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CriminalidadeMoçambique

Maputo: Kigali acusado de matar mais um refugiado ruandês

Nádia Issufo
14 de setembro de 2021

Karemangingo Revocat, ex-militar, foi assassinado ontem. Supõe-se que estava sob o "radar" de Kigali desde 2016. Entre os ruandeses em Moçambique há quem acuse o Governo de Paul Kagame de o matar e peça um inquérito.

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O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, é acusado de perseguir e assassinar os seus opositores no estrangeiroFoto: Presse- und Kommunikationsdienst der Präsidentschaft der DR Kongo

Karemangingo Revocat foi assassinado na tarde desta segunda-feira (13.09) por homens até aqui não identificados, na Matola (Maputo).

O refugiado ruandês, que seguia no seu carro, incialmente começou por ser perseguido por homens que também seguiam numa viatura. Um segundo veículo diante do portão de casa aguardava pela sua chegada. No final da perseguição, surgiu uma terceira viatura, de onde foram disparados seis tiros contra a cabeça de Revocat.

O relato é do presidente da Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique, Cleophas Habiyareme, que falou à DW África sobre os contornos do caso.

DW África: Como se sente a comunidade ruandesa em Moçambique depois de mais um assassinato de um concidadão, desta vez o senhor Karemangingo Revocat?

Cleophas Habiyareme (CH): A comunidade ruandesa está muito assustada, porque o que aconteceu segue-se a dois outros casos que mostram que a segurança dos refugiados [ruandeses] em Moçambique já é um problema.

DW África: Já há intenção dos refugiados ruandeses abandonarem Moçambique?

CH: De momento não se pode dizer isso. É muito precipitado dizer que os ruandeses vão deixar o país. Ainda vamos ver como o Governo vai reagir a estes três casos dentro da comunidade de refugiados ruandeses.

DW África: Tem alguma desconfiança sobre quem pode estar por detrás deste assassinato?

CH: Nós estamos a ver que isso é um ato do Governo de Kigali.

Bildkombo I Filipe Nyusi (Präsident aus Mosambik) und Paul Kagame (Präsident aus Ruanda)
Filipe Nyusi (esq.) e Paul Kagame, Presidentes de Moçambique e Ruanda, respetivamente

DW África: Mas o Governo do Ruanda já negou o seu envolvimento no assassinato de Karemangingo Revocat...

CH: [Kigali] não podia aceitar [o seu envolvimento], mas acho que se houver um verdadeiro inquérito independente, Kagame e o seu Governo deviam ser responsabilizados pela morte de Karemangingo Revocat.

DW África: A morte de Revocat tem sido associada a morte de Louis Baziga, um homem de negócios que era visto como próximo do Governo ruandês. Acha que essa morte é uma espécie de ajuste de contas?

CH: Dizer que a morte de Revocat é uma vingança da família de Baziga é ser demasiado cínico. Baziga não foi assassinado por Karemangingo Revocat. A família dele sabe bem disso. Só posso dizer que isso é uma manobra de diversão para enganar as pessoas. Nós que vivíamos com ele [é que sabíamos] o quanto estava a ser ameaçado e  o quanto a imprensa no Ruanda falava de Revocat, colocando Revocat em tudo o que acontecia e também naquilo que não acontecia. Sabemos que isso foi um ato do esquadrão da morte de Kigali.

Ruanda Mosambik Militär
Militares ruandeses destacados para combater o terrorismo em Cabo DelgadoFoto: Jean Bizimana/REUTERS

DW África: Cada vez mais ruandeses são assassinados em Moçambique, mas as autoridades não conseguem esclarecer os casos, nem responsabilizar os culpados. A vossa associação pondera recorrer a alguma instância internacional?

CH: Só podemos pedir ajuda a algumas organizações internacionais de direitos humanos para tentar ver o que está a acontecer e pressionar o Governo a clarificar esses casos. E agradecemos a algumas organizações dos direitos humanos de Moçambique, que estão sempre do nosso lado a tentar pressionar o Governo a fazer alguma coisa para esclarecer os casos.

DW África: Acha que a intensificação da cooperação entre o Ruanda e Moçambique, no contexto de Cabo Delgado, está a contribuir negativamente para os refugiados?

CH: É isso que está a acontecer. Eu acho que não ia agir de qualquer maneira como estão a agir, não têm medo de nada. Eu não pensava que essas tropas ruandesas iriam criar um clima de terror, mas agora estou a ver que está a começar a ser um problema.