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Moçambique: "Não temos comida, não temos nada"

rl | Frank Lukeit | Lusa | AFP
21 de março de 2019

Apesar dos esforços das autoridades moçambicanas, população afetada pelo ciclone Idai diz ter fome. A situação mais preocupante é, neste momento, o distrito de Buzi, em Sofala, onde há 200 mil pessoas em risco.

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Sobreviventes em Buzi Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier

Moçambique cumpre esta quinta-feira (21.03) o segundo dia de luto nacional em homenagem às vítimas do ciclone Idai, que devastou o centro do país há quase uma semana. Aquelas que são descritas por muitos como "as maiores cheias da história de Moçambique" fizeram até à data pelo menos 202 vítimas mortais e deixaram milhares de pessoas em situação de risco.

Seis dias passaram sem que a chuva dê tréguas. A situação mais preocupante é, neste momento, o distrito de Buzi, na província de Sofala, onde se encontram, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), 200 mil das 347 mil pessoas em risco. É para lá que estão a ser encaminhados os meios aéreos e marítimos disponíveis.

A vida depois do ciclone Idai

A prioridade é salvar vidas, disse à Lusa Claudio Julaia, especialista de emergência Do Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas (UNICEF). "Ainda há muita gente sitiada na província de Sofala e de Manica, mas a prioridade está a ser o distrito de Buzi que está totalmente inundado e onde muitas pessoas ainda estão nos telhados das casas e nas infraestruturas acima da água", sublinha.

A previsão da UNICEF é que "nos próximos três a cinco dias todas as pessoas que estão ainda em zonas de risco possam estar seguras". Ainda há milhares de pessoas que estão à espera de serem resgatadas, em cima de telhados e de árvores. Salvar vidas é a prioridade, explicou à DW Jamie LeSueur, chefe das operações de emergência da Federação Internacional da Cruz Vermelha. "Estamos a montar centros de acolhimento. Já há 37 na Beira e o número deverá aumentar", adiantou.

Crianças com fome

Segundo a Cruz Vermelha, pelo menos 400 mil pessoas ficaram desalojadas na Beira, estando por isso a necessitar de assistência alimentar. Vinte e duas toneladas de alimentos foram descarregadas no domingo na cidade pelas Nações Unidas e outras 40 estão a caminho.

Moçambique: "Não temos comida, não temos nada"

A ajuda deverá chegar a todos nos próximos dias, prevê a UNICEF. Enquanto isso não acontece, as queixas da população multiplicam-se. "As crianças estão com fome, não temos comida, não temos nada", lamenta uma desalojada. As vítimas pedem também  "apoio de energia " e alojamento. "Não temos casas, todas as casas estão mal, mesmo bem estragadas. Está tudo mal, desorganizado", ouve-se também entre as queixas.

Desde segunda-feira (18.03) foram canalizados para os três países afetados pelo ciclone - Moçambique, Zimbabué e Maláui - 52,2 milhões de euros, contabilizou a Lusa. O governo britânico, as Nações Unidas, a União Europeia e a União Africana são apenas alguns dos muitos governos e organizações internacionais que anunciaram, nos últimos dias, contribuições para ajuda humanitária.

Mau tempo dificulta resgate

As previsões meteorológicas para as próximas horas indicam que o mau tempo vai continuar a dificultar as operações de resgate. São esperadas chuvas intensas e trovoadas pelo menos até amanhã no centro do país.

A imprensa tem dado conta da possibilidade do Zimbabué, também atingido pelo ciclone, abrir em breve as comportas das suas barragens, o que dificultaria ainda mais a situação na província de Sofala, uma vez que as margens dos rios Púnguè e Buzi já rebentaram. No entanto, e questionado acerca desta realidade, Claudio Julaia, da UNICEF, garantiu que "essa é uma informação que não está confirmada."

Para os que querem ajudar, conclui Claudio Julaia, o mais importante agora para o apoio à população é o envio de víveres e abrigo. No entanto, e por causa da falta de eletricidade na cidade da Beira, "recomenda-se que a alimentação não sejam bens perecíveis ou não haverá capacidade de os conservar."