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Opinião: Querelas permanentes não valem a pena

Johannes Beck
Johannes Beck
28 de novembro de 2019

O Presidente cessante, José Mário Vaz, sofreu um desastre na primeira volta das eleições na Guiné-Bissau. Para Johannes Beck, chefe da DW África, o resultado foi consequência da política pouco construtiva de Jomav.

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Johannes Beck é chefe de redação da DW Português para África

O resultado não podia ser mais claro: O Presidente em exercício, José Mário Vaz, sofreu um desastre na primeira volta.

José Mário Vaz, ou "Jomav", foi o primeiro Presidente da história da Guiné-Bissau a cumprir os cinco anos de mandato. Nenhum golpe, nenhuma guerra civil e também nenhuma doença forçaram uma saída antecipada, como aconteceu com todos os seus antecessores.

Mas Jomav perdeu o segundo recorde, a primeira reeleição de um Presidente em exercício desde a independência. Com 12,4% dos votos, só ficou em quarto lugar e ficou fora da segunda volta a 29 de dezembro.

Na minha opinião, Jomav é o único culpado pelo resultado desastroso que obteve. Durante o seu mandato, foi responsável pela instabilidade dos governos: nomeou sete e nove primeiros-ministros. Uma e outra vez, Jomav não manteve compromissos laboriosamente mediados pela CEDEAO, a Comunidade dos Estados da África Ocidental, colocando as animosidades pessoais acima dos interesses do seu país.

No início do mandato, Jomav tinha tudo para dar certo

Mas tudo começou de forma tão promissora há cinco anos. Com Domingos Simões Pereira como primeiro-ministro e José Mário Vaz como Presidente, os dois principais cargos do país eram ocupados pelo antigo movimento de libertação, o PAIGC, que na altura contava também com uma maioria absoluta no Parlamento.

Mas Jomav começou uma guerra com Domingos Simões Pereira, que logo teve de renunciar ao cargo de primeiro-ministro. A causa provavelmente não foram diferenças programáticas, mas sim inimizades entre as duas famílias. A crise permanente que se seguiu paralisa o país até hoje: novos partidos foram fundados por deputados dissidentes, o Parlamento foi incapaz de realizar sessões plenárias durante meses, um primeiro-ministro após o outro teve que tirar o chapéu. No final, tudo culminou quando Jomav instalou um Governo paralelo para além do Governo constitucional.

Problemas não faltam na Guiné-Bissau

E com isso vieram as consequências a nível social: os funcionários do Estado esperam meses pelos seus salários, as escolas estiveram fechadas durante a maior parte do ano letivo e não existe praticamente nenhuma assistência médica convencional nas áreas rurais. Por isso, é compreensível que os cidadãos tenham mostrado o cartão vermelho ao Presidente no dia das eleições!

Domingos Simões Pereira, o eterno rival de Jomav, é agora o favorito na segunda volta das eleições de 29 de dezembro. Ele ganhou 40,1% dos votos na primeira volta do dia 24 de novembro e enfrentará Umaro Sissoco Embaló, outro ex-primeiro-ministro, que obteve 27,7% dos votos. Sissoco foi o candidato do MADEM-G15, um partido fundado por dissidentes do PAIGC.

A mensagem da primeira volta neste país com cerca de dois milhões de habitantes é clara: Os guineenses desejam estabilidade e o fim das querelas constantes! Isto também será o desafio para o próximo Presidente.

Johannes Beck
Johannes Beck Chefe de redação da DW África
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