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Marrocos vai a votos por entre apelos ao boicote

24 de novembro de 2011

Em véspera de eleições os marroquinos saíram à rua. Os ventos da Primavera Árabe levaram a uma nova Constituição, aprovada em referendo em meados deste ano. Mas, as mudanças tardam a chegar.

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A picture of one of the pages that boycott the elections in Morocco Na véspera das eleições legislativas, marcadas para esta sexta-feira (25.11), multiplicaram-se os apelos ao boicote
Na véspera das eleições legislativas, marcadas para esta sexta-feira (25.11), multiplicaram-se os apelos ao boicoteFoto: facebook

Marrocos voltou a gritar por reformas. A poucas horas das eleições legislativas, marcadas para esta sexta-feira (25.11), milhares de jovens manifestaram-se apelando aos marroquinos para que fiquem em casa.

O movimento “20 de Fevereiro” – nomeado segundo a data da primeira manifestação popular marroquina, este ano – convidou os eleitores a boicotarem a eleição desta sexta-feira. Quem ficar em casa no dia da votação não será visto como apolítico ou traidor da pátria, diz o movimento. Pelo contrário, vai passar a ter voz, diz Najib Chaouki, um dos líderes do movimento. “Nós não acreditamos que as eleições sejam realizadas de forma livre e transparente. O sistema é corrupto. Centenas de ativistas estão na prisão, muitos foram torturados; quem está no palácio real quer manter o poder e a influência. Para quê ir votar? O nosso lema é: “boicoto, logo existo”!”.

Nova Constituição que reduz poderes do monarca

A nova constituição marroquina diminui o poder do monarca, obrigando-o a nomear o representante do partido mais forte da assembleia como chefe de governo. Na foto o Parlamento marroquino
A nova constituição marroquina diminui o poder do monarca, obrigando-o a nomear o representante do partido mais forte da assembleia como chefe de governo. Na foto o Parlamento marroquinoFoto: picture-alliance/maxppp

No início do ano, o movimento pela democracia em Marrocos começou otimista, na esteira da Revolução do Jasmim, como ficou conhecida a revolta popular na Tunísia, que acabou por derrubar, em janeiro, o ex-ditador Zine El Abidine Ben Ali. Num discurso proferido a 9 de março, o rei marroquino Mohammed VI reagiu à pressão vinda das ruas.

A nova constituição marroquina, aprovada em meados deste ano em referendo, diminuiu o poder do monarca, obrigando-o a nomear o representante do partido mais forte da assembleia como chefe de governo. Até agora, era Mohammed VI que escolhia todos os membros do gabinete. Mas, Mohammed VI continua a ser o líder religioso, chefe do exército, chefe do executivo e representante da política exterior do país. Além disso, tem o poder de dissolver o parlamento.

Partido islâmico apontado como favorito

O partido islâmico PJD parece ter boas chances de vencer a eleição desta sexta-feira, tornando-se a facção mais forte no parlamento. Na foto Abdelilha Benkiran líder do PJD
O partido islâmico PJD parece ter boas chances de vencer a eleição desta sexta-feira, tornando-se a facção mais forte no parlamento. Na foto Abdelilha Benkiran líder do PJDFoto: DW/Bellaouali

O cientista político Mohammed Darif critica os manifestantes porque acha que estes estão a precipitar-se com a exigência imediata de uma monarquia parlamentar. Segundo Darif, a nova constituição marroquina não é muito mais que uma democracia disfarçada. "A nova lei fundamental não é democrática. Documenta a transição de Marrocos na direção da democracia – nada mais, nada menos. Se conseguirmos levar as pessoas às urnas, se os partidos puderem transmitir credibilidade, será possível aprovar uma nova constituição, melhor, em quatro ou cinco anos."

Muitos marroquinos estão relutantes em ir às urnas porque não acham que eleições legislativas serão um meio para eleger representantes legítimos ou que mereçam o voto da população, uma vez que muitos dos 30 partidos possuem ligação estreita com a monarquia e parecem ter disponibilidade constante de conluio com os poderosos.

O partido islâmico PJD parece ter boas chances de vencer a eleição desta sexta-feira, tornando-se a facção mais forte no parlamento. Isso significaria também que o rei teria de eleger um islâmico como chefe de governo. O PJD era considerado reacionário e atualmente defende o estímulo à economia como solução para reconquistar a confiança na política.

Uma baixa taxa de participação eleitoral seria vantagem para o PJD, dizem observadores. Na legislativa de 2007, a participação foi de 37% dos eleitores, mas analistas acreditam que a participação no escrutínio desta sexta-feira pode ser ainda menor, com graves conseqüências para a credibilidade da política.

Autor: Alexander Göbel/Renate Krieger, DW.
Edição: Helena Ferro de Gouveia/António Rocha