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Moçambique: Crianças na rua e infâncias perdidas em Tete

Jovenaldo Ngovene (Tete)
1 de junho de 2023

Celebra-se a 1 de junho o dia internacional da criança. A sociedade civil, na província de Tete, revela que cerca de 80% das crianças têm a sua infância perdida. Associações alertam sobre os constantes abusos.

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Comércio de rua é uma das atividades praticadas pelas crianças em TeteFoto: DW/L. da Conceicao

Associações que trabalham com os direitos das crianças alertam sobre os constantes abusos do futuro da sociedade moçambicana.

A pobreza, a orfandade e o abandono são principais causas apontadas pelas Associações que trabalham com a criança, como as grandes ameaças a este grupo etário.

"São crianças na rua a fazerem trabalhos de adultos. Vemos crianças a serem violadas sexualmentedia após dia, o que é uma lástima”, lamenta Isabel Jacopo presidente da associação que ostenta o seu nome. E assiste neste momento mais de 500 crianças em toda a província.

Para Isabel Jacopo há ainda muitas crianças na província de Tete que têm os seus direitos fundamentais, como  "a educação e a assistência” e para piorar diz a fonte "temos visto crianças sequestradas e outras mortas."

À DW, Jacopo disse que a sua organização deseja apoiar um número maior de crianças, entretanto a falta de meios financeiros têm sido um entrave.

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Trabalho infantil

Cristiano José (nome fictício), tem 12 anos de idade. Devido à falta de condições teve de abandonar os estudos na terceira classe. Vive com a mãe, mas é na rua onde passa maior parte do seu tempo enfrentando o sol, a chuva, o frio e a fome inevitável. A luta é pela sobrevivência. À DW, conta o que faz nas ruas: "estou a pedir dinheiro. Por vezes consigo 50 meticais (cerca de 32 cêntimos de euro) e vou dar a minha mãe que não trabalha", revelou António.

Alexandre Martins (nome fictício) é outro menor que encontramos nas ruas da cidade de Tete. Tem 11 anos e frequenta a sexta classe. No período da manhã vai à escola e de tarde vende amendoim torrado no centro da cidade.

A atividade não tem hora exata de término e vezes há dias em que sai da rua para casa de madrugada. Falando à DW diz estar ciente do perigo que corre, mas lamenta não haver outra alternativa.

"Sou criança sim, mas nós estamos a sofrer, por vezes não temos o que comer", conta Pedro.

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Níveis alarmantes de violações

Por outro lado, casos de violação sexual contra menores de idade ganham níveis alarmantes, neste ponto de Moçambique. A igreja Anglicana que desenvolve o projeto VIVA MAIS em parceria com o Fundo de Desenvolvimento Comunitário (FDC), que trabalha na área dos direitos da criança, revelou que no ano passado teve um registo de mais de 50 casos de menores violadas. Só em abril último foram identificados 10 novos casos.

A para-legal Francelina Nganhane que trabalha neste projeto diz que a situação está cada vez mais preocupante. "notamos que os números tendem a aumentar, na cidade de Tete, apesar de estarmos a dar palestras, tentar sensibilizar a população, mas parece que quanto mais há informação, mais se agrava a situação."

Recentemente, a Direção Provincial do Ministério do Género, Criança e Ação Social (MGCAS) em Tete, despoletou no Distrito de Angónia e divulgou o caso de sete menores, com idades compreendidas entre 11 aos 16 anos, que eram mantidas em cativeiro, drogadas e exploradas sexualmente.

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