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Presidente de Angola na China pela quarta vez em 27 anos

António Rocha / Lusa8 de junho de 2015

O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, iniciou esta segunda-feira (08.06) uma visita de seis dias à China, a quarta no espaço de 27 anos. Deve ser negociado um pacote financeiro para "enfrentar as dificuldades".

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Construção em Luanda a cargo de uma empresa chinesaFoto: DW/C.V. Teixeira

Fontes dos dois países consideram esta visita do estadista angolano a Pequim como destinada a "injetar novo impulso" nas relações bilaterais. O programa oficial, incluindo a cerimónia de boas vindas, no Grande Palácio do Povo, só começa na terça-feira (09.06).

Segundo um porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros citado pela agência de notícias Lusa, "vários acordos de cooperação" serão assinados durante a visita, mas não adiantou pormenores. A Angop, a agência angolana de notícias, anunciou que os dois países vão negociar "um novo pacote financeiro para enfrentar as dificuldades" criadas pela redução do preço mundial do petróleo.

Por outro lado, o programa da estadia da delegação angolana inclui um seminário empresarial com cerca de 200 participantes e uma viagem num comboio de alta velocidade até Tianjin, o maior porto do norte da China, a cerca de 150 quilómetros de Pequim.Entretanto, em Luanda, esta visita é comentada pelos vários partidos políticos da oposição.

Alcides Sakala Berlin
Alcides Sakala, porta-voz da UNITAFoto: Cristiane Vieira Teixeira

A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição em Angola, considera que as relações entre Estados são normais e que entre Luanda e Pequim essas relações são importantes tendo em consideração que a China é uma "potência do futuro". Contudo, Alcides Sakala defende, em entrevista à DW África, que deveria haver mais transparência nessa parceria estratégica.

"Entendemos que para o estabelecimento de parcerias estratégicas há uma necessidade de muita transparência". Portanto, sublinha, "eventuais acordos que venham a ser assinados agora entre a China e Angola tinham de passar necessariamente pela Assembleia Nacional para que os angolanos e os seus deputados tenham conhecimento dos termos destes mesmos acordos.

Alcides Sakala considera "muito perigoso passar-se um cheque em branco. Daí a necessidade de haver transparência no estabelecimento dessas parcerias, sobretudo com países que tenham uma importância grande no mundo como é o caso da China. A ausência de transparência potencia a corrupção."

Transparência para evitar especulações

Questionado se um eventual pacote financeiro da China para Angola seria discutido e assinado com o objetivo de Luanda poder enfrentar as dificuldades de tesouraria criadas pela redução do preço do petróleo, Alcides Sakala disse que se trata de um assunto que se fala em Angola.

Abel Chivukuvuku und Mendes de Carvalho eröffnen Wahlkampf der Oppositionspartei CASA-CE
Mendes de Carvalho (de camisa preta), líder parlamentar da CASA-CEFoto: Quintiliano dos Santos

Por isso, chama a atenção das autoridades "porque a China não é um país qualquer, é um país com vocação mundial e portanto terá que haver uma abordagem séria do assunto para que Angola não fique hipotecada aos interesses da China numa perspectiva global".

O porta-voz da UNITA vai mais longe ao afirmar que "já se especula em Luanda que em contrapartida Angola quer ceder à China parte do território do Cuando-Cubango. Precisamente para se evitar todo o tipo de especulações há necessidade de facto de muita transparência no estabelecimento desses acordos."

Falta de transparência de créditos

Para Mendes de Carvalho, líder parlamentar da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), estas relações, sobretudo no que toca a questões financeiras, nunca são suficientemente abertas para que os partidos e a sociedade civil em Angola possam opinar de forma clara.

Cidade do Kilamba - Kilamba Kiaxi Übersicht
A Cidade do Kilamba contou com a participação de empresas chinesas de construção civilFoto: cc by sa Santa Martha

"Os meandros das relações financeiras, sobretudo com a China, nunca são do conhecimento do público em geral", afirma Mendes de Carvalho. "Porque não conheço os detalhes da visita do Presidente angolano à China, devo dizer contudo que se trata de uma medida positiva para as relações entre povos e países.

Além disso, refere, "a China é um dos principais financiadores da economia angolana e nem sempre esses dinheiros são emprestados nas condições mais adequadas e sobretudo a sua utilização, é muito opaca." Mendes de Carvalho destaca, por outro lado, o papel preponderante da China na reconstrução de Angola porque "é um dos principais financiadores quer da economia angolana quer da reconstrução do próprio país e na criação de infraestruturas novas. Mas em que condições esses créditos são adquiridos e principalmente a falta de transparência na sua aplicação é isso que nos preocupa."

Sobre um eventual financiamento por parte da China para que Angola resolva a crise de tesouraria, o dirigente da CASA-CE afirma que se for verdade não se justifica. "É verdade que existe uma baixa considerável no preço do petróleo no mercado internacional, mas isto é recente. Se tivermos em conta que no passado o preço do barril esteve durante vários anos acima dos cem dólares e ao longo desse tempo foi constituído uma reserva - e muitos desconhecem a verdadeira aplicação dessa reserva - ficamos sem perceber que haja de facto um défice de divisas dentro do país", defende.

Compromissos que não comprometem o futuro

Já Lucas Ngonda, da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), destaca que quando terminou a guerra civil em Angola foi realizada uma conferência de doadores internacionais em Luanda e muitos poucos países decidiram ajudar Angola de forma concreta. A China foi o país que se prontificou a ajudar Angola, tendo sido desencadeada na altura uma cooperação preferencial com a assinatura, em 2010, de um acordo de "parceria estratégica global" entre Pequim e Luanda.

FNLA
Bandeira da FNLAFoto: gemeinfrei

Lucas Ngonda destaca ainda que se hoje Angola é um país praticável através de estradas e se os caminhos de ferro foram reabilitados, tudo isso se deve ao empenho da China. "Com a sua tecnologia a China consegue resolver alguns problemas de base que a África tem", sublinha.

"Penso que esta deslocação à China do Presidente José Eduardo dos Santos vá aprofundar as relações que já existem desde a altura em que Angola deu início à batalha de reconstrução nacional e abrir novas perspetivas. Acho que a visita é uma forma do Governo resolver os problemas do país. Poderão ser contraídas dívidas que certamente irão comprometer gerações. Pelo facto gostaríamos que esses compromissos fossem assumidos mas sem comprometer o futuro de Angola. Só assim essa cooperação pode ser positiva".

A China absorve cerca de metade do petróleo exportado por Angola, mas devido à acentuada queda dos preços daquela matéria prima no mercado mundial, no primeiro trimestre deste ano, o valor das exportações angolanas para a China caiu 50,3% em relação a igual período de 2014.

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