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Moçambique: Chissano pede ambiente de confiança aos partidos

Lusa
17 de novembro de 2023

O antigo Presidente de Moçambique Joaquim Chissano defendeu esta sexta-feira (17.11), em Maputo, a criação de um ambiente de confiança entre todas as formações políticas, para se encontrar "uma visão" para o país.

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Joaquim Chissano, antigo Presidente de Moçambique Foto: imago/GlobalImagens/V. Rios

"Mas é verdade. O que nós precisamos aqui é continuarmos a trabalhar para ganhar a confiança entre nós. Confiança que nos permite sentar e conversar", afirmou Joaquim Chissano, ao intervir na conferência internacional "Moçambique no Conselho de Segurança das Nações Unidas: Promovendo a Paz e Segurança Internacionais".

O antigo chefe de Estado, que esteve no cargo de 1986 a 2005, falava na presença do Presidente da República, Filipe Nyusi, depois de uma intervenção do público naquela conferência ter recordado o atual momento de tensão política na sequência do anúncio dos resultados das eleições autárquicas de 11 de outubro, fortemente criticados pelos partidos da oposição, observadores e sociedade civil.

"Era preciso que a RENAMO [maior partido da oposição] criasse essa confiança, também do lado deles. A Frelimo [partido no poder], o MDM [Movimento Democrático de Moçambique] e todos. Para falarmos o que queremos, afinal, em Moçambique", afirmou Chissano, sem nunca se referir diretamente ao momento político que resultou do anúncio eleitoral.

"Noutra conferência aqui eu falei da necessidade de termos uma visão. Já fizemos uma vez, com todos partidos, com a sociedade civil, e tivemos uma visão, mas que veio um pouco tarde (...) Podíamos continuar para encontrar esta visão. Talvez pudéssemos assim eliminar muitos problemas", insistiu Chissano.

Numa conferência que aborda os "desafios à segurança e à paz", o antigo Presidente acrescentou: "Eu penso que a questão da paz permanente também é possível. É possível com a criação de uma cultura de paz, que começa em casa, começa na criança". 

"É preciso que o homem tenha essa cultura de paz em si, como tem a cultura de se vestir, de cobrir o corpo", disse ainda.

A Organização Não-Governamental (ONG) Centro de Integridade Pública afirmou que agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) balearam na quinta-feira oito manifestantes da RENAMO em Angoche, província de Nampula, um dos quais ficou em estado grave. 

"Há cinco hospitalizados, um dos quais em estado grave, que teve de ser transferido para o Hospital Central de Nampula", refere-se num comunicado daquela ONG, que observou as sextas eleições autárquicas de 11 de outubro e que está a acompanhar o processo eleitoral seguinte em todo o país.

Mosambik Maputo | Zerstörung nach Protesten
Protestos em Maputo no final de outubro deixaram vários pontos da cidade com destroçosFoto: Romeu da Silva/DW

 

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO, maior partido da oposição) denunciou na quinta-feira que pelo menos seis pessoas ficaram feridas na cidade de Angoche, província de Nampula, alegadamente após a intervenção da PRM durante um protesto contra os resultados eleitorais das autárquicas.

De acordo com fonte da RENAMO, os feridos foram baleados por elementos da PRM durante uma manifestação em que foi exibido um caixão com os símbolos da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder).

"O povo aqui não fez nada, simplesmente foi por causa do caixão, cada um tem a sua forma de se manifestar, não sabemos onde está o crime e qual o tipo legal de crime que o povo cometeu", descreveu a Renamo.

A Lusa tentou contactar a PRM de Nampula, mas sem sucesso até ao momento.

O Conselho Constitucional, última instância judicial de recurso eleitoral, deu um prazo de 24 horas, que se esgotou na quinta-feira (16.11), para a Comissão Nacional de Eleições (CNE) -- que pediu, entretanto, um prorrogamento - entregar editais de apuramento eleitoral em vários municípios, entre os quais Angoche, na sequência do recurso apresentado pela RENAMO aos resultados eleitorais.

As ruas de algumas cidades moçambicanas, incluindo Maputo, têm sido tomadas por consecutivas manifestações da oposição apelidadas como de "repúdio" à "megafraude" no processo envolvendo as eleições autárquicas de 11 de outubro e os resultados anunciados pela CNE, que atribuiu a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) em 64 das 65 autarquias do país, e que têm sido fortemente criticados pelos partidos da oposição, sociedade civil e organizações não-governamentais.

A RENAMO, que nas anteriores 53 autarquias (12 novas autarquias foram criadas este ano) liderava em oito, ficou sem qualquer município, apesar de reclamar vitória nas maiores cidades do país, com base nas atas e editais originais das assembleias de voto, tendo recorrido para o Conselho Constitucional, última instância de recurso no processo eleitoral.

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