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'Plano Marshall' para África é apresentado oficialmente

Daniel Pelz | gcs
19 de janeiro de 2017

O ministro do Desenvolvimento da Alemanha apresentou a sua estratégia para a cooperação com os países africanos inspirada na reconstrução europeia após a Segunda Guerra Mundial. Empresários e analistas continuam céticos.

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Ministro alemão Gerd Müller durante encontro com agricultores nigerianos, em junho de 2014Foto: picture alliance/dpa/H. Hans

Combater a pobreza em África não é só uma obrigação moral, é também algo que interessa a países ricos como a Alemanha, afirmou o ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller ao apresentar o esperado "Plano Marshall" para África em Berlim.

"A Alemanha e a Europa têm interesse em salvar vidas, em limitar os efeitos das mudanças climáticas e em evitar 'refugiados do clima', para prevenir a migração em massa e ajudar a criar um futuro para a juventude africana", disse Müller.

O plano apresentado pelo ministro, de 33 páginas, propõe um "novo nível" de cooperação entre iguais, entre África e os países ocidentais, em áreas como a educação, comércio, empreendedorismo e energia. Defende ainda o fim de transações financeiras ilícitas e da evasão fiscal por parte de empresas multinacionais, e que as exportações africanas possam ter melhores condições de acesso ao mercado europeu.

Segundo o documento, os Governos africanos também têm um papel a desempenhar na luta contra a corrupção e devem ainda assegurar a boa governação e a melhoria da situação das mulheres. O ministro alemão estima destinar 20% dos fundos para o desenvolvimento em África para países que levem a cabo as reformas necessárias.

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Ministro alemão Gerd Müller pede mais investimento privado em ÁfricaFoto: Deutsche Bank AG

Inspirado na reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial

O ministro alemão de Desenvolvimento chama a sua proposta "Plano Marshall" para África para lembrar a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial.

O Plano Marshall original foi o principal plano dos Estados Unidos da América para reconstruir os países europeus depois das devastações da guerra de 1939 a 1945. O plano foi oficialmente chamado "Programa de Recuperação Europeia", mas ficou mais conhecido pelo nome do Secretário do Estado dos Estados Unidos, George Marshall. Nos anos 50 do século passado, os investimentos maciços de mais de 13 mil milhões de dólares causaram um forte crescimento da economia alemã.

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Um dos investimentos com fundos do Plano Marshall foi a reconstrução de uma fábrica de vidro na cidade alemã de MainzFoto: picture-alliance/dpa

Empresários continuam céticos

O plano de Müller para África apela ainda a um papel mais preponderante do setor privado.

"Precisamos de uma nova dimensão de financiamento privado em África", afirmou Müller, acrescentando que os fundos públicos para o desenvolvimento deveriam ser um "catalisador" de investimentos privados adicionais.

O ministro propõe várias medidas para atrair mais investimentos, incluindo garantias de crédito à exportação. Pede ainda aos líderes africanos que aumentem a coleta fiscal, para ter mais fundos disponíveis.

Até agora, só 1.000 das 400.000 empresas alemãs estão presentes em África. A corrupção, a instabilidade política e a burocracia excessiva são alguns dos obstáculos aos investimentos no continente citados pelos líderes empresariais.

"As propostas para facilitar a mobilização de capital privado e a maior participação privada no continente fazem sentido", diz Christoph Kannengießer, presidente do "Afrika-Verein", uma associação de empresas alemãs com negócios em África.

"Mas, infelizmente, o plano Marshall continua a não especificar medidas e instrumentos concretos. A comunidade empresarial está à espera que esses instrumentos sejam desenvolvidos, para os podermos usar", adiantou.

Afrika Kanzlerin Merkel besucht Niger
Interesse político em África aumenta. Na foto, chanceler alemã Angela Merkel (esq.)Foto: Reuters/T. Djibo

Uma questão de dinheiro

Em Berlim, muitos especialistas questionam se a estratégia do ministro será implementada. Várias questões não estão nas mãos do Ministério alemão do Desenvolvimento – temas como as melhores condições de acesso para produtos africanos teriam de ser discutidos pela União Europeia.

O plano de Müller carece ainda da aprovação de outros ministros. Alguns começaram a delinear as suas próprias estratégias para África.

A Alemanha detém atualmente a presidência do G20, grupo que integra as maiores economias mundiais - África deverá ser um dos focos na agenda.

"Espero que os ministérios relevantes possam desenvolver um conceito coerente sob a liderança do gabinete da chanceler e discuti-lo com os outros membros do G20", afirma Robert Kappel, especialista alemão em assuntos africanos. "Ações individuais não chegam", salienta.

Kappel diz que o plano do ministro alemão do Desenvolvimento é uma contribuição importante para debater uma nova estratégia internacional de cooperação com África, mas a sua implementação depende da mobilização de fundos suficientes.

"A questão crucial é juntar o dinheiro. É preciso falar sobre os fundos necessários, mas essa não é apenas uma tarefa do ministro do Desenvolvimento."