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Moçambicanos saíram à rua contra a impunidade

Leonel Matias (Maputo)
6 de abril de 2018

Dezenas de manifestantes protestaram esta sexta-feira, em Maputo, contra os assassinatos de vozes críticas em Moçambique e os ataques contra a liberdade de pensamento. E exigiram que os autores dos crimes sejam punidos.

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Ao som do rapper Azagaia, manifestantes recitaram poemas e exigiram o fim da onda ataques Foto: DW/L. Matias

Canções, poemas, mensagens, discursos e outras formas espontâneas de expressão de opinião caracterizaram a vigília promovida por organizações da sociedade civil, em protesto contra ataques à liberdade de expressão no país.

Os manifestantes deploraram a aparente impunidade dos autores e mandantes destes atos que ameaçam a democracia no país e exigiram que sejam levados à barra dos tribunais.

"Estamos tristes porque sentimos que as nossas liberdades, os nossos direitos estão gradualmente a ser-nos retirados", afirmou Fernando Gonçalves, presidente do Instituto de Comunicação da África Austral (MISA-Moçambique).

Moçambicanos saíram à rua contra a impunidade

"Este é o momento de dizer basta. Viemos aqui precisamente para transmitir uma mensagem clara e sem ambiguidades de que queremos as nossas liberdades de volta", sublinhou Fernando Gonçalves.

O presidente do MISA-Moçambique também classificou como um "ato de terrorismo" a violência usada contra quando as pessoas que usam o seu direito à expressão.

A força do argumento

Sendo um país democrático, Moçambique devia estar aberto ao debate aberto e frontal de ideias, disse Bruno Zita, da Ordem dos Advogados. "Queremos um Moçambique onde impera a força do argumento e não o argumento da força", defendeu.

"Alguns de nós têm que cair para que isto um dia seja um país limpo", afirmou Roberto Tibana, um dos participantes na vigília.

Para a diretora da organização não-governamental Fórum Mulher, Nzita de Deus, não é silenciando as pessoas que os moçambicanos vão parar de falar: "Em algum momento nós acabaremos por romper com estas correntes que estão a tentar colocar-nos. As mordaças que nos colocam não se vão perpetuar."

Mosambik Protest Meinungsfreiheit in Maputo
"Por que motivo não se encontram os responsáveis por estes ataques?", questionou Nzira de Deus, diretora do Fórum MulherFoto: DW/L. Matias

O último ato de violência relacionado com o exercício da liberdade de imprensa atingiu o jornalista e comentador Ericino de Salema, raptado e agredido por desconhecidos no passado dia 27. 

Instada a comentar estes atos de violência, a comentadora do programa televisivo "Opinião no feminino" Alda Salomão disse à DW África que se sentia atacada, magoada e triste, mas ao mesmo tempo encorajada a continuar. "Só a continuidade irá ajudar-nos a evoluirmos para um patamar e um cenário em que a diferença de opiniões é aceite como normal, natural e até desejável", declarou.

Protestos em todo o país

A vigília promovida esta sexta-feira (06.04) em Maputo é o início de um movimento que vai cobrir todo o país, explicou o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Jornalistas, Eduardo Constantino.

"As violações aos direitos humanos, à liberdade de expressão não acontecem tão somente na capital do país, mas também nas capitais provinciais, nos distritos, localidades, aldeias por ai adiante", lembrou.

A vigília teve lugar no recinto da Sede do Sindicato Nacional de Jornalistas, próximo do local onde o jornalista Ericino de Salema foi raptado.  

Na terça-feira (03.04), organizações da sociedade civil entregaram uma petição ao Parlamento em que apelam à intervenção daquele órgão para se pôr fim aos ataques à liberdade de expressão.