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Negócios à vista? Presidente angolano visita Alemanha

21 de agosto de 2018

Presidente João Lourenço será recebido esta quarta-feira com honras militares pela chanceler Angela Merkel e encontrar-se-á com investidores. Alemanha quer ajudar a diversificar economia angolana, mas ainda há desafios.

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João Lourenço durante visita à Alemanha, em novembro de 2014, como ministro da DefesaFoto: picture alliance/dpa/R.Jensen

João Lourenço começa a visita oficial de dois dias à Alemanha com um encontro com empresas alemãs. O Presidente angolano vem a Berlim acompanhado de uma grande delegação de ministros e empresários.

"Angola precisa de investimento estrangeiro e de novos créditos", resume Jon Schubert. "A dívida que tem com a China é astronómica", afirma o investigador suíço - em 2017, rondava os 21,5 mil milhões de dólares, segundo dados do Governo angolano.

João Lourenço não está sequer há um ano na Presidência e já mostrou intenções de integrar a Organização Internacional da Francofonia e a Commonwealth. A deslocação à Alemanha segue-se a visitas à França e a Bélgica e antecederá uma visita a Portugal, prevista para os últimos meses de 2018.

Empresários expectantes

Esta quarta-feira de manhã (22.08), o Presidente angolano discursará num Fórum Económico, que decorrerá num hotel da capital alemã. O evento é organizado pela associação das empresas alemãs com negócios em África, Afrika-Verein, pela embaixada angolana em Berlim e pela Delegação da Economia Alemã em Angola.

"Esperamos que o Presidente angolano dê sinais claros", comentou Judith Helfmann-Hundack, do Afrika-Verein, nas vésperas da visita. "A economia precisa de compromissos claros no que diz respeito à confiança e à segurança legal nas relações económicas."

Angola, 6. Deutsch-Angolanisches Business Forum
Esta será a sétima vez que políticos e empresários alemães e angolanos se encontram num Fórum Económico. O último foi em Luanda, em 2015Foto: DW/G. Correia da Silva

Por isso mesmo, na bagagem para Berlim, João Lourenço deverá trazer vários "rebuçados" para adoçar a boca aos investidores - um deles, a nova Lei do Investimento Privado, que acabou, por exemplo, com a obrigatoriedade de ter um sócio angolano para abrir uma empresa em Angola.

Além disso, o Presidente angolano traz novidades no combate à corrupção. Em julho, João Lourenço foi ao Parlamento Europeu e anunciou que estava numa cruzada contra os crimes de "colarinho branco". Na semana passada, quatro ex-funcionários da Administração Geral Tributária foram condenados à prisão em Luanda por corrupção e branqueamento de capitais, entre outros crimes. Foram ainda abertas outras investigações, incluindo contra José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente angolano, que chefiou o Fundo Soberano e é acusado de fraude e desvio de fundos.

Entretanto, o Governo cancelou contratos com empresas ligadas à família de José Eduardo dos Santos, noticiou em julho o jornal português Expresso.

Jon Schubert
Jon Schubert: "Se calhar, o mais fácil foi andar atrás dos filhos do ex-Presidente"Foto: Jon Schubert

Mas estas e outras medidas, como o afastamento de Isabel dos Santos da chefia da petrolífera angolana Sonangol, são sobretudo ações simbólicas, comenta o investigador Jon Schubert. Ainda é preciso mudar muitos dos maus hábitos que se enraizaram enquanto José Eduardo dos Santos esteve no poder, refere.

"Se calhar, o mais fácil foi andar atrás dos filhos do ex-Presidente, mas tentar mudar esses maus hábitos e atacar os interesses económicos, por exemplo, das altas patentes do Exército vai ser muito mais difícil", afirma Schubert. "Essas figuras não vão largar simplesmente os privilégios económicos que conseguiram nos últimos anos."

O antropólogo político e económico, atualmente na Universidade de Brunel, em Londres, lembra que não é de um dia para o outro que se acaba com a corrupção e muda o ambiente de negócios. O próprio Presidente angolano já reconheceu isso.

Necessidade de reformas

Para o economista angolano Francisco Paulo, uma das maiores guerras por travar é a guerra contra a burocracia, "porque é a burocracia que leva à corrupção."

"Um indivíduo, para conseguir obter um alvará, fazer o registo da sua empresa ou obter qualquer documento leva tempo para obtê-lo. Então, o que as pessoas fazem é tentar ir para as 'vias mais rápidas'", comenta.

O economista acredita, mesmo assim, que, com João Lourenço, os investidores estrangeiros têm hoje mais garantias de segurança do que no passado e vê com bons olhos a visita de Lourenço à Alemanha.

Angola Hafen von Luanda
Angola está bastante dependente da importação de matérias-primas, e a economia move-se sobretudo graças às exportações de petróleoFoto: picture-alliance/dpa/W. Langenstrassen

Atualmente, só há cerca de 30 empresas alemãs com sucursal em Angola. O volume de negócios entre Angola e a Alemanha também é baixo: no ano passado, ficou-se pelos 299 milhões de euros, segundo estatísticas oficiais provisórias. Angola importa sobretudo automóveis, máquinas e tecnologia, enquanto a Alemanha importa principalmente petróleo e gás.

Com a queda do preço do crude no mercado internacional, diminuiu também em Angola o acesso a divisas, e essa é uma questão que continua a preocupar os investidores.

"O problema é que os investidores alemães ou europeus querem ver mais. Querem ver, por exemplo, as reformas macroeconómicas avançar, até as reformas sociais, porque há risco de reputação cada vez que vão para Angola", alerta o jornalista angolano Emanuel Matondo, que vive há mais de duas décadas na Alemanha.

João Lourenço visita Alemanha

"Lourenço tem uma tarefa grande, não só de falar, mas de ter também a coragem de fazer reformas". Ou seja, seria preciso muito mais do que os "rebuçados" que João Lourenço deverá trazer na bagagem para os investidores.

Durante a visita à Alemanha, além de se encontrar com empresários no Fórum Económico, o chefe de Estado angolano reunir-se-á com o Presidente Frank-Walter Steinmeier e a chanceler Angela Merkel.

No encontro, Merkel e o Presidente angolano deverão abordar as reformas económicas no país e os desenvolvimentos políticos não só em Angola como na região, de acordo com o programa oficial.

Outro tema que poderá ser abordado é a cooperação militar: segundo o jornalista Emanuel Matondo, tanto a Alemanha como Angola estarão interessadas em fortalecer essa parceria - por exemplo, para reforçar a segurança no Golfo da Guiné.