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Mister Black Portugal: Onde estão os donativos angariados?

7 de fevereiro de 2020

Modelos que participaram no concurso Mister Black Portugal afirmam que donativos angariados em ações humanitárias para África não foram entregues. A organização diz que não conseguiu apoios para o envio dos bens.

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Modelos Manuel Veiga e Dori NigroFoto: DW/J. Carlos

O Casino Estoril, em Lisboa, acolhe no mês de abril, em data ainda a anunciar, a terceira edição do concurso Miss/Mister Black Portugal, iniciativa que também angaria donativos para ações humanitárias em África.

No entanto, a organizadora do evento, Isabel Manuel Denascimento, é confrontada com críticas de concorrentes vencedores das edições de 2017/2018 e 2018/2019, que afirmam que não beneficiaram dos prémios a que tinham direito e que tão pouco foram feitas as doações destinadas a crianças de Angola e Moçambique.

Os jovens modelos dizem que foram enganados pela marca e temem que os próximos participantes possam ser também enganados e que os objetivos prometidos não sejam cumpridos.

Promessas não cumpridas

Dori Nigro, modelo português afro-brasileiro a fazer doutoramento em Belas Artes, foi o vencedor da edição de 2017/2018 do concurso Mister Black Portugal. A organização, sob a responsabilidade da angolana Isabel do Nascimento, prometeu ao primeiro classificado prémios em dinheiro, uma bolsa de estudos para um curso de línguas, uma viagem com hospedagem num país da Europa e uma viagem a África para entrega de doações angariadas em Portugal e Bélgica destinadas às crianças do Orfanato GA Angola, em Luanda.

Portugal Lissabon | "Mister Black Portugal" - Dori Nigro
Dori Nigro conquistou o concurso Mister Black Portugal 2017/18Foto: DW/J. Carlos

"Foram doações angariadas com a minha voz. Eu gravei diversos vídeos a pedir ajuda com a minha imagem, com a imagem dessas crianças que foram associadas ao site, e pessoas de várias partes fizeram doações e essas doações nunca chegaram a Angola", afirma Dori Nigro.

A vertente social do concurso atraiu este jovem "cansado de participar em concursos de moda só por moda", bem como a oportunidade de ir a África, "fazer trabalho social".

Ganhar dinheiro em nome de crianças africanas

Portugal Lissabon | "Mister Black Portugal"  -  Manuel Veiga
Manuel Veigas, modelo cabo-verdianoFoto: DW/J. Carlos

Só que, acrescenta, até agora não recebeu o prometido, apesar de várias tentativas para falar com a promotora do evento. Manuel Veiga, primeiro classificado da edição de 2018/2019, também reclama os prémios, além da promessa de levar auxílio ao Orfanato ACOMA – Amar as Crianças Órfãs de Moçambique em África, que não se concretizou.

"Depois do concurso, nem os prémios que ficaram lá no palco só para tirar as fotos, conseguimos obter. É incrível porque depois daquela tempestade [ciclone Idai], tentei falar com essa senhora a ver se conseguíamos chegar lá ao Orfanato ACOMA para ajudar aquelas crianças. Portanto, mesmo tentando por mensagens, e-mails, por WhatsApp, até agora não conseguimos falar com ela", conta Dori Nigro.

O jovem modelo cabo-verdiano critica a falta de caráter das pessoas que usam o nome das crianças africanas para ganhar dinheiro em benefício próprio. "Tenho falado com o meu colega e penso que este tipo de concurso não pode voltar a acontecer", afirma Manuel Veiga.

Materiais foram doados na Bélgica

A organização, em declarações à DW, explica que não há razões para tais críticas. Isabel Denascimento diz que não conseguiu os apoios necessários para o envio dos contentores com os donativos para Angola, com a saída do então ministro angolano dos Transportes, Augusto Tomás.

Mister Black Portugal: Onde estão os donativos angariados?

"Falei com o ministro dos Transportes, que nos prometeu sem problemas que havia de enviar, falei com a Embaixada de Angola, que também estava disposta a enviar, mas no momento certo de enviar o contentor para Angola, ninguém [estava disponível para ajudar]. E o ministro que tinha que nos ajudar a enviar a mercadoria, está fora de funções", detalhou Isabel de Denascimento.

A organizadora do concurso, com residência em Bruxelas, diz ter-se visto obrigada a doar as mercadorias a uma instituição que apoia refugiados na Bélgica, para não ter mais custos com o aluguer de uma garagem onde tinha guardados os donativos.

"Esta foi uma das causas que fez com que não conseguíssemos cumprir com a nossa palavra de mandarmos esse donativo para Angola. Não foi falta de vontade. A verba, o dinheiro, que é a coisa mais difícil para mandarmos [o contentores] não conseguimos", justifica.

Moçambique recebeu dois contentores

Também houve entraves, mas situação diferente aconteceu com Moçambique, para onde foram enviados dois contentores na sequência do ciclone Idai, mas sem que tenha sido possível a presença do vencedor Manuel Veiga, devido à urgência da operação.

Isabel Donascimento, que também dirige a Associação de Mulheres Empreendedoras Europa-África, diz que é uma pessoa aberta e nega que tenha sido contactada pelos vencedores do concurso. Quanto aos prémios, explica, estão em falta os patrocinadores que garantiram apoiar o evento.

"Não cumpriram e sobre isso os candidatos estão ao corrente. Depois do concurso, eu digo: essa marca prometeu isto, esta marca prometeu aquilo, vocês vão bater às portas [dos patrocinadores] que é para eles vos darem os prémios. Se os nossos candidatos não o fazem, não vou ser eu a fazer. Eu acho que os candidatos é que têm que ir bater ás portas dessas pessoas", afirma.

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