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O que vai acontecer ao arquivo da Fundação Mário Soares?

17 de dezembro de 2018

Fundação Mário Soares atravessa uma fase financeira difícil depois da morte do seu fundador em 2017. Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, quer acervos de Amílcar Cabral nos arquivos de Cabo Verde.

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Uma das fotografias de Amílcar Cabral no arquivo "Casa Comum" da Fundação Mário SoaresFoto: casacomum.org/Documentos Amílcar Cabral

A prestigiada Fundação Mário Soares, que guarda um vasto espólio documental sobre a história dos países africanos de língua portuguesa, atravessa um período financeiro bastante crítico, depois da morte do seu fundador a 7 de janeiro de 2017.

Desde que faleceu o ex-Presidente português, Mário Soares, presidente da instituição, os subsídios de que beneficiava caíram para metade, hoje com um saldo negativo de 388 mil euros. Em causa está o destino do espólio nele existente, caso a Fundação venha a fechar as portas.

A saúde financeira da instituição portuguesa inquieta o ex-presidente de Cabo Verde, Pedro Pires - que dirige a Fundação Amílcar Cabral, sediada na cidade da Praia. Recentemente, perante a atual situação da Fundação com o nome do ex-chefe de Estado português, Pedro Pires manifestou publicamente a sua preocupação face ao destino a dar aos escritos originais do "pai" da independência da Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Pires já apresentou a sua inquietação ao atual Chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca."O presidente da Fundação Amílcar Cabral exprimiu-me as suas preocupações, a sua visão das coisas e eu, como Presidente de Cabo Verde e também como presidente em exercício da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e por se tratar de um património que tem a ver também com os países africanos de língua oficial portuguesa, entre os quais Cabo Verde e a Guiné-Bissau, irei informar-me melhor, ter dados mais consistentes para poder saber o que se passa realmente e poder estar mais bem apetrechado para ter uma posição concreta sobre este dossier", disse Jorge Carlos Fonseca.

Präsidenten Marcelo Rebelo de Sousa  Jorge Carlos Fonseca
Presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa (esq.) e de Cabo Verde, Jorge Carlos FonsecaFoto: Cabo Verde Regierung

Destino da Fundação?

Entretanto, já lá vão mais de duas semanas, a DW contactou a direção da Fundação, precisamente com o objetivo de saber qual o futuro da instituição, mas até então sem qualquer resposta. Sabe-se que esta semana a administração voltará a reunir-se com instituições parceiras para discutir o destino da Fundação e dos arquivos documentais nele guardados.

Qual será o destino a dar ao projeto "Casa Comum", aos arquivos da Revolução portuguesa e aos escritos de Amílcar Cabral? A maior parte dos espólios de grandes personalidades do século XX português, da República à resistência à ditadura, bem como das ex-colónias poderá ser transferida para os arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa.

De lembrar que muitos dos documentos são referentes às lutas pelas independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Transferência por doação do acervoOuvido pela DW, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, acredita na continuidade da Fundação Mários Soares, mas propõe a transferência, por doação, do acervo documental de Amílcar Cabral para Cabo Verde.

O que vai acontecer ao arquivo da Fundação Mário Soares?

"Uma ideia que faria sentido era a de - assim como Portugal canaliza esse património para o arquivo nacional português - por exemplo, a Fundação Mário Soares ponderar a transferência de documentação fundamental cabo-verdiana para o arquivo nacional histórico de Cabo Verde, que no fundo representa a presença do património cabo-verdiano ao longo do tempo. Porque tudo que é património de um povo deve estar entregue a esse Estado".

Preservar património histórico

Por sua vez, Jorge Carlos Fonseca também enaltece a importância da preservação do património histórico.

"Que se dê a importância, relevância, visibilidade e utilidade deste património. Isso é que é fundamental, não tanto a titularidade deste património. É que ele sirva como registo de memória da luta pela independência nacional de países como a Guiné-Bissau e Cabo Verde e até da luta pela independência nacional das antigas colónias portuguesas e registo de memória também coletiva de todos nós que estamos neste percurso de construção de uma CPLP mais sólida e mais coesa".

O chefe de Estado cabo-verdiano falou à DW à margem da cerimónia de tomada de posse, no último sábado (15/12), do português Francisco Ribeiro Telles, na qualidade de novo secretário executivo da CPLP, em substituição da são-tomense Maria do Carmo Silveira, cujo mandato termina a 31 deste mês.

 

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