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"Pemba é um alvo de grande valor estratégico"

Nádia Issufo
12 de abril de 2021

Consultora Pangea-Risk alerta para "vazio de segurança" que poderia tornar Pemba exposta a ataques. Analista crê que serviços de inteligência podem antever eventual ataque, mas é impossível ter a "informação completa".

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Mosambik | Palma Cabo Delgado | Kommando Spezialkräfte
Pemba conta com forte presença militarFoto: Roberto Paquete/DW

A capital provincial de Cabo Delgado pode ser o próximo alvo dos terroristas, segundo a previsão de analistas e consultores da Pangea-Risk. Segundo a empresa de análise de risco, "um vazio de segurança permanente na região [de Cabo Delgado] deixa atualmente a capital provincial Pemba e a cidade portuária tanzaniana de Mtwara altamente expostas a ataques de terrorsitas nos próximos meses". A análise foi divulgada no último relatório da consultora.

No entanto, as autoridades moçambicanas já tinham alertado para a infiltração de terroristas entre as famílias deslocadas que chegaram a Pemba após o ataque a Palma, no dia 24 de março.

O especialista em Paz e Segurança, Calton Cadeado, vê Pemba como "um alvo de grande valor estratégico para os terroristas" e adverte que - apesar da grande presença militar moçambicana na capital de Cabo Delgado - um dado ficou claro nos últimos dias: "Não basta ter muita força, o mais importante é ter posicionamento e mobilidade estratégica. Mobilidade tática e rápida para lidar com o problema".

Mosambik Calton Cadeado
Cadeado: "Não basta ter muita força"Foto: Privat

DW África: Estariam os serviços de inteligência moçambicanos capacitados para fazer o rastreio e evitar um ataque?

Calton Cadeado (CC): Agora é fácil dizer não, mas também é fácil dizer sim. Porque há evidências de que os serviços de inteligência conseguem identificar algumas pessoas, conseguem ter a informação sobre a eventualidade de alguns ataques, mas obviamente eles não conseguem ter toda a informação completa. E é impossível que eles tenham a informação completa. Por isso é que podemos dizer que sim e não.

DW África: Acredita que as autoridades moçambicanas estejam a preparar-se preventivamente para um possível ataque terrorista?

CC: Neste momento, o Estado moçambicano, pelas indicações que vêm - pelo menos do discurso oficial, estou a falar do discurso que o chefe de Estado fez nos últimos dias em relação à questão de Cabo Delgado - nota-se que há um interesse muito grande de investir nas Forças de Defesa e Segurança (FDS). Investir mais nas capacidades logísticas e nos meios para atuação - na prevenção, combate, perseguição e resolução dos problemas. Isto já é sinal de que há uma perceção diferente da importância renovada do papel que as Forças Armadas e as FDS - no global, incluindo o SISE e a polícia - devem desempenhar neste momento.

Mas, atenção novamente: mesmo com todos os meios que possam colocar à disposição das inteligências, não é possível ter toda a informação completa para antecipar sempre e a todo o momento qualquer tentativa de ataque que possa estar a ser planeado. Os setores de inteligência até podem ter informações de nomes, de indicações de ataques, mas é impossível ver sempre com precisão quando, onde e como, a que horas é que isto pode acontecer. E há o perigo também da dissimulação de informação. Isto é comum em qualquer parte do mundo onde se lida com a questão de terrorismo. Mas os serviços de inteligência também pecam por uma coisa. Eles não comunicam e também, se calhar, nem deviam comunicar os casos de sucesso que eles conseguiram prevenir determinado tipo de ataque.

DW África: Por mais que estejam empenhadas as forças moçambicanas, elas não têm preparo até agora para lidar com terroristas que eventualmente estejam infiltrados entre a população.

CC: É difícil lidar com isso. Porque - da mesma forma que o Estado tem serviços de inteligência - os grupos terroristas também têm os seus serviços de inteligência. E eles estão a usar dois métodos extremamente eficazes para isto: o aliciamento e o terror. E quer me parecer que é o método do terror que está a tomar mais preponderância neste momento. É que os terroristas se infiltram, fazem chantagens, matam familiares para garantir a lealdade dos seus membros, apoiantes ou simpatizantes - o que significa que há um recrutamento coercivo por via do terror e do medo, usando alvos indiretos.

DW África: As indústrias de exploração de gás representam um núcleo a abater ou a atingir para os terroristas. Pemba representa o poder instituído. Atingir a capital provincial seria apenas para fazer uma espécie de demonstração de força?

CC: Sim. Para eles é um alvo de grande valor estratégico.

DW África: A consultora Pangea-Risk entende que Palma está vulnerável a novos ataques. Contudo, informações veiculadas pela imprensa moçambicana dão conta de que há uma presença robusta do exército moçambicano. Há sinais de que o exército vai baixar a guarda depois de ter Palma sob controlo?

CC: Atenção a um dado que está a ficar claro nos últimos dias. Não basta ter muita força lá, o que é importante ter. O mais importante é ter um posicionamento estratégico e uma mobilidade estratégica da força. Uma mobilidade tática e rápida para poder lidar com o problema. Se não fizermos isso, aquela força será só em número. Mas qualitativamente será uma grande deceção para o Estado.

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