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Moçambique: Receio de alastramento de ataques armados

Nádia Issufo
13 de junho de 2018

Eventual alastramento dos ataques é algo a ser considerado, diz Saide Habibe. E sobre a errada associação que se faz entre o Islão e atacantes, o imam garante que a comunidade muçulmana está a desmistificar isso.

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Casas incendiadas pelos atacantes em Mucojo, distrito de Macomia, província de Cabo DelgadoFoto: Privat

Esta segunda-feira (11.06.) foi a vez de aldeias de Natugo, no distrito de Nangade, e Changa, no distrito de Macomia, província nortenha de Cabo Delgado, serem alvo dos ataques armados.

Um homem foi morto com golpes de catana em Natugo e em Changa um acampamento das FDS, Forças de Defesa e Segurança, foi atacado. Aqui morreram dois agentes e um ficou ferido, de acordo com a agência de notícias Lusa.

Mas o administrador de Nangade, Dinis Mitandi, sabe apenas de um outro ataque no domingo (10.06.) contra uma comunidade:  "Em Nangade tivemos o incidente dos malfeitores na noite de domingo para segunda-feira (11.06.). Tivemos dois mortos e queimaram cinco casas. A população estava na sua comunidade, que é um centro de produção. Naturalmente é uma aldeia isolada, as pessoas vão lá para as machambas e a região acabou por se transformar numa aldeia."

Islão instrumentalizado pelos atacantesAs FDS anunciaram na última semana a criação de centros operativos em Macomia e Quissanga, igualmente alvo de ataques. Sobre um eventual centro operativo em Nangade para fazer frente aos ataques, o administrador Dinis Mitandi não tinha muitas certezas, mas garantiu que até pouco tempo atrás tudo decorria dentro da normalidade: "No nosso distrito em príncípio não havia a necessidade de um contingente de FDS significativo porque ainda não vivíamos em situações dessa natureza."

Mosambik, Macomia: Mucojo village had houses destroyed by armed groups
FDS em Mucojo, distrito de Macomia, depois de um taque armadoFoto: Privat

Em Nangade, cerca de metade da população é muçulmana. A província de Cabo Delgado é predominantemente muçulmana e os ataques armados que começaram em outubro de 2017 têm sido associados ao Islão.

Mas um estudo realizado pelo MASC, Fundação Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil, e IESE, Instituto de Estudos Sociais e Económicos, publicado em maio passado, descarta essa possibilidade, mas conclui que o Islão tem sido usado para desestabilizar.

Comunidades muçulmanas em campanhas de esclarecimento

Moçambique: Receio de alastramento de ataques armados

No caso de Nangade o administrador esclarece que "os conservadores da religião muçulmana dizem que não têm nada a ver com esse tipo de pessoas [atacantes] , são jovens absolutamente enganados."

E Dinis Mitandi garante: "Temos contacto permanente com os líderes religiosos que consideram que os atacantes usam o Islão como capa, vestindo trajes islâmicos para criar desconfiança entre os cidadãos. Os cristãos quando vêm os muçulmanos desconfiam que estejam a causar problemas, e isso não fica bem."

A DW África questionou ao Sheik Saide Habibe se as associações islâmicas do país estariam em campanhas de sensibilização para dissociar as ações dos atacantes do Islão.

Habibe, que também participou do estudo do IESE e MASC, conta que "neste momento, ao níve da comunidade muçulmana há um trabalho que está a ser feito, embora seja titubeante, mas que procura esclarecer este fenómeno, tanto que muitas lideranças muçulmanas já estiveram em contacto com as autoridades governamentais, quer ao nível do distrito onde ocorrem os ataques, quer ao nível central."

Nampula pode ser o próximo alvo

Moschee in Nacala
Uma mesquita em Nacala, província de NampulaFoto: Madalena Sampaio

Tal como Cabo Delgado, a província vizinha de Nampula é predominantemente muçulmana. É também vasta em termos de território e por isso difícil de ser controlada pelas autoridades, que tem mostrado fragilidades de vária ordem no exercício das suas funções.

E embora não seja tão atrativa como Cabo Delgado, Nampula também possui riquezas. Haveria possibilidade de um alastramento dos ataques armados para Nampula?

"É o facto que estamos agora a temer. Aqui é preciso que os esforços sejam mais enérgicos porque se não se conter agora que o fenómeno ainda é novo, há o receio de se alastrar", responde o Sheik Saide Habibe.

E o líder religiosos fundamenta: "E caso isso aconteça, naturalmente a província de Nampula poderá ser uma das vítimas por causa das semelhanças entre Nampula e Cabo Delgado, visto que o estudo [do IESE e MASC] constatou que parte dos elementos do grupo vinha da província de Nampula, de Memba e cidade de Nampula."