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O que mantém Joel Leonardo no Tribunal Supremo de Angola?

José Adalberto
19 de junho de 2023

Suspeito de corrupção e peculato, Joel Leonardo continua a comandar os destinos do Tribunal Supremo angolano, apesar dos muitos pedidos para que se demita. Jurista diz que a lei está do lado do juiz conselheiro.

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O Palácio da Justiça, em Luanda, alberga o Tribunal Supremo de Angola
O Palácio da Justiça, em Luanda, alberga o Tribunal Supremo de AngolaFoto: DW/C.V. Teixeira

Os múltiplos apelos para afastar o presidente do Tribunal Supremo de Angola, Joel Leonardo, têm caído em saco roto. Ainda no início do mês, um grupo de organizações não-governamentais pediu ao partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que tome uma posição sobre a permanência do juiz no cargo após circularem suspeitas de alegado envolvimento em casos de corrupção, má gestão e nepotismo e venda de sentenças, envolvendo pessoas do seu círculo familiar e profissional.

Joel Leonardo nega as acusações e mantém-se na presidência do Supremo. O Presidente da República, João Lourenço, que nomeou Leonardo, apoia o juiz conselheiro.

Para o sociólogo e comentador político Memória Ekulica, é uma questão de interesses. "Joel Leonardo foi indicado pelo Presidente da República de Angola e este, até hoje, é o único que mantém confiança nele. Não é somente por causa do ego ou de interesses pessoais, mas também para satisfazer os interesses políticos existentes."

O que diz a lei?

Várias associações profissionais solicitaram publicamente a abertura de inquéritos às suspeitas contra Joel Leonardo. No final de maio, a Ordem dos Advogados de Angola anunciou inclusive que ia avançar com um processo de afastamento do presidente do Supremo.

Mas o Presidente da República, João Lourenço, voltou a fincar o pé, dizendo que não vê motivos para remover Joel Leonardo do cargo.

Presidente angolano, João Lourenço, não vê motivos para remover Joel Leonardo do cargo
Presidente João Lourenço não vê motivos para remover Joel Leonardo do cargoFoto: Amanuel Sileshi/AFP/Getty Images

Do ponto de vista legal, o Presidente da República está certo, comenta o jurista Serrote Simão. Mesmo que João Lourenço perdesse a confiança no presidente do Supremo, não o poderia afastar.

"A lei prevê a exoneração do juiz presidente do Tribunal Supremo se for condenado numa sentença transitada em julgado. A quebra de confiança política não é condição de afastamento", explica o especialista.

"Compromete o sistema judicial"

O jurista Serrote Simão entende, no entanto, que a continuidade do presidente do Tribunal Supremo no cargo, sem o esclarecimento das suspeitas que pendem sobre ele, descredibiliza o sistema judiciário perante a opinião pública. "Compromete o sistema judicial. Coloca em causa a administração da Justiça angolana", sublinha.

A Ordem dos Advogados exigiu ao Presidente João Lourenço que dê ao caso "Joel Leonardo" o mesmo tratamento dedicado à juíza presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gambôa, sem prejuízo do princípio da presunção de inocência. Gambôa renunciou ao cargo, depois do chefe de Estado angolano a convidar a sair na sequência de suspeitas de corrupção.

Dois pesos e duas medidas? Para o filósofo José Carlos, o que se nota em Angola é que o ego político sobressai em detrimento da defesa da instituições do Estado: "É mesmo a tendência dos homens fazerem-se fortes através das instituições, porque a sociedade vai perder credibilidade nas instituições por causa do indivíduo."

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