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Nova era nas relações entre Angola e Portugal

11 de julho de 2018

Carlos Alberto Fonseca, novo embaixador de Angola em Portugal, indicado pelo Presidente João Lourenço, entregou as cartas credenciais ao chefe de Estado português, numa cerimónia sem a presença da imprensa.

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Portugal Lissabon | Marcelo Rebelo de Sousa, Präsident & Carlos Alberto Fonseca, Botschafter von Angola
Novo embaixador de Angola, Carlos Alberto Fonseca (esq.), entrega cartas credenciais ao Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de SousaFoto: Miguel Figueiredo Lopes

Com a indigitação, a 17 de maio, de Carlos Alberto Fonseca para o cargo de embaixador de Angola em Portugal fica para o passado o mal-estar que colocou os dois países de costas voltadas. Em causa estava o processo judicial que pendia sobre o ex-vice-Presidente angolano, Manuel Vicente,  acusado de corrupção e branqueamento de capitais, que entretanto já seguiu para Luanda.

Esta quarta-feira (11.07), Carlos Alberto Fonseca entregou as Cartas Credenciais ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. O chefe de Estado português prefere esquecer as mágoas do passado e falar de um futuro promissor com muitas expetativas.

"As perspetivas são, à partida, tão boas em termos económicos e financeiros, sociais e políticos que agora é preciso é que os passos que sejam dados sejam todos seguros porque a expetativa é altíssima. Os empresários, os trabalhadores, os estudantes têm expetativas; as comunidades que estão num país e noutro têm expetativa. Há que, no fundo, trabalhar de forma segura para que essas expetativas sejam realizadas".

António Costa visita Angola em setembroA preparação da viagem do primeiro-ministro português, António Costa, a Angola, marcada para 17 e 18 de setembro, está no topo da agenda de Carlos Alberto Fonseca, depois de os chefes da diplomacia dos dois países se terem reunido em Lisboa esta semana. O próprio ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, deu o mote na sequência dos contactos estabelecidos com o seu homólogo angolano, Manuel Domingos Augusto.

Antonio Costa Premierminister Portugal
António CostaFoto: DW/C. Vieira Teixeira

"Houve agora este contacto de forma a que ao nível das embaixadas e ao nível dos serviços dos dois ministérios nós possamos concretizar esse objetivo que é agora um objetivo totalmente prioritário: o primeiro-ministro português deslocar-se a Angola, retomarmos a revisão do programa executivo de cooperação entre os dois países e tratarmos de uma agenda que, no que diz respeito às relações económicas, às relações político-diplomáticas e às relações de cooperação, é uma agenda muito rica".

Em Portugal, a agenda do novo embaixador impõe desafios considerados importantes tanto para Angola como para a sua diáspora. É o que pensa a jornalista e socióloga angolana Luzia Moniz, para quem esta nova era deve ser caraterizada pela normalização efetiva das relações entre os dois países.

"Por outro lado, o que eu também espero do novo embaixador é que consiga estabelecer um diálogo franco e aberto com a diáspora. A diáspora angolana em Portugal tem peso e é preciso que os poderes políticos e nesse caso o embaixador atribua esse peso dialogando permanentemente e não de costas viradas como assistimos até bem pouco tempo. E ainda fazer diplomacia. É para isso que os embaixadores são nomeados mas muitas vezes essa vertente é descurada a favor de alguns interesses não muito claros".

Mudanças com o novo Presidente angolanoPara o analista português José Pacheco Pereira, as relações luso-angolanas nunca foram sadias e estáveis, mas admite mudanças com o esforço do Presidente João Lourenço, também empenhado no  combate contra a corrupção.

Nova era nas relações entre Angola e Portugal

"Não depende de Portugal, tudo depende de Angola. Se em Angola as pessoas começarem a dar credibilidade ao sistema judicial, se começarem a perceber que ninguém fica rico do nada ou porque é familiar do Presidente. Se começarem a perceber essas coisas naturalmente as relações estabilizam-se, porque não penso que haja nenhuma hostilidade particular com Angola".

Para Pacheco Pereira o que há é "uma ambiguidade" porque "há muita gente que ganha dinheiro com Angola cá. Há muitos negócios que não são claros. Há compadrios de negócios. E se se estabilizar uma política anti-corrupção em Angola, que atinge evidentemente os angolanos que puseram cá o dinheiro - alguns deles são grandes empresários em Portugal, têm grandes participações em empresas portuguesas e nunca se lhes conheceu alguma atividade económica que justificasse os milhões que têm. Eu acho que o fator fundamental é a estabilização da democracia angolana e o Estado de Direito".

Fim do mal-estarA antecipar a visita oficial a Angola do primeiro-ministro português, António Costa, o líder da oposição social-democrata, Rui Rio, esteve em Luanda, no mês de junho último, e foi recebido pelo Presidente angolano, João Lourenço. Em declarações à imprensa em Lisboa disse que já não sentiu nenhum mal-estar em relação ao Governo português.

Portugal Lissabon | Marcelo Rebelo de Sousa, Präsident & Manuel Augusto, Außenminister Angola
Manuel Augusto (esq.) chefe da diplomacia angolana com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de PortugalFoto: Miguel Figueiredo Lopes

"A minha reunião com o Presidente de Angola e depois com o Presidente do MPLA correu excecionalmente bem. Não senti nenhum mal-estar com o Governo português. Isso pode escrever. De forma nenhuma".

O período mais tenso nas relações luso-angolanas registou-se durante a vigência do embaixador cessante, José Marcos Barrica, entre abril de 2009 e 23 de abril deste ano, data da sua exoneração por decreto presidencial assinado por João Lourenço. Marcos Barrica, professor universitário e antigo ministro da Juventude e Desportos no Governo de José Eduardo dos Santos, deverá regressar em breve a Angola, depois de vários anos fora do país a exercer atividade diplomática.