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Estudantes de Angola acusam polícia de brutalidade e roubo

21 de abril de 2021

Participantes na marcha contra o preço das propinas em Angola reprimida pela Unidade de Intervenção Rápida acusam agentes de roubo de dezenas de telemóveis e dinheiro, além das agressões e detenções de manifestantes.

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Studenten protestieren gegen Studiengebühren in Angola
Foto: Borralho Ndomba/DW

Estudantes que participaram na marcha contra aumento dos preços das propinas e emolumentos nas instituições de ensino público e privados de Angola acusam agentes da polícia de terem furtado os seus pertences no protesto que foi reprimido pela polícia na capital, Luanda.

Os alunos, muitos dos quais menores, denunciaram agressões e exigem a devolução dos bens como telemóveis, mochilas, batas e valores monetários. O descontentamento foi manifestado esta quarta-feira (21.04), numa conferência de imprensa promovida pelo Movimento de Estudantes de Angola (MEA), que organizou a marcha de sábado.

Entre as vítimas dos agentes da polícia de Unidade de Intervenção Rápida (PIR) estão alunos do primeiro ciclo, estudantes universitários e alguns professores que se solidarizaram com a causa das propinas e emolumentos que estão cada vez mais altos em Angola.

Os participantes da marcha promovida pelo MEA foram agredidos junto ao Ministério da Educação, local indicado pelo Comando Provincial da Polícia para a manifestação. Os estudantes desconhecem as razões das agressões da PIR, quando a marcha estava a ser assegurada pela polícia de ordem pública. 

Studenten protestieren gegen Studiengebühren in Angola
Cartaz do MEA na manifestação de sábado (17.04), em Luanda.Foto: Borralho Ndomba/DW

"A polícia devia proteger-nos"

O relatório de balanço feito pelo Movimento de Estudantes de Angola aponta para 20 feridos e 30 detidos, postos em liberdade dias depois da detenção. O MEA e os seus afiliados reivindicam uma dezena de telemóveis e valores monetários, que a polícia terá tirado à força dos bolsos e mochilas dos estudantes.

"Fomos cercados pelos agentes da PIR, armados até aos dentes. Mesmo vendo que nós, os estudantes, estávamos desarmados, lançaram gás lacrimogéneo e fizeram disparos, causando sustos a muita gente", descreve Suzana Domingos, de 16 anos. Além de ser agredida, afirma, foi assediada pelos agentes da PIR.

"Depois de fugir, tirei a t-shirt do MEA e escondi de baixo de um carro e depois [um agente] ofendeu-me e fui várias vezes agredida no braço e na coluna. Depois de sairmos do Ministério da Educação, bateram-me na coxa e como já tinha inalado muito gás lacrimogéneo, não consegui correr até que um dos colegas me levantou e correu comigo", conta a estudante do ensino médio.

Osvaldo Neto, um estudante portador de deficiência, diz que os agentes especializados em motins não o pouparam das agressões. O jovem, que ainda está lesionado, afirma que a polícia devia defender os estudantes: "A Polícia Nacional não pode continuar a agredir os estudantes como se fossem delinquentes, como se fossem culpados pelo roubo do erário. Só estamos a reivindicar os nossos direitos. Será que que reivindicar os nossos é crime?", questiona.

"A polícia devia proteger-nos do analfabetismo. A polícia nem nos podia bater. Pelo contrário, devia proteger-nos, porque não queremos ser analfabetos e não queremos que os nossos irmãos e os nossos futuros filhos sejam analfabetos", sublinha Osvaldo.

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Ação criminal contra o comandante

O professor universitário Kambolo Tiaka-Tiaka é um entre vários docentes que estiveram na marcha. Kambolo, que diz ter sido agredido juntamente com a sua filha de 16 anos, acredita que que o seu telemóvel está na posse da polícia.

"Estão até agora com o meu telefone e o telefone está a ser usado. Quando conecto o meu Facebook, noto que algumas caixas de mensagens foram abertas. Não sei porque que estão a usar o meu telefone. Isto é feio. Apelamos a uma polícia republicana que olha para o cidadão como um elemento a cuidar e não como o elemento a bater", defende o também ativista da Plataforma Cazenga em Ação.

A marcha decorreu em quatro províncias: Luanda, Huambo, Uíge e Moxico. Os organizadores afirmam que apenas no Moxico não houve registo de agressões contra os estudantes.

O presidente do Movimento dos Estudantes de Angola, Francisco Teixeira, considera o ato um boicote. O MEA avança que vai intentar uma ação criminal contra o comandante provicial da polícia de Luanda por violar o acordo que manteve com os estudantes: "Não vamos deixar isso impune. Vamos abrir um processo contra o comandante provincial e vamos exigir que a polícia devolva os nossos telefones e outros pertences porque aqueles não eram polícias. Eram bandidos, são gatunos".

"Logo que eles chegaram começaram a colocar as mãos nos bolsos das pessoas, [para ver] quem tinha dinheiro, levavam o dinheiro e quem tinha telefone levavam o telefone. Aquilo é um gangue de indivíduos vestidos com a farda da polícia. Não os podemos chamar de polícia. Penso que o comandante provincial devia ter vergonha do tipo de polícia que tem", afirma o presidente do movimento, que promete continuar com protestos contra a má qualidade do sistema de educação no país.

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