1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Maurícias: Presidente vai demitir-se

Daniel Pelz | mjp
10 de março de 2018

O país africano, aclamado como modelo de democracia, está a celebrar os 50 anos da sua independência. E após os festejos, Ameenah Gurib-Fakim vai demitir-se devido a escândalo financeiro.

https://p.dw.com/p/2u60t
Deutschland Ameenah Gurib-Fakim in Dresden
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert

Ambiente de festa no paraíso de férias: cerca de 1,2 milhões de habitantes celebram oficialmente na próxima segunda-feira (12.03) os 50 anos da independência das Ilhas Maurícias. Os festejos já duram há vários dias, com festivais e exposições no país – considerado um exemplo de democracia e desenvolvimento por várias ONG internacionais.

Mas nem tudo são pontos positivos: a Presidente da República da Maurícia, Ameenah Gurib-Fakim, envolvida num escândalo financeiro, deve demitir-se após as cerimónias dos 50 anos da independência, anunciou na sexta-feira (09.03) o primeiro-ministro, Pravind Jugnauth.

Atualmente a única Presidente em África, Ameenah Gurib-Fakim terá desviado fundos públicos. Gurib-Fakim tem sido alvo de pressão, devido a acusações de que utilizou um cartão bancário fornecido por uma organização não-governamental para fazer compras pessoais.

O escândalo foi revelado pelo jornal local Express. Segundo o diário, a ONG em causa é o Planet Earth Institute, financiada pelo milionário angolano Álvaro Sobrinho, que está a ser investigado por suspeitas de irregularidades em Portugal. 

Mauritius Port Louis Caudan Waterfront
Port Louis, capital da República da MauríciaFoto: picture-alliance/dpa/P. Schickert

"Caso de sucesso"

Entretanto, as Maurícias são um caso de sucesso. É o que diz Alex Vines, investigador no instituto britânico Chatham House. As Ilhas Maurícias ocupam há cinco anos o primeiro lugar no índice Mo Ibrahim de boa governação em África. Também a organização não governamental Freedom House dá boa nota ao país no que diz respeito à política e aos direitos civis.

Desde a independência, em 1968, as Maurícias têm registado um desenvolvimento positivo – contrastando com os países vizinhos, como Madagáscar, marcados por golpes militares, ditaduras e violência.

Para Alex Vines, "o Governo tem mudado regularmente e há convivência entre partidos e alianças, por isso o país não tem sido tão marcado pelas políticas centradas em grandes estadistas que temos visto no continente africano". O investigador da Chatham House diz também que "tem havido uma maior tradição de pluralismo político" no país.

País multicultural

Mauritius Grand Baie Beach
Natureza das Maurícios é atrativo para o turismoFoto: picture-alliance/dpa/P. Schickert

As Maurícias são compostas por várias etnias. Antes da chegada dos navegadores portugueses, no século XVI, a ilha era desabitada. No século XIX, os colonizadores britânicos trouxeram escravos e trabalhadores de outros países e continentes para as Maurícias, principalmente para trabalhar nas plantações de cana de açúcar. Os descendentes ficaram no país. Os habitantes são, na maioria, hindus. Um terço, cristãos.

A académica Christina Meetoo, da Universidade das Maurícias, acredita que a diversidade é uma das chaves do desenvolvimento da ilha. Mas sublinha que pode também dar origem a conflitos: "Um problema que ainda temos de resolver é a nossa identidade nacional. O país tem uma característica única: é composto por vários grupos étnicos e religiosos e às vezes é difícil lidar com isto, garantir que todos têm um lugar na sociedade, de forma inclusiva, garantir que há igualdade entre os diferentes segmentos".

Divisões sociais

Maurícias: Presidente vai demitir-se após celebrações da independência

E a tensão entre a maioria hindu e a minoria muçulmana está a agravar-se, diz Alex Vines. Também na economia há uma divisão. Com um PIB per capita de 7 mil e 800 euros, as Maurícias estão no topo da lista do continente africano, onde muitos países ainda são classificados "em desenvolvimento". O dinheiro já não vem do açúcar, mas sim do turismo e dos serviços financeiros – o país é um popular paraíso fiscal. Porém, nem todos beneficiam disto.

Segundo Alex Vines, que ressalta que um dos problemas do país é o aumento do desemprego jovem e da desigualdade, "as taxas de crescimento da economia das Maurícias têm sido impressionantes e há alguns vencedores, mas também há muitos derrotados. A classe média sente-se sufocada".

E é cada vez mais difícil para o Estado ajudar as pessoas em dificuldades. Christina Meetoo lembra que a dívida pública é elevada – uma consequência dos problemas económicos de anos anteriores.

"Temos um sistema de segurança social que queremos manter, educação e saúde gratuitas, transporte escolar e de idosos gratuito. Como é que equilibramos isto com o facto de não termos receitas suficientes para o Estado suportar isto? O défice continua a aumentar".

Saltar a secção Mais sobre este tema