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Protesto em Angola volta a terminar em violência

Glória Sousa28 de julho de 2014

Bloco Democrático denuncia repressão a manifestantes que protestavam no sábado (26.07) contra maus-tratos a vendedoras de rua. O secretário-geral do partido da oposição critica a abordagem "anti-democrática" da polícia.

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Polícia angolana durante protesto em novembro de 2013, em LuandaFoto: Getty Images/Afp/Estelle Maussion

Cerca de uma centena de pessoas concentrou-se no município de Viana, a sul de Luanda, no sábado, respondendo a um apelo lançado pelo chamado Movimento das Manifestações nos Musseques.

O objetivo era protestar contra os maus-tratos às mulheres zungueiras, como são chamadas as vendedoras de rua. Mas o protesto foi reprimido, havendo registo de detenções e de algumas agressões por parte das forças da ordem, conta Francisco Filomeno Lopes, secretário-geral do partido da oposição Bloco Democrático.

DW África: O que aconteceu durante a manifestação?

Francisco Filomeno Lopes (FFL): Houve efetivamente uma concentração das pessoas. Entre elas estavam muitos trabalhadores de rua, porque a manifestação visava sobretudo potenciar a capacidade de reivindicação das zungueiras. Elas são sistematicamente reprimidas pela polícia, registando-se inclusive situações muito dolorosas de senhoras que andam com o filho às costas e são barbaramente agredidas. Há inclusivamente mortes.

Portanto, juntaram-se muitas pessoas – alguns dos que convocaram a manifestação, o [ativista angolano] Nito Alves e outros, já são conhecidos pela polícia e, portanto, foram intercetados no trajeto para o local da manifestação, que era perto da Casa da Juventude. Quer nos locais onde as pessoas se concentraram, quer noutros locais, as pessoas foram intercetadas. Algumas foram agredidas, outras foram presas e soltas mais tarde. Mais uma vez, um grande aparato militar e policial, também com polícias à paisana, investiu contra os manifestantes. E houve um grupo, o grupo do Nito Alves, cerca de seis pessoas, que terá sido levado para uma outra província, o Kwanza-Norte, e foi deixado à sua sorte no meio da mata.

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DW África: E, neste momento, que informações há dessas pessoas que foram detidas?

FFL: Já foram soltas e houve também uma equipa de apoio que foi buscar os que foram despejados no Kwanza-Norte.

DW África: Depreendo que, pela violência utilizada pelas forças de segurança, houve bastantes feridos.

FFL: Desta vez, não houve bastantes feridos. Os organizadores terão sido presos, terá havido muita tortura psicológica, mas não temos relatos das pessoas que foram deslocadas de que terão sido violentadas do ponto de vista físico. Houve uma agressão extremamente forte de um elemento que ficou ensanguentado na cabeça. E este foi o [caso] mais crítico. De resto, houve dispersão. As pessoas voltavam, depois, a concentrar-se e eram novamente dispersadas. Portanto, foi este “jogo” que nós observámos durante aquele dia.

DW África: As zungueiras estão proibidas de vender na rua – também estão aparentemente proibidas de se manifestarem, dadas as medidas de repressão. Como é que sobrevivem agora estas pessoas?

FFL: É um fenómeno que é impossível de ser eliminado. Não há outras condições para as zungueiras operarem, há poucos espaços – é um conjunto de fatores que se conjuga. E, por mais proibições que haja, este fenómeno vai continuar. Há uma controvérsia relativamente a se as zungueiras devem, ou não, trabalhar. Por um lado, o Governador de Luanda disse que poderiam, que estariam livres. Mas continuamos a ter uma abordagem da polícia extremamente anti-democrática, que impede as pessoas de dizerem aquilo que pensam.

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