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EducaçãoÁfrica

Aulas à distância para menores do ensino noturno criticada

19 de julho de 2020

Em Moçambique, menores que estudam no curso noturno vão passar a ter aulas à distância. Alunos, especialistas, professores e encarregados mostram-se descontentes.

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Mosambik Maputo | Leere Schulklasse
Foto: DW/R. da Silva

As escolas em Moçambique vão continuar fechadas até serem criadas condições de higiene para prevenir o novo coronavírus, anunciou o Presidente Filipe Nyusi.

Mas o Governo moçambicano já traçou o plano para a possível retoma das aulas. Os menores que frequentam o curso noturno vão ter de aderir ao ensino à distância, o que está a provocar descontentamento na sociedade.

Trata-se de alunos com menos de 18 anos que no início do ano letivo assistiam a aulas presenciais à noite, por escassez de vagas no período diurno, e outros à distância pelos mesmos motivos.

Estas medidas têm sido criticadas há já vários anos, por se tratar de menores que se têm queixado de assaltos e violações sexuais. Dizem também que não assimilam bem as matérias no ensino à distância.

Estes alunos já não terão aulas presenciais porque o Governo quer reduzir a mobilidade noturna por causa do coronavírus. Mas os alunos discordam.

"O ensino à distância é muito complicado e nós não estamos preparados para estudar assim. Indo à escola todos os dias, estudávamos três vezes a mesma disciplina. Assim, a matéria era fácil de entender," diz uma estudante.

Um outro aluno firma que "vai ser difícil".

"Não hei de ter aquela explicação que eu tinha dentro da sala," diz.

"Não estava preparada para estudar no ensino à distância," acrescenta uma outra estudante. "Gostava de estudar no curso diurno mesmo," apela.

Filipe Nyusi, Präsident von Mosambik (D. Anacleto)
Filipe NyusiFoto: DW

Medida criticada

O professor David Carvalho não concorda com o ensino à distância para estes menores porque não vão ler os módulos que forem recomendados.

"É dar peso a quem não estava preparado. Tinhamos que, antes, quando começamos a enfrentar essa  pandemia, devíamos arranjar uma solução, um meio-termo para preparar a criança. A solução é começarmos a preparar, porque não sabíamos até quando ia esta pandemia," avalia.

Patricio Chambe, encarregado de educação, também defende o ensino presencial para menores.

"No ensino presencial, discute-se verbalmente e à distância não. Quando discutem verbalmente chegam a um acordo e a um entendimento," considera.

O especialista em educação Leonardo Ofice não tem dúvidas de que o ensino à distância, pela experiência que o novo coronavírus mostrou, não vai resultar.

Moçambique: Aulas à distância para menores do ensino noturno criticada

"Eles não estão a aprender como deve ser. Os relatos na esfera pública mostram que esse ensino à distância está a trazer consequências no sentido de que eles não estão a aprender, não estão a produzir," afirma.

A psicóloga Odete Abrantes, da Associação Braços Abertos, refere que a mudança de ensino presencial para ensino à distância pode ter um impacto negativo.

"É menor e não tem acompanhamento dos pais para saber que tem que estar àquela hora, que tem que fazer os trabalhos. Pode haver aquela situação de hoje faço, amanha não, porque não há uma disciplina direta, não esta lá o professor, não tem os colegas, não estão lá todos. Ele está sozinho e a motivação pode não estar lá," descreve.

A psicóloga diz que é preciso que haja um acompanhamento dos adultos para que estes alunos tenham motivação e não só.

Para que "consiga a horas cumprir com o horário, com os deveres a fazer e as atividades escolares. Portanto, o impacto é muito grande e não só para o aluno, mas acredito que também para os pais ou encarregados de educação,"  conclui Odete Abrantes.

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