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Tecnologia

Quem ajuda África a manter os seus satélites no espaço?

Silja Fröhlich | tms
17 de fevereiro de 2020

África já chegou ao espaço e está lá para ficar. Mas os programas espaciais africanos dependem de tecnologia e dinheiro estrangeiros. A China é um dos parceiros mais importantes. Que interesses há de ambos os lados?

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Foto: picture-alliance/dpa/NASA

A 20 de dezembro de 2019, a Etiópia lançou o seu primeiro satélite, projetado por engenheiros etíopes e chineses. O Governo da China pagou a maior parte dos mais de oito milhões de dólares investidos no projeto.

Outros países africanos também já têm o seu próprio satélite no espaço graças à ajuda chinesa, mas também há outros países interessados em investir nos programas espaciais africanos

"Já chega a 11 o número de países da África subsaariana que têm o seu próprio satélite no espaço", diz em entrevista à DW Temidayo Oniosun, diretor da "Space in Africa", uma empresa de comunicação da Nigéria.

A indústria espacial no continente não para de crescer. Segundo estimativas apresentadas pelo especialista, este setor em África vale mais de 7 mil milhões de dólares e deverá chegar aos 10 mil milhões até 2024.

Grandes potências investem em negócio lucrativo

Um negócio bastante lucrativo, principalmente para os países que têm dinheiro para investir, explica Temidayo Oniosun "Países como o Japão, China, Rússia e o Reino Unido têm estado bastante envolvidos em diferentes programas espaciais em África", exemplifica.

Quem ajuda África a manter os seus satélites em órbita?

Em 1999, a África do Sul tornou-se o primeiro país da África subsaariana a lançar o satélite "Sunsat" em órbita. A Nigéria, com a ajuda do Reino Unido, China e Rússia, lançou quatro satélites, o primeiro em 2003. Em 2017 foi a vez do Gana com o "GhanaSat-1", apoiado pelo Japão. A estes países juntaram-se, no ano passado, o Ruanda, apoiado pela empresa britânica One-Web, e o Sudão, com a ajuda da China.

Também Angola está na lista de países africanos com interesses espaciais. Em 2017, foi lançado o Angosat 1, que custou mais de 260 milhões de dólares ao Estado angolano e contou com a ajuda da Rússia, responsável pela execução do projeto. Entretanto, o Angosat 1 perdeu-se no espaço e o Angosat 2 está já em construção, devendo ser lançado em 2022, segundo estimativas do Governo de Luanda. 

China ganha espaço

A Europa foi quem mais investiu nos programas espaciais africanos até agora. Mas, segundo o diretor da "Space Africa", a China tem seguido o exemplo dos europeus nos últimos anos e está a investir cada vez mais.

Em 2018, a China disponibilizou 550 milhões de dólares à Nigéria para a compra de dois satélites chineses, que deverão ser lançados em órbita este ano. E o país tem grandes planos: até 2030, com a ajuda da China, os nigerianos querem enviar um astronauta para o espaço. À semelhança da África do Sul, a Nigéria tem sua própria agência espacial. Também o centro de ciência e tecnologia espacial do Gana coopera com a China.

Russland Symbolbild Raketenstart in Baikonur
China investe cada vez mais em programas espaciais africanosFoto: picture-alliance/dpa/G. Sisoev

Para Temidayo Oniosun, o objetivo chinês é claro: "Para a China, isto é uma estratégia política. A Etiópia, por exemplo, tem muito boas relações diplomáticas com a China e a China está a expandir essas boas relações por toda a África. Um projeto espacial é considerado um projeto de topo, no qual os Governos querem trabalhar com os países em que confiam."

E aqui a China tem vantagens, porque o país é um dos maiores investidores de África e o maior parceiro comercial no continente. A China também beneficia ao investir na indústria espacial africana. "A China beneficia muito com isso: expande os seus mercados e acede a áreas lucrativas sem grande concorrência. Além disso, assegura a boa vontade dos estados africanos, cria novas oportunidades de negócios e estabelece padrões técnicos", afirma Cobus van Staden, diretor de pesquisa da empresa "The China Africa Project".

Uma agência espacial africana?

Para os países ocidentais, questões como transparência e reformas políticas são levadas em conta na hora de investir. Já para a China, o que interessa é o lucro. Por isso, Pequim investe fortemente em tecnologia de comunicação, por exemplo, para permitir ligações mais rápidas de Internet em África.

Já para os governos africanos, os novos satélites e um foco maior no seus programas espaciais poderiam ajudar a resolver desafios nas áreas da defesa e segurança alimentar, e até ajudar na prevenção de catástrofes, segundo Temidayo Oniosun, diretor da "Space Africa".

A União Africana (UA) adotou uma diretiva sobre a exploração espacial africana em 2017, declarando que a ciência espacial poderia impulsionar o progresso económico e a gestão de recursos naturais no continente. Neste sentido, deverá ser criada no Egito uma agência espacial central africana. O diretor da "Space Africa" espera que a agência entre "em pleno funcionamento antes do final deste ano."

Tanzânia vista do espaço