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Opositor Katumbi de volta à RDC?

Eric Topona | ar
22 de maio de 2017

As autoridades de Kinshasa prometeram prender Moïse Katumbi se ele regressasse à República Democrática do Congo. Mas o opositor no exílio pondera voltar ao país para se preparar para as próximas presidenciais.

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Foto: Getty Images/AFP/F. Scoppa

O opositor congolês Moïse Katumbi, ex-governador de Katanga, vive no exílio na Bélgica desde o ano passado, mas quer regressar a Kinshasa tendo em vista as eleições presidenciais marcadas para novembro deste ano.

O retorno de Katumbi seria no âmbito do acordo de 31 de dezembro de 2016, disse numa entrevista exclusiva à DW África.

Num relatório confidencial, os bispos congoleses solicitaram ao Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Joseph Kabila, para retirar a decisão de prisão imediata do opositor. A Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO) exortou o chefe de Estado congolês a aceitar o "regresso como um homem livre" de Moïse Katumbi, "para que ele possa exercer os seus direitos cívicos e políticos."

Katumbi é acusado pela Justiça congolesa de envolvimento num caso de alegado recrutamento de mercenários e já foi condenado a três anos de prisão por roubo de propriedade. As autoridades congolesas pensam interpelá-lo assim que ele regresse à RDC. Mas o ex-aliado do Presidente Kabila, que se juntou à oposição em 2014, não teme as ameaças.

Kongo Oppositionspolitiker Moise Katumbi
Katumbi: "Sei que vou voltar ao meu país e também sei que o Governo não quer que eu volte"Foto: Reuters/K. Katombe

DW África: Há muitos meses que vive no exílio na Europa. Espera regressar ao seu país um dia?

Moïse Katumbi (MK): Estou injustamente exilado na Europa. O Governo não quer ouvir falar de Moïse Katumbi. Eles estão lá para montar "dossiers" falsos contra Moïse Katumbi e são implacáveis contra a pessoa de Moïse Katumbi. Então, quero regressar para fazer campanha no meu país, porque sei que o acordo de São Silvestre [assinado a 31 de dezembro de 2016] existe e que devem ser realizadas eleições em novembro. Portanto, vou regressar. Queria primeiramente privilegiar o acordo de São Silvestre, para que possa regressar ao meu país como um homem livre.

DW África: Quer voltar para Kinshasa, mas não teme ser preso logo após o seu desembarque no aeroporto de N'djili?

MK: Em primeiro lugar, há o relatório da Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO). Mas não seria a primeira vez que Moïse Katumbi seria levado à Justiça. A primeira vez foi na Bélgica, em 2010, um ano antes das eleições e, nessa altura, ganhei o caso. Duas semanas depois foi na Inglaterra, quando começaram com os relatos falsos sobre mercenários. Se ler o relatório dos bispos, nas suas conclusões, eles falam de uma mascarada. Sei que vou voltar ao meu país e também sei que o Governo não quer que eu volte, porque sou uma pessoa que pode provocar mudanças no nosso país. Este acordo permitiu que o Presidente Kabila permaneça mais um ano no cargo. E o acordo também permitiu a libertação do primeiro-ministro Bruno Tshibala.

DW África: Exatamente, como reage à nomeação de Bruno Tshibala? Os seus amigos do "Rassemblement" pensam que a nomeação não obedece ao acordo de São Silvestre?

MK: Não, a nomeação não segue o acordo de São Silvestre, mas a flexibilização ajudou-o a sair da prisão. Essa mesma flexibilização ajudou Roger Lumbala a regressar ao país, tal como aconteceu com outros presos políticos e outros exilados políticos, com exceção de Moïse Katumbi e Jean-Claude Muyembo.

DW África: Será que os seus amigos do "Rassemblement" ou, de forma mais geral, a oposição têm interesse em que Moïse Katumbi fique no exílio?

MK: No "Rassemblement", nós estamos unidos. Todas as sensibilidades políticas estão lá representadas. Há alguns indivíduos que partiram, talvez por interesses pessoais. Para mim, com o "Rasemblement", o foco agora são as eleições. Temos que respeitar o acordo de São Silvestre da véspera de Ano Novo. Os membros do "Rasemblement" querem que eu regresse à RDC para conduzir a minha campanha, eu sei disso.

