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Moçambique: vítimas de cheias regressam aos locais de risco

Marcelino Mueia25 de fevereiro de 2016

Segundo dados das autoridades da Zambézia, cerca de 300 famílias vítimas das cheias em Mocuba abandonaram os centros de acolhimento para regressar às suas casas, apesar dos alertas do Governo.

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Os centros de acolhimento na província da Zambézia têm cada vez menos famíliasFoto: DW/M. Mueia

Devido à fome e à falta de condições que se sentem nos centros de acolhimento para as vítimas das cheias em Mocuba, na província da Zambézia, dezenas de famílias têm estado a regressar às suas casas, apesar das tentativas do Governo para evitar que regressem às zonas de risco.

Maria Luciano, delegada do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades na Zambézia (INGC), explica que as pessoas abandonaram as palhotas que elas próprias construíram para regressar às suas terras. "As pessoas voltaram a construir no leito do rio, exatamente onde a água passou em 2015. Não precisaram nem de um ano para, com muita tranquilidade, voltar a usar os pouco recursos que têm para construir uma casa".

Nos centros de acolhimento de Naverua e Nacogolone, a cerca de 15 quilómetros de distância do centro da cidade de Mocuba, as vítimas das cheias queixam-se da fome e das péssimas condições em que vivem atualmente. "Não há condições aqui. Desde que saímos dali [das suas casas] que não temos trabalho. Daqui para a cidade é muito distante e a gente vivia das ajudas alimentares, mas elas acabaram, e muita gente estava a sair do centro [de acolhimento] para ir lá para fora, para se reaproximarem da família. Na cidade, as famílias trabalham, e conseguem ter coisas para comer", conta um dos desalojados.

Maria Luciano
Maria Luciano, delegada do INGC, diz que as pessoas voltaram a construir no leito do rioFoto: DW/M. Mueia

Sensibilização não é suficiente

O Governo da Província da Zambézia mostra-se muito preocupado com a fuga das famílias e pretende introduzir medidas para travar o abandono dos centros de acolhimento. "Esta questão do regresso para zonas de risco é um assunto que, de facto, vai precisar de muito trabalho. O Governo vai ter de ver como vai fazer isso, mas [terá que ser] com a força de uma lei, porque só a sensibilização não está a surtir efeitos", alerta Maria Luciano.

De acordo com a delegada do INGC, foram realizadas várias palestras de sensibilização dirigidas às vítimas das cheias, pedindo-lhes que não fugissem nem regressassem às zonas de risco, e que aguardassem pela ajuda. Com estas medidas, o Governo zambeziano pretende evitar a perda de vidas humanas e gastar mais dinheiro nos seus resgates, caso haja novas cheias nestas zonas de risco. No entanto, a mensagem não está a surtir o efeito desejado.

Famílias nos centros são cada vez menos

De acordo com Miguel Rafael, secretário do Bairro de Nacogolone, depois das cheias de 2015, eram cerca de 400 as famílias que ali habitavam. Agora, esse número desceu para metade, porque as restantes já abandonaram o local. "Nós estamos numa situação muito complicada. No tempo de emergência, tínhamos abastecimento de comida suficiente, que era dada pela Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), que era a responsável, mas quem dava a comida era o Programa Mundial de Alimentação (PMA)".

Miguel Rafael
Miguel Rafael, secretário do Bairro de Nacogolone, afirma que, depois de terem terminado as ajudas da ADRA e do PMA, as condições nos centros se degradaramFoto: DW/M. Mueia

"Também foi implementada uma medida de comida pelo trabalho. Nós trabalhavamos 30 dias e no fim do mês recebíamos alimentos. Mas agora parou o trabalho, a situação no centro complicou-se. As pessoas abandonaram os terrenos para ver se faziam alguma coisa, porque aqui não há recursos", explica Miguel.

A província da Zambézia tem 63 bairros de acolhimento: sete em Mocuba e os restantes em distritos como Namacurra, Maganja da Costa, Chinde, Nicoadala e Mopeia.

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