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Projeto ProSavana em Moçambique visa garantir segurança alimentar do Japão, diz especialista

Mendonca Estarque, Marina30 de setembro de 2013

Para pesquisadora, o ProSavana, projeto de desenvolvimento agrícola de iniciativa japonesa, brasileira e moçambicana, tem por fim assegurar as exportações de grãos, principalmente de soja, para o país nipônico.

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O objetivo do Japão com projetos de cooperação na África, como o ProSavana no norte de Moçambique, é garantir a oferta de alimentos para consumo dos japoneses, afirma a pesquisadora da Universidade de Estudos Estrangeiros de Tokio, Sayaka Funada-Classen.

O ProSavana, que pretende fomentar o desenvolvimento agrícola no corredor de Nacala, foi lançado em 2011 pelos governos do Brasil, Japão e Moçambique. Deve ser implementado em 19 distritos no norte do país, que ocupam uma extensão total de cerca de 11 milhões de hectares, uma área maior que o território do vizinho Malawi.

O ProSavana, em Moçambique, não é o primeiro projeto de cooperação japonesa para desenvolver a agricultura em países do sul. Houve um antecessor no Brasil, o PRODECER, na década de 70.

Crises mundiais de alimentos impulsionam projetos do Japão no sul

A professora defende que a origem destes empreendimentos foram as crises mundiais de alimentos de 1973 e 2008. Nestes períodos, o preço dos grãos, principalmente, teve uma alta vertiginosa, levando muitos países, como os Estados Unidos da América, a restringir as exportações de alimentos.

"A primeira concepção do PRODECER nasceu em 1973, quando os EUA colocaram um embargo nas suas exportações de grãos", conta Sayaka Funada-Classen.

Segundo ela, o Japão foi especialmente afetado por essas crises, já que é muito dependente da importação destes produtos, devido à sua alta densidade populacional e a escassez de terras livres e adequadas para o cultivo.

"O nosso país depende das importações de alimentos, especialmente de grãos, como a soja. Neste caso, nós dependemos totalmente das importações", afirma a professora.

Júlio Inoue, coordenador de projetos da Agência de Cooperação Internacional do Japão, Japan International Cooperation Agency - JICA, no Brasil, também afirma que o PRODECER visava garantir novos mercados de grãos. "Na época, por motivos de alterações climáticas, houve uma pequena produção de grãos nos EUA", diz.

Inoue afirma que o Japão, temendo o corte de suprimentos, decidiu buscar outros mercados fornecedores."Como não havia, resolveu incentivar projetos de produção de grãos, como o PRODECER aqui no Brasil", explica.

Problemas ambientais e sociais

A pesquisadora Funada-Classen diz que, apesar das consequências sociais e ambientais negativas do PRODECER, o programa é avaliado positivamente. "O PRODECER enfrentou todo tipo de problemas, mas devido ao aumento no preço dos alimentos nos últimos anos, agora é considerado uma história de sucesso pelo Governo japonês", defende ela. "Essa é a razão pela qual eles começaram a pensar em promover uma cooperação internacional do tipo do PRODECER na África, como o ProSavana", conclui.

Sayaka Funada-Classen, professora da Universidade de Estudos Estrangeiros de Tokio, afirma que o PRODECER e o ProSavana são apresentados como projetos cooperação internacional, como forma de promover a imagem japonesa no exterior.

Segundo ela, no entanto, o principal foco dos projetos é o investimento agrícola em terras estrangeiras: "a prioridade do ProSavana na fase inicial, antes de ser criticado pelas organizações e associações locais, era claramente o investimento".

Funada-Classen defende que o ProSavana não visava beneficiar os pequenos agricultores em Moçambique: "É interessante, o programa não era um plano para apoiar os fazendeiros moçambicanos, como foi dito recentemente. Ao contrário, foi criado nesse contexto internacional e com a intenção do Japão em se autopromover", afirma. Para ela, o ProSavana é apresentado como "uma contribuição do Governo japonês para a África e o Mundo".

Em Moçambique, existe uma preocupação de que o ProSavana implemente, com a ajuda do Japão, o modelo de latifúndios monocultores, voltados para o mercado externo, como ocorreu no PRODECER, no Cerrado brasileiro. Atualmente, as áreas de implantação do projeto em Moçambique são ocupadas principalmente por pequenos agricultores.