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Moçambique: tempo é de tréguas, mas os prejuízos permanecem

Arcénio Sebastião (Beira) | Lusa
7 de janeiro de 2017

Moçambique vive agora dias de tréguas. Mas nos últimos meses a tensão político-militar no centro do país prejudicou os negócios de muitos operadores florestais.

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Mosambik - Treffen zwischen Impresario und Regierung Mosambiks
Reunião de operadores florestais com o Governo provincial (Beira) Foto: DW/A. Sebastião

Desde que a tensão político-militar se intensificou em outubro de 2015, o escoamento e a exportação de madeira diminuiram e os negócios no centro de Moçambique foram muito prejudicados. Os dados foram divulgados recentemente na cidade da Beira, num encontro entre operadores florestais e a Direção Provincial da Agricultura.

Segundo os madeireiros, ainda há grandes quantidades de madeira a aguardar por escoamento, porque muitas zonas se tornaram intransitáveis por causa do conflito. E os custos das operações tornaram-se cada vez mais elevados. Acusam ainda homens armados do Governo e da RENAMO, o principal partido da oposição, de cobranças ilícitas.

A denúncia é feita à DW África por um operador florestal que pediu que a sua identidade não fosse revelada.

"Nós passamos muito mal nas estradas, ora nesta estrada podes entrar ora naquela não podes entrar. É complicado. Várias vezes sofremos cobranças para entrar numa zona para carregar madeira e se não colaboramos tanto as nossas forças tanto a RENAMO nos privam no local até desistirmos e voltar. Recordo-me do meu colega a quem incendiaram um camião na estrada por não ter aceitado pagar dinheiro."

Polícia não reage às acusações da RENAMONa altura, a Polícia da República de Moçambique acusou o braço armado da RENAMO da prática destas ações. A DW África tentou, por diversas vezes, obter uma reacção da Polícia em Sofala, mas o porta-voz, Daniel Macuacua, tem-se mostrado indisponível. "Estou neste momento fora do escritório a fazer um trabalho, logo que regressar vou retomar a chamada".

Unruhen in Mosambik
Foto ilustrativa: Militares moçambicanos em Sofala (2013)Foto: Getty Images/Afp/Ferhat Momade

Também contactado pela DW África, o porta-voz do maior partido da oposição, António Muchanga, não quis alargar-se em comentários sobre as acusações de incêndio, extorsão e interdição de circulação em algumas zonas de exploração na região centro. O porta-voz da RENAMO diz não querer inviabilizar a trégua que visa cessar as hostilidades durante dois meses, mas não assumiu nem desmentiu das acusações que pesam sobre o braço armado do seu partido.

Prejuízos no desenvolvimento de Sofala

Em Sofala, a agência de desenvolvimento local ADEL alerta para grandes prejuízos no desenvolvimento da região. Hamyd Taibo é o presidente da organização e disse em entrevista à DW África que "isto tem afetado o acesso as zonas de exploração, mas também tem afetado os programas das organizações, neste caso, os programas da agência ADEL que, por exemplo, tem vários projetos que estão até hoje temporariamente suspensos. E tivemos de mudar de estratégia de implementação."Agora, com o prolongamento da trégua por mais 60 dias anunciado pelo líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, o presidente da ADEL espera que a situação melhore.

Mosambik - Treffen zwischen Impresario und Regierung Mosambiks
Encontro entre operadores florestais e a Direção Provincial da Agricultura (Beira)Foto: DW/A. Sebastião

"É um sinal que nós como moçambicanos podemos encontrar soluções para o bem do país. Isto demonstra que a vontade das pessoas se sobrepõe a interesses particulares. A nossa esperança é que esta trégua possa ser prolongada e que quem sabe ser o início do caminho para a paz definitiva."

RENAMO preocupada com "provocações" mas trégua não está em causa

A RENAMO está preocupada com "provocações em violação das tréguas declaradas" em Moçambique, denunciadas na sexta-feira (06.01) num documento enviado à agência de notícias Lusa, mas afastou o fim do cessar-fogo provisório declarado pelo líder da oposição, Afonso Dhlakama, disse o porta-voz do partido.

"Esta situação deixa alguma preocupação mas até aqui o presidente Dhlakama tem conseguido segurar os seus homens", afirmou à Lusa o porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), António Muchanga, indicando que a trégua de seis meses não está em causa.A RENAMO denunciou na sexta-feira várias "provocações em violação das tréguas declaradas" em Moçambique, entre um homicídio, raptos, roubos, intimidações e extorsão, informou à Lusa fonte oficial do maior partido de oposição.

António Muchanga
António Muchanga, porta-voz da RENAMOFoto: DW/Romeu da Silva

RENAMO faz balanço da trégua

"Ficámos a saber que há provocações em violação das tréguas declaradas", afirma um documento da RENAMO entregue à agência Lusa, intitulado "Balanço dos últimos acontecimentos no país", e que conclui que "as forças do Governo não estão preparadas para garantir os 60 dias de tranquilidade".

O documento elenca vários incidentes nas províncias de Tete, Manica e Sofala, centro de Moçambique, poucos dias após o anúncio do líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, de prolongar uma trégua de uma semana, declarada a 27 de dezembro, por mais dois meses, após uma conversa telefónica com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.

"Lamentamos que os dirigentes da RENAMO que deviam estar a fiscalizar a trégua estejam obrigados a esconder-se, porque estão a ser ameaçados pela FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder]", afirmou o porta-voz do maior partido de oposição, que disse esperar que Afonso Dhlakama continue "a exercer a sua influência positiva" no processo negocial.

Apelo da RENAMOAntónio Muchanga apelou às pessoas envolvidas nos incidentes denunciados pela RENAMO para que "façam uma introspeção e respeitem a Constituição, que nunca falou da Comissão Política da FRELIMO", sugerindo a existência de ações do partido no poder para prejudicar as negociações de paz entre Nyusi e Dhlakama, e também das Forças de Defesa e Segurança e órgãos de comunicação estatais.

09.01.17 Mocambique madeireiros - MP3-Mono

Contactado pela agência Lusa, o porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Inácio Dina, disse não ter "qualquer registo de tais incidentes" e remeteu qualquer declaração apenas para o momento em que tiver confirmação de alguma ocorrência.

 

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