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MPLA de ontem não é o de hoje

Anselmo Vieira (Huíla)10 de dezembro de 2013

O MPLA foi fundado há 57 anos em Angola no contexto da luta colonial. Hoje, o partido que sempre governou o país é visto como cada vez mais distante do povo, ao contrário do que preconizam os seus ideais.

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Foto: casacomum.org/ Documentos Mário Pinto de Andrade

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) aparece na História de Angola com a data de fundação de 10 de dezembro de 1956. Até hoje, mantém-se a polémica sobre quem foi o seu verdadeiro fundador: Ilídio Machado ou Mário Pinto Leite de Andrade.

O MPLA é fruto da fusão dos movimentos de libertação que tinham como objetivo a libertação do país, nomeadamente Partido de Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA), Movimento para a Independência de Angola (MIA), Movimento pela Independência Nacional de Angola (MINA) e Partido Comunista de Angola (PCA).

Foram várias as vicissitudes e divisões internas que os membros do MPLA procuraram ignorar, como por exemplo o caso do controverso militante do MPLA Daniel Júlio Chipenda, líder da chamada "Frente Leste na luta contra os colonizadores portugueses, que chegou a deixar o partido para se juntar à Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), ou o 27 de maio de 1977, que resultou na morte de muitas pessoas e outras tantas desapareceram sem deixar rasto em nome de um golpe de Estado nunca provado.

O atual Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, era membro do Bureau Político que tinha como missão clarificar o caso aos angolanos.

Estes e outros elementos fizeram com que os ideais do MPLA - que se resumem na célebre frase de um dos seus presidentes, António Agostinho Neto, "o mais importante é resolver os problemas do povo" - estejam hoje muito distantes dos membros do partido.

Agostinho Neto
Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola independenteFoto: casacomum.org/Documentos Dalila Mateus

Um partido em mutação

Marcolino Moco, membro do MPLA e secretário-geral do referido partido de 1991 a 1992, afirma que "o MPLA tem uma grande história e também se foi transformando."

O também ex-primeiro ministro do país frisa as mutações que o partido que governa Angola sofreu. "O MPLA que eu deixei, que construímos sem quebrar as responsabilidades do passado, não é este MPLA que está a atuar. É um MPLA que também está preso", diz.

Marcolino Moco defende uma reconciliação nacional para que Angola possa realmente ser um país democrático e de direito como reza a Constituição. "O pior será continuarmos assim. Muita gente até dentro do MPLA acha que é melhor continuar assim e depois castigar os culpados, mas eu acho que não”, sublinha.

O membro do MPLA adverte: "Quando se chegar a esta altura as situações serão incontornáveis. Portanto, angolanos de todas as franjas políticas peçamos ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a abertura de uma Angola democrática porque isto cabe a todos."

Präsidentschaftskandidat Jose Eduardo dos Santos Angola
José Eduardo dos Santos, Presidende de Angola desde 1979Foto: picture-alliance/dpa

Rever a História

"Quando alguma coisa não está a correr de acordo com aquilo que está estipulado, naturalmente que toda a sociedade, incluindo os partidos políticos , devem e têm a responsabilidade social de tornar público, de denunciar as situações menos boas", defende o professor de História António Francisco.

Se o mais importante é resolver os problemas do povo, na prática as coisas são diferentes, afirma Elias Isaac, da organização não governamental Open Society. "Quando num sistema político e de governação não existem fronteiras entre o Governo e o partido, mas sim um sincretismo, então todos os órgãos de Estado, em particular o sistema judicial e até mesmo o sistema legislativo, perdem a sua utilidade política e tornam-se reféns do Executivo ou de um grupo de indivíduos que detém o monopólio político. Este é o caso de Angola”, esclarece.

Também António Chimuco, cidadão angolano de 53 anos de idade, considera que o MPLA tem de estar mais próximo do povo: "O Governo não vê, não procura, não visita e então põe-nos em pânico”, afirma, acrescentando que os cidadãos angolanos estão entregues à sua própria sorte.

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