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ConflitosIémen

Os houthis do Iémen são uma nova ameaça para Israel?

Jennifer Holleis
6 de novembro de 2023

É pouco provável que os ataques aéreos da milícia apoiada pelo Irão atinjam Israel neste momento, mas analistas preocupam-se com os mísseis antinavio e com a instabilidade regional.

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Soldados houthi exibindo os seus últimos mísseis durante um desfile em setembro de 2023Foto: Mohammed Huwais/AFP/Getty Images

De uma perspetiva militar, nenhum dos recentes ataques dos rebeldes houthi do Iémen contra Israel podem ser considerados bem-sucedidos.

Desde o começo do último conflito Israel-Gaza, após os ataques de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas, o sistema de defesa antimíssil israelita intercetou três ataques aéreos com mísseis e drones dos houthis, antes que atingissem Eilat, a cidade mais a sul de Israel.

Contudo, o sucesso dos ataques não importará para o grupo rebelde iemenita, que é parte do chamado "Eixo da Resistência" apoiado pelo Irão, que se opõe a Israel e aos EUA: "Os recentes ataques houthi mostram apenas uma ameaça simbólica ou ilustrativa a Israel", diz à DW Matthew Hedges, um especialista em assuntos do Iémen e Médio Oriente baseado em Londres.

Farea al-Muslimi, pesquisador do Médio Oriente e Norte de África no centro de pesquisa Chatham House, concorda: "Esta guerra é uma oportunidade de ouro para o grupo houthi demonstrar à sua população local a sua posição pró-Palestina, anti-Israel e anti-americana."

Al-Muslimi também notou que os ataques houthi foram de baixo risco: Assim, "é menos provável que Israel responda com uma nova linha da frente substancial", afirmou à DW.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse antes da sua viagem ao Médio Oriente, na quinta-feira passada (02.11), que trabalharia para evitar uma nova escalada do conflito Israel-Hamas depois dos ataques dos rebeldes iemenitas houthi e do Hezbollah, do Líbano, contra Israel.

O Iémen também não está preparado para se tornar uma nova frente. Nove anos de guerra civil, que começou quando os houthis depuseram o Governo iemenita e assumiram o controlo da capital Saana, em 2014, deixaram o país politicamente fraturado e com infraestruturas destruídas. O conflito, que é amplamente considerado como uma guerra por procuração entre a Arábia Saudita e o Irão, também gerou uma das piores crises humanitárias do mundo, de acordo com a ONU.

Jemen, Sanaa | Protest in Solidarität mit dem Angriff auf Israel aus dem Gazastreifen
Milhares de iemenitas em Saana numa manifestação em prol da Palestina depois do ataque de 7 de outubroFoto: Khaled Abdullah/REUTERS

Houthis alimentam a narrativa pan-islâmica

"Embora os houthis queiram unificar o público iemenita em prol da causa palestiniana a nível doméstico, o sinal regional é para criar insegurança e instabilidade na área e distinguir os houthis dos governos árabes que normalizaram os laços com Israel, como os Emirados Árabes Unidos ou o Bahrain, ou daqueles que tentaram fazê-lo, como a Arábia Saudita", diz Hedges.

Os Emirados Árabes Unidos e o Bahrain normalizaram as relações com Israel em 2020 num acordo mediado pelos EUA. A Arábia Saudita parecia seguir o mesmo caminho, mas as conversações com Israel estagnaram desde o conflito Israel-Hamas.

Muitas pessoas no Médio Oriente manifestaram indignação contra Israel pelos bombardeamentos constantes contra Gaza, especialmente devido a uma explosão num hospital, que segundo o Hamas matou centenas de pessoas - Israel nega quaisquer responsabilidades.

Hedges considera que, ao lançar ataques contra Israel, "os houthis pressionam outras comunidades da região a alinharem na narrativa pan-islâmica, segundo a qual os houthis estão a responder aos ataques israelitas contra todos os muçulmanos, e fazendo isso, os houthis lideram o apelo a todos os muçulmanos para que ataquem Israel".

Infrastrutura e armamento

No entanto, apesar do forte investimento do Irão nos mísseis balísticos e drones do grupo, desde 2015, Hedges diz que os "houthis não têm a mesma cadeia de abastecimento que outros mandatários iranianos, como o Hezbollah no Líbano, e são bastante limitados na sua capacidade de longo prazo para levar a cabo esse tipo de operação".

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A guerra entre os houthis apoiados pelo Irão e uma coligação liderada pela Arábia Saudita empurrou o Iémen para uma crise profundaFoto: Khaled Ziad/AFP

Ainda assim, Hedges continua preocupado com as capacidades militares dos houthis. "Eles começaram a usar mísseis submarinos não tripulados, que podem multiplicar a perceção ou o conjunto de potenciais ameaças contra Israel e o Ocidente".

Fabian Hinz, especialista em defesa e análise militar, escreveu recentemente um artigo de análise na página do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, chamando a atenção para "vários tipos de mísseis balísticos e de cruzeiro de origem iraniana nunca vistos antes" num desfile militar houthi em Saana, em setembro, no nono aniversário da tomada da cidade.

"Com ajuda iraniana, os houthis conseguiram construir uma série de foguetes guiados com precisão, mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro de ataque terrestre e capacidades antinavio num período de tempo notavelmente curto", escreveu.

Este conjunto inclui uma versão inédita antinavio do míssil "Tankeel".

"Se estiverem operacionais, tanto a versão anti-navio do Tankeel como a versão antinavio iraniana da "Fateh", com um suposto raio de 400 km, permitirão aos houthis atacar navios no Mar Vermelho bem como partes do Golfo de Aden", disse.

Ainda assim, não está claro até que ponto os mísseis estão operacionais, acrescenta Hinz. Além disso, um acordo mediado pela China para melhorar os laços entre a Arábia Saudita e o Irão, em março de 2023, incluiu uma cláusula sobre a interrupção do fornecimento de armas aos houthis.

"Não se sabe se algum dos acréscimos ao arsenal houthi foram entregues depois da conclusão da détente Arábia Saudita-Irão, em março de 2023", afirmou Hinz.

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