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"Não sou mercadoria", diz militante da UNITA a João Lourenço

2 de outubro de 2020

David Kissadila, membro da UNITA nomeado na semana passada pelo Presidente angolano João Lourenço para integrar a comissão de gestão do Entreposto Aduaneiro de Angola, rejeitou tomar posse.

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Foto: Borralho Ndomba

Em declarações à DW África, o político explica porquê: "Eu não fui consultado se estava disposto ou disponível para assumir o cargo". Também o seu partido, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), na oposição, afirma não ter sido consultado e que tomou conhecimento da nomeação através da imprensa local.

David Kissadila é natural do município do Makela do Zombo, província angolana do Uíge, onde nasceu em 1961. Presentemente ocupa o cargo de ministro do Comércio no Governo sombra da UNITA. Referindo-se à  nomeação desconfia que "havia tendência de se fazer um aproveitamento político".

Essa atitude está a ser elogiada por alguns, sobretudo nas redes sociais, um dos principais espaços de debate de temas da atualidade em Angola. Por exemplo, Quito Henriques escreveu na sua página do Facebook: "David Kissadila é um político (mokongo) que merece respeito". O ativista Hitler Samussuku também elogiou atitude do militante da UNITA na sua página do facebook: "Que nasçam outros David Kissadila".

O dever acima de tudo?

João Lourenço, Präsident von Angola, im Gespräch mit DW
O Presidente João Lourenço terá nomeado David Kissadila sem consulta prévia Foto: DW/M. Luamba

Mas, outros criticam-no. O ativista Kaculo Kabaça escreveu na sua conta na mesma plataforma virtual: "O mais velho da UNITA foi infeliz ao tomar aquela decisão. Isso mostra algo perigoso da UNITA, se amanhã estiver no poder". Virgílio Bunga, um cidadão angolano, escreve: "David Kissadila é antes [de tudo] um cidadão angolano. [Deve] pensar no país e em todas as circunstâncias. Militância é no partido".

Mas o analista e jornalista angolano, Ilídio Manuel, comenta que, se os motivos apontados pelo Kissadila são factuais, então a sua posição tem razão de ser. "Ele tomou a decisão mais acertada. É preciso que as pessoas sejam previamente contactadas para assumir determinados cargos".

Leia mais:UNITA lança farpas ao Presidente João Lourenço

Ilídio Manuel explica que a prática de nomear personalidades para cargos administrativos sem as consultar vem da governação do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

O analista David Sambongo discora e diz que David Kissadila devia, sim, tomar posse, apesar de desconfiar que a  nomeação poderia servir de trunfo ao partido governamental Movimento de Libertação de Angola (MPLA) nas próximas eleições gerais.

"Não obstante a esse elemento que se analisa, o Dr. Kissadila, por ser um quadro do Ministério do Comércio, por ser alguém que tem as competências demonstradas e nesse entretanto seria muito bom se contribuísse com a sua valência, com o seu saber para o desenvolvimento do nosso país".

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Experiência administrativa

Kissadila é inspetor e assessor do Ministério da Indústria e Comércio do Governo de João Lourenço. Licenciado em ciências da educação, no ramo da filosofia, pelo Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), Kissadila tem pós-graduação em agregação pedagógica para professores universitários. Também é mestre em economia na especialidade de políticas económicas e desenvolvimento, pela Universidade Agostinho Neto. E frequenta o 3º ano, do curso de economia na mesma unidade universitária.

Já foi militante do PDP-ANA, partido fundado por Nfulupinga Lando Vitor, assassinado em 2004. Também já militou na Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), criado por Abel Chivukuvuku, em 2012. No Governo anterior, na era de José Eduardo dos Santos, desempenhou as funções de diretor de gabinete de infraestruturas do Ministério da Juventude e Desportos.

David Kissadila diz não temer represálias por ter recusado integrar a comissão de gestão do Entreposto Aduaneiro de Angola. E acrescenta que é preciso mudar o paradigma de nomeação dos quadros dos partidos da oposição. "Para sua promoção ou para sua nomeação tem que ser comprado como se fosse mercadoria. Eu não sou mercadoria para ser vendido".