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PolíticaSomália

Novos confrontos ameaçam eleições na Somália

Mohammed Odowa
29 de outubro de 2021

Vários dias de combates entre tropas governamentais e milícias tornaram ainda mais incerta a realização das muito ansiadas eleições gerais. Como agravante, ainda não há acordo sobre o procedimento eleitoral.

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Foto: STRINGER/AFP/Getty Images

Após semanas de disputas acesas entre o Presidente cessante, Mohamed Abdullahi Farmaajo, e o seu primeiro-ministro, Mohamed Hussein Roble, por causa do desaparecimento de uma agente feminina dos serviços secretos, os dois homens concordaram finalmente rumar a eleições. Um acordo assinado por ambos declara que o escrutínio "é a máxima prioridade".

A Somália não tem, atualmente, qualquer autoridade nacional legítima. Os mandatos das instituições federais expiraram em fevereiro deste ano. A Constituição proíbe a sua prorrogação. Ainda assim, existe um acordo tácito de que os titulares permanecerão em função até à eleição de um novo Parlamento e Governo.

"Esse entendimento está muito fragilizado por causa do atraso de meses do processo eleitoral. A Villa Somalia [palácio presidencial da Somália] tem frustrado sistematicamente o processo e tem tentado manipular o modelo eleitoral em seu benefício", disse à DW Matthew Bryden, especialista em questões do Corno de África. "Há o risco de que alguns intervenientes políticos percam a paciência e que o frágil entendimento que atualmente mantém a estabilidade comece a ruir", disse Bryden.

Somalia Gewalt zwischen Regierung und Opposition
A extensão do mandato do Presidente Farmajoo gerou confrontos sangrentos na capitalFoto: Farah Abdi Warsameh/AP Photo/picture alliance

O desafio da insegurança

O grupo extremista somali al-Shabab, que tem ligações àal-Qaeda, já anunciou que pretende estorvar o processo eleitoral. Como se não bastasse, confrontos na província de Galgaduud, no centro da Somália, entre forças regionais apoiadas pelo Exército federal e as ex-aliadas milícias moderadas sufis, mataram mais de 100 pessoas e deixaram outras 200 feridas.

Num comunicado emitido na quinta-feira (28.10), o líder sufi Sheikh Mohamed Shakir Ali Hassan disse que o Governo central destacou mais tropas para Guri-El e usou força excessiva nos confrontos com o grupo.

A violência afetou os serviços médicos no distrito e praticamente destruiu dois hospitais da área. Mais de 100 mil pessoas fugiram para aldeias vizinhas.

"É impossível descrever o nível de destruição causado pelo conflito aqui no distrito de Guri-El", disse o comissário distrital Anas Abdi à DW. "Mas estamos empenhados a fundo em trazer as pessoas afetadas e deslocadas de volta ao distrito, fornecer-lhes assistência e possibilitar a sua sobrevivência", disse Abdi.

A luta contra o al-Shabab

O grupo sufi afirma que assumiu o controle da região para intensificar a luta contra o al-Shabab. Mas tanto o Governo regional como o central acreditam que os líderes do grupo estavam a mobilizar-se para influenciar a administração regional nas próximas eleições.

Somalien Al-Shabab-Kämpfer
O grupo terrorista al-Shabab avisou que vai estorvar as eleições Foto: Getty Images/AFP/M. Abdiwahab

O analista político somali Jay Bahadur realça que as forças anti-terroristas de elite da Somália estão a ser empregadas no combate ao grupo sufi moderado, ele próprio altamente eficaz na guerra contra os extremistas islâmicos. "O mandato constitucional do Presidente da Somália expirou em fevereiro. Desde então ele tem usado as forças de segurança formadas no estrangeiro para se agarrar ao poder", disse Bahadur.

"E agora recorreu ao batalhão Danab - a melhor força de combate ao terrorismo da Somália - para combater uma milícia muito bem sucedida na luta contra o al-Shabab. Isto devia preocupar particularmente os Estados Unidos da América, que investiram somas elevadas no treino e equipamento do batalhão Danab. Quem sai a ganhar com as ações do Presidente é o al-Shabab", acrescentou o autor e pesquisador.

Falta de acordo sobre o processo eleitoral

Os preparativos para as eleições para o senado não avançam. Cinco estados regionais deverão escolher 52 senadores. A Câmara Alta tem um total de 54 lugares.

Além disso, ainda não existe qualquer acordo ou prazo para a solução de aspetos críticos dos procedimentos eleitorais. A indecisão poderá criar mais disputas e atrasos na elaboração da lista de candidatos aos 275 mandatos parlamentares.

A eleição nacional indireta baseada em clãs, um sistema de governação altamente complexo, desenvolvido na Somália nos últimos 20 anos, foi adiada várias vezes, devido a desacordos a nível federal e estadual sobre os procedimentos.