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O adeus ao ex-chanceler alemão Helmut Kohl

Lusa | Bernd Riegert | mjp
1 de julho de 2017

Pela primeira vez na história da UE, um chefe de Estado foi homenageado com uma cerimónia fúnebre no Parlamento Europeu, em Estrasburgo. O antigo chanceler foi sepultado em Speyer, na Alemanha.

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Trauerfeierlichkeiten für Altkanzler Kohl
Foto: Reuters/F. Lenoir

"Pai" da reunificação alemã e arquiteto do alargamento da União Europeia, Helmut Kohl morreu a 16 de junho, aos 87 anos. Duas dezenas de chefes de Estado e de Governo e várias centenas de personalidades assistiram este sábado à inédita homenagem europeia ao antigo chanceler alemão, no hemiciclo do Parlamento Europeu, em Estrasburgo. 

O caixão, coberto com a bandeira europeia e transportado por oito militares alemães, foi colocado no centro do hemiciclo para a cerimónia. A parte institucional do evento contou com os discursos dos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, e do Conselho Europeu, Donald Tusk. 

"Helmut Kohl era um verdadeiro europeu e um amigo. A Europa deve-lhe muito", afirmou Jean-Claude Juncker. O presidente da Comissão Europeia despediu-se de Helmut Kohl, "um gigante do pós-guerra”, agradecendo em várias línguas no final do seu discurso: "Obrigado. Descansa em paz. Mereces”.

É a primeira vez que a UE organiza uma homenagem do género, em honra de um dos três dirigentes considerados "cidadãos honorários da Europa", disse Juncker. Os outros dois são o francês Jean Monet, que morreu em 1979, e Jacques Delors, de 91 anos.

Manter o legado

No final do seu discurso, a chanceler alemã Angela Merkel curvou-se perante o caixão, coberto com uma bandeira com as cores da Europa e declarou que Helmut Kohl era um grande Europeu e um político de classe mundial. A chanceler mostrou reconhecimento pelas oportunidades que Kohl lhe deu ao escolhê-la para ministra e admitiu que "algumas divergências" os opuseram, mas sublinhou o papel do antigo chanceler na reunificação da Alemanha.

"Sem Helmut Kohl, a vida de milhões de pessoas que até 1990 viviam atrás do muro teria sido completamente diferente. A minha também. Caro chanceler Helmut Kohl, se eu estou aqui hoje, também o devo, em parte, a si", disse Merkel.

Trauerfeierlichkeiten für Altkanzler Kohl
Angela Merkel discursa no Parlamento EuropeuFoto: Reuters/A. Wiegmann

Merkel recordou que pertence a uma geração de alemães que viveu "as noites de terror e de bombas" do nacional-socialismo e que Kohl protagonizou um combate indispensável "por uma Europa onde não houvesse mais guerras". "Milhões de pessoas" estão em dívida para com Kohl, arquiteto da reunificação e grande impulsionador da União Europeia. "Coisas como o euro não existiriam sem ele", disse. A chanceler alemã exortou a atual geração política a "manter o legado" de Helmut Kohl.

Pontes em vez de muros

Um dos outros dos intervenientes na cerimónia, o Presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou Kohl pelas "decisões corajosas" que tomou, "por vezes contra a sua opinião pública", e disse-se disposto a continuar o legado do antigo chanceler na UE. "A História também nos julgará um dia. Terá severamente em conta as concessões que fizermos, os cálculos a curto prazo e os egoísmos nacionais, [mas também] a sinceridade do compromisso com a paz e a amizade dos povos", disse Macron.

"O pragmatismo, o sentido da realidade e a habilidade política são francamente úteis, mas não constroem nada. São os ideais, iluminados pela amizade, que dão corpo aos nossos projetos, que os fazem durar", acrescentou. Macron recordou que Helmut Kohl "preferia as pontes às fronteiras e aos muros" e que, com François Mitterand, lutou pelo "sonho de um destino europeu comum", o qual, frisou, deve ser recuperado pelos atuais dirigentes políticos.

Ludwigshafen Trauerzug für Altkanzler Kohl
Cortejo fúnebre em Ludwigshafen, cidade natal de Helmut KohlFoto: picture-alliance/dpa/F. Rumpenhorst

Vários antigos dirigentes que conviveram com Kohl não puderam assistir à cerimónia por razões de saúde, entre os quais, Jacques Delors, Valery Giscard d'Estaing, Jacques Chirac e Mikhail Gorbachev.

Em representação de Moscovo, o primeiro-ministro Dmitry Medvedev falou do antigo chanceler alemão como um "verdadeiro amigo da Rússia”. Foi com o antigo líder soviético Mikhail Gorbachev que Helmut Kohl negociou a reunificação com a antiga Alemanha de Leste. Em troca, a Alemanha ajudou a Rússia a lidar com as dificuldades económicas. "Ele foi o arquitecto da ordem mundial”, disse Dmitry Medvedev.

Já o antigo Presidente norte-americano Bill Clinton, também presente na cerimónia, destacou a capacidade de Helmut Kohl de estabelecer ligações, colocando a cooperação internacional à frente dos interesses nacionais em momentos-chave da história. "Estamos todos aqui porque Helmut nos deu a oportunidade de participar em algo maior do que nós”, lembrou.

Após a cerimónia fúnebre no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o caixão de Kohl foi transportado de helicóptero para Ludwigshafen, cidade natal do político, de onde partiu, num cortejo com honras militares, para o navio MS Mainz, no rio Reno. Na embarcação, seguiu para Speyer, onde Kohl foi enterrado numa cerimónia privada com familiares e amigos no cemitério da catedral histórica da cidade.