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Nomeação de Domingos como embaixador é estratégia política?

19 de julho de 2022

A indicação de Raul Domingos para embaixador de Moçambique no Vaticano não reúne consenso na esfera política moçambicana. Uns entendem que é uma estratégia para enfraquecer a oposição; outros falam em inclusão política.

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Novo embaixador de Moçambique no Vaticano, Raul Domingos
Foto: DW/R. da Silva

Trinta anos depois, Raul Domingos volta a uma cidade que bem conhece - Roma. O político já lá esteve entre 1990 e 1992 a negociar o acordo de paz entre a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Governo moçambicano.

Agora, voltará na qualidade de primeiro embaixador permanente de Moçambique junto ao Vaticano, cargo para o qual foi nomeado na segunda-feira (18.07) pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

A indicação do antigo número dois da RENAMO não surpreende o sociólogo João Colaço, por ser "uma figura que reúne consenso na oposição e  em diversos setores da sociedade moçambicana".

O sociólogo considera que Raul Domingos é "uma figura capaz de se [afirmar] no debate sobre os destinos de Moçambique, com grandes e largas oportunidades de ocupar uma posição de destaque nacional".

Em declarações à DW África, Raul Domingos, atual líder do Partido para a Democracia e Desenvolvimento (PDD), diz que vai a Roma para poder contribuir para "reconciliação nacional, que é um elemento fundamental para uma paz efetiva".

Mosambik Albino Forquilha
Albino Forquilha, líder do PODEMOSFoto: Fórum para a Investigação de Crimes e Reinserção Social

Desconfianças

No entanto, em alguns setores da sociedade moçambicana, esta nomeação é vista com alguma desconfiança. 

Para Albino Forquilha, líder do PODEMOS, partido extraparlamentar moçambicano, a indicação visa enfraquecer a oposição antes das eleições gerais de 2024, estilhaçando até alguns sonhos de uma oposição unida no país.

"Raul Domingos pretendia participar nas eleições gerais de 2024 e [tinha] uma proposta de regressar para a RENAMO [criando uma frente unida], incluindo com o MDM", conta Forquilha.

Forquilha lembra a velha máxima de que "não há almoços grátis".

"Não é normal o regime da FRELIMO nomear pessoas vindas da oposição", diz o político.

Raul Domingos reconhece que a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) pode tentar tirar proveitos políticos da sua nomeação, com a bandeira da inclusão. Mas, afirma Domingos, "isso pode representar também uma vitória da oposição - fazer com que seja aceite este modelo".

O antigo negociador do Acordo de Paz de Roma sublinha que aceitou o desafio de ocupar o cargo de embaixador para servir os interesses do Estado.

Sociólogo moçambicano João Colaço
João ColaçoFoto: privat

E a oposição?

O académico João Colaço diz que o futuro da oposição em Moçambique está nas mãos dos próprios políticos.

A nomeação de Raul Domingos como embaixador não significa derrubar os sonhos dos opositores: "Caberá à própria oposição ter a capacidade de se reinventar e definir as suas próprias estratégias", aponta Colaço, advertindo, por outro lado, que "a oposição não pode olhar para Raul Domingos como a sua última cartada".

Mas para Albino Forquilha, o momento não é oportuno. 

"Uma vez que Raul Domingos tem sido um crítico sobre a maneira como as coisas vão no país, não seria de bom tom aceitar este convite de ir para Itália, deixando o país nas condições em que está", lamenta Forquilha.

Considerando que, em 47 anos de independência nacional, pela primeira vez, Moçambique vai ter uma embaixada permanente no Vaticano, o académico João Colaço considera a escolha de Raul Domingos acertada.

"Porque ele tem tudo para dar grandes contribuições. Ele tem tudo para vender uma boa imagem de Moçambique no Vaticano e na Europa", conclui Colaço.

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