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Pessoal médico protesta em silêncio em Maputo

Leonel Matias (Maputo)4 de junho de 2013

Há três semanas em greve, médicos e outro pessoal de saúde voltaram a sair às ruas. Prometem manter a paralização até que haja melhoria salarial e a aprovação do Estatuto Médico. Grevistas criticam silêncio do governo.

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Hospital Central de Maputo
Hospital Central de MaputoFoto: DW/J. Beck

Com as bocas tapadas com fita-cola ou pedaços de tecido, médicos e outro pessoal de saúde percorreram as principais artérias de Maputo, a capital moçambicana.

Paulo Samo Gudo, porta-voz da Associação dos Médicos, explica o simbolismo do ato: “nós estamos a receber, por parte do governo, um silêncio ensurdecedor, numa altura em que está mais do que claro que a situação do país não é satisfatória”.

Para os médicos moçambicanos, não chega como resposta nem o silêncio do governo nem um “não”. “Não podemos receber informações como não há dinheiro ou vocês devem voltar a trabalhar, quando sabemos quanto é que os deputados recebem ou quanto recebe o Técnico Superior da Autoridade Tributária. Então, se nós temos o mesmo nível de formação e algumas destas posições até têm trabalhos ligeiramente mais leves que os nossos, não é justo que para nós não haja dinheiro”, contesta o porta-voz da Associação dos Médicos.
Os profissionais de saúde moçambicanos, em greve desde 20 de maio, rejeitam o aumento de 15% de salário decretado pelo governo, exigindo um aumento de 100%, a subida de 35% no subsídio de risco e a aprovação do Estatuto Médico pela Assembleia da República.

De lembrar que, atualmente, o salário base dos médicos moçambicanos ronda o equivalente a 500 euros mensais. O executivo refere que é incapaz de atender às reivindicações, defendendo um aumento faseado dos ordenados dos profissionais da saúde.

Esta não é a primeira vez que o pessoal médico entra em choque com o governo. Já em janeiro último, os médicos paralizaram, exigindo precisamente o aumento de salários.

Grevistas alteram percurso devido à polícia

Os grevistas tinham programado realizar a marcha até ao Centro de Manutenção Física António Repinga, na baixa de Maputo, próximo da sede do governo, mas foram aconselhados pela polícia a não fazê-lo.
Naquele local, têm-se concentrado, todas as terças-feiras, há vários meses, desmobilizados de guerra que exigem a revisão do seu subsídio. Esta concentração dos desmobilizados, várias vezes reprimida pela polícia no passado, coincide com a sessão semanal do Conselho de Ministros.

Assim, o pessoal de saúde em greve partiu da sede da Associação Médica de Moçambique e acabou por seguir pela Avenida Eduardo Mondlane até à Praça da Paz, onde apelou à solução imediata das suas reivindicações.

Médicos culpam governo pelo estado da saúde

O porta-voz da Associação dos Médicos avalia negativamente o impacto da greve, que dura há 15 dias: "o impacto esperado e que se tem estado a verificar no terreno é que a qualidade e o acesso aos serviços de saúde estão ser extremamente prejudicados por esta greve”.
No entanto, Paulo Samo Gudo atira as culpas ao executivo, considerando que o “prejuízo está a ser prolongado pela falta de diálogo e de negociação pelo qual o governo se está a pautar”.

Os profissionais de saúde e o executivo avaliam, contudo, de forma diferente as consequências da greve. A Associação Médica de Moçambique defende que a paralização convocada tem a adesão de mais de 90% dos profissionais. Por outro lado, o Ministério da Saúde garante que as unidades de saúde estão a funcionar normalmente.

De acordo com a imprensa moçambicana, a Associação Médica de Moçambique pediu ao executivo, na segunda-feira (03.06), a substituição do pessoal que integra a equipa das negociações do lado do Ministério da Saúde.

Guebuza diz que não governa apenas para médicos

Entretanto, na sua primeira reação pública à greve, o Presidente Armando Guebuza apelou, esta terça feira (04.06), aos médicos para retomarem o trabalho: “nós esperamos que eles compreendam, um dia, e se juntem à família, abracem a família para tratar os nossos doentes, para não termos mortos que poderiam não existir, que se poderiam evitar”.
Sem dar a entender se fará ou não cedências às reivindicações dos médicos e do restante pessoal de saúde, Guebuza lembra que “Moçambique tem 22 milhões de pessoas. Quem está no governo tem de se preocupar com os 22 milhões”.

O Presidente moçambicano falava a estudantes moçambicanos, em Seul, no quadro de uma visita de três dias que iniciou, esta terça-feira (04.06.) à Coreia do Sul.

No primeiro dia da visita, Armando Guebuza foi recebido pela sua homóloga sul-coreana, Park Geun-Hye. Os dois chefes de Estado pretendem reforçar as relações bilaterais, em particular, em termos económicos.

O Presidente Guebuza irá participar num fórum de negócios, organizado pela Associação Industrial coreana, no qual está prevista a assinatura de um memorando de entendimento entre a Federação Industrial da Coreia e o Centro de Promoção de Investimentos de Moçambique.

Pessoal médico protesta em silêncio em Maputo

A qualidade dos serviços de saúde piorou com a greve, constata o porta-voz da Associação dos Médicos de Moçambique
A qualidade dos serviços de saúde piorou com a greve, constata o porta-voz da Associação dos Médicos de MoçambiqueFoto: Estácio Valoi
Presidente Armando Guebuza apela aos médicos para voltarem ao trabalho
Presidente Armando Guebuza apela aos médicos para voltarem ao trabalhoFoto: picture-alliance/dpa
Hospital Central de Maputo
Hospital Central de MaputoFoto: DW/J. Beck