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PolíticaSudão

Cartum: Polícia lança gás lacrimogéneo contra manifestantes

AFP | Lusa | bd
19 de dezembro de 2021

A polícia sudanesa disparou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar milhares de manifestantes reunidos no exterior do palácio presidencial em Cartum. Os manifestantes cantaram "O povo quer a queda de Burhane".

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Sudan Khartoum | Protesten gegen den Militärputsch
Foto: AFP/Getty Images

Dezenas de milhares de pessoas reuniram-se para assinalar o terceiro aniversário dos protestos em massa que levaram à expulsão do antigo homem forte do Sudão, Omar al-Bashir, e para exigir um poder civil.

Os manifestantes cantaram "O povo quer a queda de Burhane", referindo-se ao general Abdel Fattah al-Burhane, que liderou um golpe de Estado a 25 de outubro.

Estas manifestações surgem três anos após o início da "revolução" no Sudão que derrubou Omar al-Bashir depois de 30 anos de ditadura.

Depois do golpe e uma repressão que desde então já provocou 45 mortos e centenas de feridos, os defensores da "revolução" anti-Bashir querem reavivar um movimento que se esgotou entre os 45 milhões de sudaneses atolados pela inflação de mais de 300%.

Em 19 de dezembro de 2018, perante a estagnação económica em que o Sudão de Bashir, sob embargo internacional, foi mergulhado, centenas de milhares de sudaneses manifestaram-se, obrigando o exército a retirar o ditador quatro meses mais tarde.

Os sudaneses escolheram este dia porque na mesma data, em 1955, o Parlamento do país, ainda sob o domínio britânico, tinha proclamado a independência.

Sudan Khartoum | Protesten gegen den Militärputsch
Protestos no SudãoFoto: AFP/Getty Images

Marcha contra "ocupação"

Na sequência do que chamam de "ocupação" dos militares, apoiantes do Governo civil apelaram a manifestações deste domingo (19.12) contra o exército, cujo oficial superior, o general Burhane, liderou o golpe que restaurou o domínio dos militares.

"Estamos hoje perante um grande retrocesso na marcha da nossa revolução que ameaça a segurança, a unidade e a estabilidade do país e corre o risco de conduzir o Estado a um abismo que não nos deixará nem uma pátria nem uma revolução", disse no sábado o primeiro-ministro civil, Abdallah Hamdok.

A polícia de choque foi destacada para os principais cruzamentos em Cartum, enquanto as autoridades sudanesas fecharam pontes que ligavam o centro da capital aos subúrbios a oeste e norte.

Todas as estradas em redor do quartel-general do exército no centro da cidade foram também fechadas com arame farpado e blocos de betão, de acordo com um jornalista da AFP.

"O golpe cortou o caminho para a transição democrática: com ele, os militares assumiram o controlo total da vida política e económica", disse Ashraf Abdelaziz, editor do diário independente "Al-Jarida", à AFP.

Sudan Khartoum | Protesten gegen den Militärputsch
Foto: AFP/Getty Images

Muito antes do golpe, Cartum reconheceu que 80% dos recursos do país ainda não estavam sob o seu controlo. Ninguém sabe quanto da economia está nas mãos dos militares, mas eles controlam muitas empresas que vão desde a avicultura à construção civil.

Formação de Governo

Com o golpe e a retirada da ajuda internacional como retaliação, Abdelaziz diz, "o aparelho de segurança prevaleceu sobre as instituições políticas. Mas para realizar uma transição democrática, a política deve ser a força motriz.

O exército restabeleceu Abdallah Hamdok e prometeu eleições livres em julho de 2023, mas ainda não formou um Governo. A fação pró-civil, que acusa Hamdok de "traição", está a lutar para emergir politicamente: profundamente divididos antes do golpe, continuam a discordar.

Para Khaled Omer, um ministro deposto no golpe e membro das Forças para a Liberdade e Mudança (FLC), o ponta de lança civil da "revolução", o golpe proporciona "uma oportunidade para corrigir os defeitos do sistema anterior". Esta equipa tinha reunido em 2019 sob a mesma bandeira anti-Bashir civis, militares e paramilitares, aos quais se juntaram em 2020 rebeldes de regiões remotas do país.

No Sudão, onde os conflitos ceifaram centenas de milhares de vidas durante décadas, os observadores advertem, com, oficialmente segundo Cartum, cinco milhões de armas em mãos civis.

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