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O que Moçambique pode esperar da COP26?

2 de novembro de 2021

Rui Silva espera que países poluidores contribuam com verbas destinadas aos mais vulneráveis às alterações climáticas. Ambientalista vê passos de Moçambique para a redução da emissão de gases, mas "há muito por fazer".

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UN-Klimakonferenz COP26 in Glasgow
Foto: picture alliance/dpa/AP POOL

Moçambique é um dos cerca de 200 países que estão representados na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP26), que arrancou este domingo (31.10) na Escócia. O país tem sido altamente fustigado, por exemplo, por ciclones e é um dos mais afetados pelas alterações climáticas.

Em entrevista à DW, o ambientalista Rui Silva salienta a importância da presença de Moçambique na conferência mundial e explica de que forma o país pode também contribuir para a redução global de emissão de gás.

DW África: O que Moçambique pode esperar da maior cimeira do clima do mundo?

Rui Silva (RS): Eu acho que uma das vantagens da presença de Moçambique na COP26 é justamente o facto de sermos um dos países que menos poluem, mas ao mesmo tempo de sermos um dos mais vulneráveis às alterações climáticas. É importante a presença de Moçambique. Quanto mais não seja também, a par com outros países, fazer alguma pressão em relação principalmente ao grupo dos G20, que representam cerca de 80% da emissão de gases com efeito estufa para a atmosfera. Nesse sentido, obviamente, é extraordinariamente importante a presença de Moçambique na COP26.

Kohlemine Minas Moatize
Carvão em Moatize: "Espero que haja bom senso", diz SilvaFoto: DW/J. Beck

DW África: De que forma é que Moçambique pode contribuir a nível global para a redução da emissão de gases e do impacto das alterações climáticas?

RS: Uma das coisas que nós temos – não só em Moçambique, mas a nível global, e é uma das causas da emissão de gases – é o desperdício de alimentos. Quem me estiver a ouvir há de dizer logo: 'Sim, mas África não é um continente que se dá ao luxo de desperdiçar comida'. O desperdício em África, nomeadamente em Moçambique, passa um pouco pela parte [da cadeia de produção]. Desde o período da colheita de verduras e legumes, uma vez que tem estruturas deficitárias em termos de refrigeração, o que acaba por ser uma forma de os produtos deteriorarem com mais facilidade. Em termos de emissão de gases com o efeito estufa para a atmosfera, este desperdício significa cerca de 10%. Por outro lado, eu acho que Moçambique tem dado passos bastante grandes, embora haja muito por fazer, no sentido da sensibilização da população - junto das crianças nas escolas, que acabam por ser um veículo de educação para os mais velhos.

DW África: Em relação à exploração de gás e carvão mineral, isso também impacta negativamente…

RS: Sim, claro que sim. Um dos principais fatores negativos para as alterações climáticas são os combustíveis fósseis. Nós não podemos tapar os olhos a isto.  No entanto, há de haver um certo equilíbrio. Espero que, com o desenvolvimento da extração de gás, haja bom senso. Embora já está a diminuir bastante a extração de carvão.

Mosambik Mangroven-Baumschule
Imagem de projeto de reflorestação na BeiraFoto: DW/J. Beck

DW África: Um dos objetivos do país na COP26 é mobilizar recursos financeiros para fazer face aos eventos climáticos. É um ponto-chave?

RS: Claro que sim. Nos termos dos acordos de Paris, foi instituída uma determinada verba para colaborar com os países que são mais vulneráveis às alterações climáticas. Nomeadamente, países como o nosso, Madagáscar... Países que têm sofrido com as alterações climáticas. Foi assinado nos acordos de Paris e esperamos que mantenham isso, que os maiores poluidores contribuíssem com uma verba para fazer face aos efeitos negativos das alterações climáticas. Vemos cada vez mais secas e cheias. Tudo isso prejudica, obviamente, a população, quer no cultivo, quer nos seus bens. Nesse aspeto, é importante que o que foi assinado nos acordos de Paris seja cumprido por parte dos maiores poluidores.

DW África: Moçambique recebeu o pagamento de um fundo do Banco Mundial como recompensa pelos esforços na redução das emissões de carbono. Podemos dizer que o país está num bom caminho?

RS: Muito tem-se feito. Está num bom caminho, mas há muito ainda por fazer. Na parte da reflorestação - que tem estado a ser instituída - há um passo importante, mas ainda é muito tímido.

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