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PolíticaRepública do Congo

O que esperar das eleições na República do Congo?

António Cascais
19 de março de 2021

Presidente Sassou Nguesso, há 37 anos no poder, é o favorito nas eleições de domingo. Oposição aposta no "desejo de mudança" dos cidadãos, mas é realista: "Sabermos que está em marcha o mecanismo de fraude eleitoral".

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Denis Sassou Nguesso Kongo Afrika Präsident
Presidente Denis Sassou Nguesso está no poder há quase quatro décadasFoto: picture-alliance/dpa/A. Ammar

A República do Congo terá no domingo (21.03) uma eleição na qual seis candidatos tentam impedir mais um mandato do Presidente Denis Sassou Nguesso, no poder há 37 anos. Poucos analistas acreditam, entretanto, que isso seja possível. 

Entre os adversários mais sonantes de Nguesso estão o antigo ministro das Finanças, Mathias Dzon, e o antigo candidato presidencial Parfait Kolélas. No entanto, os observadores dão-lhes poucas hipóteses.

"Nguesso está no poder há 37 anos, há mais de sete mandatos. Em 2015, foi submetido a um referendo que lhe deu mais três mandatos de cinco anos cada um. Na prática, isso significa que ele tem mais 10 anos de mandato daqui em diante", opina a jornalista Sadio Kanté-Morel, acrescenta que a eleição será um "exercício com resultado já pré-determinado".

Kanté-Morel não duvida que Nguesso manter-se-á no poder, nem que para isso tenha de recorrer ao uso da força.

Perseguição política

A jornalista fala por experiência própria. Foi forçada a abandonar Brazzaville e a exilar-se em França em 2014 devido à pressão do regime. Kanté-Morel foi perseguida e detida várias vezes por protestar contra o prolongamento do mandato do atual Presidente.

Republik Kongo Die Journalistin und politische Analytikerin Sadio Kanté-Morel
Kanté-Morel foi forçada a abandonar BrazzavilleFoto: Privat

Também a Conferência Episcopal - que já em fevereiro mostrou "sérias reservas" sobre a organização das eleições presidenciais - não acredita num processo transparente.

Para além da falta de observadores eleitorais independentes, aponta que vários candidatos foram excluídos da corrida, o que também é indicativo de que o processo voltará a ser controlado pelo Partido Trabalhista Congolês, de Nguesso. 

Crédulos ou realistas?

Mesmo assim, há quem esteja otimista. O diretor de campanha do candidato da oposição Parfait Kolélas, crê que, desta vez, há uma situação diferente das eleições de 2016.

"As pessoas querem mesmo uma mudança política, por isso irão às urnas em grande número. Ganharemos estas eleições apesar de sabermos que Nguesso já pôs em marcha o seu mecanismo de fraude eleitoral", diz Rodrigue Mayanda.

Kongo Wahlen Mathias Dzon
Mathias Dzon está otimistaFoto: Facebook/Mathias Dzon

O sentimento é partilhado pelo antigo ministro das Finanças, Mathias Dzon, que é agora o candidato da Presidência da União Patriótica para a Renovação Nacional.

"O mundo inteiro sabe que Denis Sassou Nguesso nunca ganhou uma eleição na República do Congo na sua vida. Só tem conseguido vencer à força. Esperamos que desta vez os congoleses digam não a Nguesso", declara Dzon.

Fortemente armado

Um relatório divulgado recentemente pelo Projeto Crime Organizado e Corrupção dá conta que, nos últimos anos, a República do Congo importou "discretamente" 500 toneladas de armas do Azerbaijão, tendo a entrega mais recente sido feita em janeiro deste ano.

Os dados aumentaram ainda mais os receios de que Nguesso possa estar a pensar em assegurar outro mandato com a ajuda do exército.

"Contra quem é que ele vai usar estas armas, contra o seu próprio povo? Desde 2015, a República do Congo comprou um arsenal de armas, 16 carregamentos, mais de 800 toneladas. Estará ele a tentar manter o poder à força?", questiona Kanté-Morel.

Apesar de ser um país rico em matérias-primas, a maioria da população da República do Congo vive na pobreza.

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