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Lula da Silva em África para promover política brasileira

Astrid Prange De Oliveira | Nilson Brandão
14 de fevereiro de 2024

A deslocação do Presidente Lula da Silva ao Egito e à Etiópia insere-se na estratégia brasileira do reforço de laços com África, para dar mais voz aos países emergentes e não industrializados.

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Presidente do Brasil Lula da Silva na chegada à cimeira dos BRICS em Joanesbugo em agosto de 2023
África é um elemento crucial na estratégia geopolítica do Presidente Lula da Silva Foto: Ricardo Stckert/Brazilian Presidency/AFP

O chefe de Estado brasileiroLuiz Inácio Lula da Silva chega hoje ao Egito para uma visita de dois dias, finda a qual seguirá para a Etiópia - dois países que aderiram ao grupo de economias emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no início do ano.

O atual presidente do G20 é convidado de honra na cimeira de dois dias da União Africana (UA) que se realiza em Adis Abeba, no próximo fim de semana.

"As boas relações com África são fundamentais para a perceção internacional do Brasil", disse à DW Gelson Fonseca, diretor do Instituto de História e Documentação Diplomática (CHDD) do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Segundo o diplomata, muitos países do continente africano registam elevadas taxas de crescimento económico. Sua importância geopolítica está aumentando. É por isso que é importante para o Brasilaprofundar as suas relações com África", explica. O Presidente do Brasil esteve em Angola em agosto de 2023.

"A visita de Lula ao Egito e à Etiópia faz sentido. Pode ajudar a revitalizar a importância das relações diplomáticas entre o Brasil e África", diz Maurício Santoro, especialista em relações internacionais da Universidade do Rio de Janeiro.

Mas, adverte: "Houve um golpe militar no Egito e há uma guerra civil na Etiópia", pelo que convém não ter expetativas muito elevadas para aquilo que a viagem de Lula poderá alcançar.

Em agosto, Lula da Silva encontrou-se em Luanda com o seu homólogo João Lourenço
Em agosto, Lula da Silva encontrou-se em Luanda com o seu homólogo João LourençoFoto: Ricardo Stuckert/Brazilian Presidency/AFP

Simpatias africanas

O Brasil evocaassociações positivas para muitas pessoas no continente africano. Ao contrário da Inglaterra, França e Alemanha, o país não é visto como uma potência colonial.

O Brasil, que  já foi colónia de Portugal, é o país com a maior população negra fora de África. Partilha com muitos países africanos o legado traumático da escravatura imposta por Portugal. Atualmente a nona maior economia do mundo, o Brasil é considerado um modelo a seguir em muitos aspetos económicos e sociais.

O Presidente tem, por isso,  garantida uma receção favorável na cimeira da UA, de 17 a 18 de fevereiro, em Adis Abeba.

Mas não obstante o bónus de simpatia e os laços históricos com muitos países do continente africano, regista-se um declínio significativo da influência económica e política do Brasil vive no continente.

A ONU já não é o que era?

Menos comércio

Ao contrário da China e da Rússia, que expandiram continuamente as suas relações na região nos últimos dez anos, a importância económica do Brasil diminuiu. O comércio externo com o continente caiu de 28 mil milhões de dólares para 21 mil milhões de dólares entre 2013 e 2023.

Em comparação, o comércio externo com a China totalizou 157 mil milhões de dólares em 2023, de acordo com o Ministério do Comércio do Brasil. As importações e exportações entre a Alemanha e o Brasil situam-se nos 19 mil milhões de dólares americanos.

As razões que levaram o Brasil a afastar-se de África são múltiplas e incluem a atual crise económica no país e as repercussões do escândalo de corrupção "Lava Jato".

O escândalo envolveu acusações de corrupção contra empresas de construção brasileiras em mega projetos em países africanos. Acresce que o anterior Presidente do Brasil, Jaír Bolsonaro, mostrou um completo desinteresse pelo continente.

A presença de Lula da Silva na cimeira da UA em Adis Abeba é um sinal forte o regresso à sua política africana.

"Em setembro de 2023, a UA aderiu ao G20 com o apoio do Brasil", explicou Flávio Luís Pazeto, secretário de Estado do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamary), à agência de notícias Agência Brasil.

Imagem de uma favela no Brasil
No Brasil e no mundo volta a crescer a pobrezaFoto: FABIO TEIXEIRA/AA/picture alliance

O regresso de fome e pobreza 

Durante a sua presidência do G20, o Brasil irá assegurar que "as questões que são do interesse de África sejam colocadas na agenda do G20", disse Pazeto à DW. Uma dessas questões é a luta global contra a fome e a pobreza.

O Brasil é um caso de sucesso neste domínio. Os programas sociais lançados na década de 1990 e reforçados durante os dois primeiros mandatos de Lula da Silva (2003 a 2010) contribuíram significativamente para a redução da pobreza no país.

De acordo com o instituto brasileiro de estatísticas IBGE, em 2003, cerca de 44 milhões dos 182 milhões de habitantes do Brasil sofriam de fome, ou seja, cerca de um quarto da população. Em 2009, essa proporção caiu para pouco menos de seis por cento da população total de 194 milhões, cerca de onze milhões de pessoas.
Mas a situação deteriora desde 2016. Em 2022, 33 milhões de brasileiros voltaram a sofrer de fome, cerca de 16% da população.

O número de pessoas afetadas pela fome e pela pobreza aumenta também a nível mundial. De 585 milhões em 2016, o número passou para 735 milhões em 2022. No ano passado, mais de o número de 800 milhões pessoas passaram fome no mundo.