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"Mudanças em Angola só com eleições", diz analista

13 de setembro de 2018

Apesar das recentes exonerações de governadores provinciais em Angola, MPLA deve dar maior liberdade aos militantes para que ocorram alterações substanciais na questão das nomeações, diz Eugénio Almeida.

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EugenioAlmeida
Eugénio AlmeidaFoto: DW/João Carlos

Mais exonerações em Angola. O Presidente angolano, João Lourenço, exonerou nesta quarta-feira os governadores das províncias do Bié, Lunda Sul, Cunene, Huambo, Huíla e Zaire - alguns dos quais líderes históricos ao longo dos 39 anos de liderança em Angola de José Eduardo dos Santos. A DW África entrevistou Eugénio Almeida, investigador no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa.

DW África: Essas recentes exonerações representam alguma mudança efetiva em relação às anteriores, ou apenas há troca dos atores políticos, embora a política continue a ser a mesma?

Eugénio Costa Almeida (EA): Enquanto não houver eleições regionais, autárquicas e provinciais creio que não haverá alteração substancial na política angolana. Todavia, é ainda muito cedo para vermos o que é que o Presidente João Lourenço tem em mente.

DW África: O que é preciso então fazer para que haja mudanças concretas?

EA: Terão que ser feitas eleições. O problema é que os escrutínios vão ser progressivos e, mais do que isso, ainda não estão completamente concretizados o "timing" e o perfil que vão ser as eleições. Enquanto isso não acontecer, naturalmente vamos continuar a ver o Presidente angolano a nomear governadores que, por inerência, são pessoas ligadas ao partido no poder, o MPLA. Enquanto o próprio MPLA não alterar o estatuto [do partido] e não der maior liberdade aos seus militantes, dificilmente haverá alterações substanciais na questão das nomeações - seja para os governadores, para os administradores das autarquias, etc.

"Mudanças concretas em Angola só com eleições", diz analista

DW África: Segundo a Angop (agência de notícias de Angola) o novo governador da província da Huíla, Luís Nunes, é um empresário com uma grande fortuna calculada em cerca de 854 milhões de euros. O que pode implicar a nomeação de um empresário como esse para o cargo de governador provincial?

EA: O facto de ter sido colocado naquela província um tecnocrata, que neste caso é empresário, vai permitir que a província se envolva mais fortemente além da parte da indústria. Pode ter sido uma solução pertinente. Mas torna-se difícil poder dizer neste momento com toda a frontalidade se a colocação desta personalidade como governador da Huíla é pertinente ou não.

DW África: A província angolana da Lunda Sul passa agora a ser dirigida pelo mais jovem governador de sempre em Angola. Daniel Félix Neto, de 39 anos, foi nomeado para o cargo. Como vê a nomeação de jovens para altos cargos administrativos pelo Presidente João Lourenço? A juventude pode ser a grande aposta da política angolana?

EA: Pode não, tem que ser. Recordando o que se passou ainda muito recentemente com os chamados "revús", não se deve esquecer que nomeadamente muitas manifestações e protestos foram organizados e realizados por jovens contra o MPLA. E João Lourenço enquanto líder deste partido percebe que não pode continuar a manter os mais velhos, os chamados "kotas" - alguns deles ainda do tempo da luta armada pela independência - à frente dos destinos do país. Pessoalmente, não conheço Daniel Félix Neto, mas sei que a província da Lunda Sul, como a da Lunda Norte, são regiões muito problemáticas tendo em consideração que são fontes de diamantes. Também não se deve esquecer que é ali onde o PRS (Partido da Renovação Social) tem uma boa presença e muita força. Pode ser este quadro tenha levado João Lourenço a nomear um jovem para governador de uma província que, juntamente com a Lunda Norte, poderão ser mais problemáticas no futuro.

Tainã Mansani Jornalista multimédia