DW África: Disse que era contra as manobras do Presidente Kabila de querer torpedear o acordo de São Silvestre. No entanto, o seu irmão Raphaël Katebe Katoto regressou ao país em fevereiro e, aparentemente, parece estar a entender-se com as autoridades. Será que esta atitude do seu irmão fragiliza Moïse Katumbi?

MK: Nem um pouco. Quando pedi a demissão, se ler a declaração na minha conta no Twitter, pode ver que denunciei as manobras do Presidente Kabila. O atual Governo reagiu dizendo que tudo era falso e que o Presidente iria respeitar a Constituição do nosso país. Hoje as pessoas dão-me razão. Em relação ao meu irmão mais velho, ele escolheu o campo do Presidente Kabila, é a sua escolha. Abandonei a maioria presidencial, porque não queria pôr em risco o futuro do povo congolês.

Joseph Kabila
Presidente congolês, Joseph KabilaFoto: picture alliance/dpa/A.Gomber

DW África: As suas relações com Raphaël Katebe Katoto são boas? Ainda fala com ele?

MK: A família continua a ser a família e a política é política. É preciso separar as coisas. Estou no "Rassemblement" e ele foi para o lado da maioria presidencial. No passado foi assim: Eu estava com Kabila e ele estava na oposição. Portanto, a família é a família e não misturo a política com a família.

DW África: Agora que Bruno Tshibala foi nomeado primeiro-ministro e o seu Governo foi formado, contra a vontade do "Rassemblement", o que é que vai fazer para acelerar a máquina com vista organizar a participação nas eleições, incluindo a eleição presidencial?

MK: Essa [nomeação] não é apenas contra o parecer do "Rassemblement", mas contra a vontade do povo congolês, contra a posição da comunidade internacional, contra a opinião de todos. Este é um Governo ilegítimo porque não foi cumprido o acordo de São Silvestre. Por isso, tenho solicitado à União Africana e à comunidade internacional para implementarmos este acordo, para que possamos ter eleições, pelo menos, em novembro de 2017. O Presidente Kabila está a tentar criar insegurança no nosso país, para criar motivos para não organizar essas eleições. Vai ver que eles ainda vão criar uma rebelião no Baixo Congo para não organizar as eleições. Conhecemos as suas táticas. Portanto, para nós, em dezembro, o Presidente Kabila não será mais Presidente da República. Se quer forçar as coisas, isso é problema dele. Pelo menos, agimos de boa fé. Queríamos que o Presidente deixasse o cargo na pequena janela que ainda existe. A 19 de dezembro de 2016, ele poderia ter deixado o poder pela porta da frente e seria um grande homem. Hoje, ainda tem uma pequena possibilidade, ou seja, respeitar o acordo de São Silvestre. Este é o acordo que traz a paz. Este é o acordo que todos nós devemos respeitar pelo bem do nosso país.

Opositor Katumbi de volta à RDC?

DW África: E se a eleição presidencial for realizada em dezembro deste ano, Moïse Katumbi será o candidato do "Rassemblement"?

MK: Serei candidato. Moïse Katumbi assusta muita gente, porque quer mudar o nosso país. Desejo que os congoleses sejam respeitados e que o povo congolês possa desfrutar da sua riqueza.

DW África: Tem expetativas específicas em relação à Alemanha?

MK: A Alemanha é um grande país. É um país que nos ajuda muito. Mesmo quando era governador, guardei muitas boas recordações da Alemanha. Vou pedir à chanceler [Angela Merkel] para impulsionar a aplicação desse acordo - para que a RDC, que hoje está de joelhos, possa sorrir novamente; para as pessoas que estão a tentar bloquear o acordo possam entender que há um tempo para tudo; e para que o Presidente Kabila possa viver a primeira alternância democrática no nosso país e ver como o próximo Presidente vai governar.

DW África: Tem um apelo especial aos seus compatriotas?

MK: Gostaria de pedir aos nossos compatriotas para estarem muito vigilantes, para não aceitarem a distração e, especialmente, para protegerem o acordo, porque é o acordo que nos levará às eleições. Porque hoje, o Governo é capaz de criar instabilidade, à esquerda e à direita. É preciso que esta população nos ajude a impedir o Governo de desestabilizar o nosso país. E eles devem saber que a única salvação para esta democracia são as eleições, que servirão para restaurar a confiança no setor privado e dos nossos parceiros.

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