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Moçambique: Juventude da FRELIMO não tem expressão

Nádia Issufo
1 de outubro de 2018

O sociólogo Elísio Macamo acha que a inércia na juventude da FRELIMO se deve ao oportunismo e não ao medo da classe dirigente ou subserviência. A OJM refuta escudando-se em estatutos e fala em oportunistas infiltrados.

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Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, recebido por jovens da FRELIMO em InhambaneFoto: DW/Luciano da Conceição

Durante o processo de escolha do cabeça de lista às eleições autárquicas de 10 de outubro, os apoiantes da FRELIMO, e não só, aguardavam com expetativa pela escolha de um jovem. E até surgiram alguns nomes a concorrem para o município de Maputo, alimentando essas expetativas.

Mas no final os apoiantes do partido no poder frustraram-se, foi eleito um "veterano" do partido. Será que o chamado "sangue novo" não tem vigor suficiente ou é subserviente e tem medo de se impor à classe dirigente, e mais velha, da FRELIMO? Uma questão que colocámos ao sociólogo moçambicano Elisío Macamo:

"É uma mistura de várias coisas, para já o facto de estar no poder durante muito tempo produz os seus próprios problemas, como por exemplo o carreirismo e oportunismo. Simplesmente porque toda a gente que é ambiciosa, que gostaria de ser alguma coisa, vê nesse nesse partido a sua única oportunidade. Então, isso pode muitas vezes implicar fechar o bico, não criticar, pura e simplesmente fazer aquelas coisas que vão facilitar a sua ascensão", opina Macamo.

E na opinião dele,"às vezes as pessoas confundem isso com medo, pensam que há certas coisas que não podem dizer, mas não é exatamente isso, é simplesmente o efeito nocivo de um partido controlar o Estado como é o caso da FRELIMO."

Elisio Macamo Analyst an der Universität Basel
Elísio Macamo, sociólogo moçambicano Foto: DW/J. Beck

E alerta: "Mas se de facto, essas pessoas têm algum compromisso com algum princípio político, algum princípio democrático, a aposta dessas pessoas devia ser na democratização do partido na criação de um contexto dentro da FRELIMO, dentro do qual as pessoas possam articular a sua crítica."

Oportunistas infiltrados na FRELIMO

Convidamos o secretário da Organização da Juventude Moçambicana para a cidade de Maputo, o braço juvenil da FRELIMO, a reagir a esta posição de Macamo.

E de forma politicamente correta António Mahumane rebate justificando que "qualquer organização tem infiltrados. Naturalmente que os infiltrados acabam se frustrando, porque se quer estar calado e não quer exercer o seu direito de ser jovem e contribuir para o desenvolvimento do país, na OJM e na FRELIMO não tem espaço".

O aparecimento do jovem Samora Machel Jr., membro da FRELIMO, como candidato a cabeça de lista como independente com o apoio de uma organização da sociedade civil, veio tornar mais evidente esta aparente inércia da classe jovem da FRELIMO.

Por isso, o filho do ex-Presidente de Moçambique (Samora Machel) é visto como o jovem revolucionário que ousou questionar com ações o status quo. Por isso e outras coisas a juventude do partido do batuque e da maçaroca tem sido questionada.

Juventude da FRELIMO é dececionante

"A juventude que milita na FRELIMO decepciona-me bastante por causa deste oportunismo. Ela tem uma grande oportunidade para transformar muita coisa, sobretudo neste momento em que a imagem do partido não é das melhores. Então é esta a ocasião que estes jovens deviam utilizar para incutir outra dinâmica ao partido. Mas não estão a fazê-lo", critica Elísio Macamo.

E o sociólogo exemplificaa: "A forma como alguns deles se aliaram a lista da AJUDEM e a forma como retiraram os seus nomes é muito vergonhosa e diz muita coisa, curiosamente não sobre a AJUDEM, mas sobre a FRELIMO, que há um grande déficit de democracia lá dentro."

E sociólogo vai mais além: "A questão que se coloca é: como democratizar as estruturas do partido FRELIMO que não são nada democráticas, são burocráticas. E a FRELIMO confunde o facto dela ser rigorosamente burocrática com democracia, ela com o que todo o partido cumpre, que todo o partido deve fazer como instituição que funciona de acordo com a lei, mas o caso de Samora Machel Jr. e da representação local da FRELIMO na cidade de Maputo mostra que há um grande déficit democrático dentro do partido."

Moçambique: Juventude da FRELIMO não tem expressão

OJM garante que é respeitada

Mas António Mahumane, secretário da OJM para a cidade de Maputo, nega categoricamente: "Estou dentro do assunto e não vejo falta de democracia. O que pode estar a acontecer é que gente que está distante dos processos, gente que não vive os processos de democracia interna do partido, entende que algumas coisas podem não estar a acontecer como devem."

O jovem frelimista socorre-se de estatutos para defender a juventude frelimista: "Mas garanto que nós, como jovens da FRELIMO, como Organização da Juventude Moçambicana, sentimos que somos respeitados, que nos dão espaço. É por isso que temos uma cota em quase todos os processos eleitorais e essa cota tem vincado sem espaço para que seja diferente. "

E contra-atacando Mahumane afirma que "há gente que não sabe disso e aparece a fazer análise de forma superficial."

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