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Segurança alimentarMoçambique

Moçambique: Insegurança alimentar persiste em várias regiões

Delfim Anacleto
16 de março de 2023

Em entrevista à DW África, o pesquisador João Mosca saúda a melhoria da situação alimentar em Moçambique, mas adverte que ainda há muito por fazer para garantir uma alimentação adequada para toda a população.

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Mercado de peixe em MaputoFoto: Roberto Paquete/DW

Na quarta-feira (15.03), o Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Moçambique, Celso Correia, apresentou em Maputo o "Resultado da Avaliação da Segurança Alimentar Pós-Colheita 2022". Segundo o documento, a insegurança alimentar aguda diminuiu de 13% para 10% da população. O ministro adiantou que cerca de 16 milhões de pessoas têm três refeições por dia.

Mas 10% da população, ou três milhões de pessoas, encontra-se "em insegurança alimentar aguda", um quinto das quais na província de Cabo Delgado, devido à insurgência armada que ali dura há cinco anos.

João Mosca
Pesquisador moçambicano João MoscaFoto: DW/J. Beck

Numa avaliação dos dados apresentados, o pesquisador moçambicano João Mosca, do Observatório do Meio Rural, concorda que há uma redução dos níveis de insegurança alimentar, mas alerta para o longo caminho que o país ainda tem a percorrer neste contexto.

DW África: Que avaliação faz do relatório do Governo sobre a segurança alimentar em Moçambique?

João Mosca (JM): O relatório diz que a segurança alimentar melhorou, mas que se mantêm os níveis bastante altos de insegurança alimentar, sobretudo em situações de choques climáticos, de conflitos políticos, fenómenos migratórios, etc. O próprio estudo refere que os níveis de segurança alimentar têm diminuído, mas ainda são altos. Estamos a falar de um país que deveria ter esse problema resolvido há muito tempo.

DW África: Pode-se tirar mais conclusões dos dados coletados?

JM: Concluir mais do que isto só conhecendo com muito mais detalhes onde foram feitos os inquéritos, qual foi a quantidade de inquéritos realizada, em que zonas, se tudo foi bem ponderado, tecnicamente falando, em termos de investigação. Aí poderemos ter uma certeza alta sobre os resultados. Se isso não foi ponderado, podemos ter margens de erro muito maiores.

DW África: Há um desfasamento entre o relatório e a realidade no país?

Moçambique: Insegurança alimentar persiste em várias regiões

JM: Não existe contradição fundamental. No estudo que nós fizemos na zona da Zambézia, com mais de 400 pessoas inquiridas, constatámos que a estrutura de produção sustenta toda a hierarquia da produção. Os pequenos e médios produtores dizem que, embora a segurança alimentar esteja longe de ser plenamente resolvida, tem melhorado. Agora, há outras zonas onde o problema persiste, como Cabo Delgado, zonas onde há calamidades e zonas de seca, onde a segurança alimentar ainda tem que dar passos muito grandes.

DW África: Uma das constatações do relatório é que cerca de 90% da população moçambicana tem ou teve uma dieta aceitável para satisfazer as suas necessidades energéticas diárias. O que significa isso concretamente?

JM: Se o estudo diz que 90% da população tem as necessidades calóricas satisfeitas, significa que consomem diariamente pelo menos 1200 calorias. Naturalmente que essas calorias, sobretudo no meio rural, são obtidas através dos produtos básicos como o milho, amendoim, mandioca e feijão. Nas zonas urbanas, infelizmente, grande parte da alimentação é importada, nomeadamente o trigo e o arroz.

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