatório do ano que vem", previu.

Ciclone IdaiO ciclone Idai atingiu a região centro de Moçambique, o Malawi e o Zimbabué a 14 de março. O número de mortos provocados pelo ciclone e as cheias que se seguiram subiu para 598, anunciaram hoje as autoridades moçambicanas.

Mosambik | MSN in Buzi
Após passagem do ciclone Idai (Buzi - Moçambique)Foto: MSF/Pablo Garrigos

"É evidente no relatório global que, apesar de uma ligeira queda em 2018 no número de pessoas com insegurança alimentar aguda - a forma mais extrema de fome -, o número ainda é alto demais", declarou o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva.

Atacar as causas básicas

De acordo com o responsável da FAO, é preciso agir em grande escala no âmbito do desenvolvimento, da ajuda humanitária e da construção da paz "para construir a resiliência das populações afetadas e pessoas vulneráveis". 

"Para salvar vidas, também temos que salvar os meios de subsistência", declarou José Graziano da Silva.

"Para realmente acabar com a fome, devemos atacar as causas básicas: conflito, instabilidade, o impacto dos choques climáticos. Rapazes e raparigas precisam ser bem nutridos e educados, as mulheres precisam de ser verdadeiramente fortalecidas, a infraestrutura rural deve ser fortalecida para conseguirmos esse objetivo de fome zero", sublinhou diretor-executivo do PAM, David Beasley.

As conclusões do relatório pedem uma cooperação fortalecida que ligue a prevenção, a preparação e a resposta para atender às necessidades humanitárias urgentes e às causas profundas, que incluem a mudança climática, choques económicos, conflitos e deslocamentos.