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Quenianos criticam altos salários dos seus políticos

6 de fevereiro de 2013

Os deputados do Quénia estão entre os mais bem pagos do mundo. Mas muitos quenianos condenam os salários e privilégios dos políticos. Em África cada vez mais se ouvem críticas perante o comportamento dos políticos.

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Campanha eleitoral no Quénia com vista as eleições gerais de dezembro de 2007
Campanha eleitoral no Quénia com vista as eleições gerais de dezembro de 2007Foto: picture-alliance/dpa

Por mês, os deputados quenianos ganham o equivalente a 9 mil euros livres de impostos. E há mais benefícios: por exemplo, 6 mil euros mensais para custos de manutenção, habitação e telemóvel gratuitos.

Tudo isto, aprovado pelos próprios políticos do Quénia que, num recente projeto de lei, em janeiro, propunham receber um bónus de 80 mil euros no final do seu mandato. Mas a lista continua: o direito a um funeral de Estado, um guarda-costas armado, passaportes diplomáticos e muitos outros privilégios.

Os exorbitantes salários dos parlamentares quenianos já deram origem a várias manifestações.

Antoine Tosh, um dos organizadores dos protestos na capital, Nairóbi, culpa os deputados que são denunciados pelos próprios eleitores: “Votamos nos líderes que nos pagam para votarmos neles. O líder que te dá dinheiro é aquele em quem vais votar, mas aquele que te “vende” a sua qualidade, nunca votas nele."

O descontente está certo de uma coisa: "O seu principal objetivo, quando chegam ao Parlamento, é recuperar o dinheiro que gastaram contigo.”

O projeto de lei sobre o bónus acabou por receber o veto do Presidente do Quénia, Mwai Kibaki, que, no entanto, com mais de 600 mil euros por ano, ganha duas vezes mais do que a chanceler alemã, Ângela Merkel.

Salários transformam políticos em Ilhas

A Nigéria é um dos maiores produtores de petróleo de África, mas boa parte da sua população vive em condições precárias
A Nigéria é um dos maiores produtores de petróleo de África, mas boa parte da sua população vive em condições precáriasFoto: picture-alliance / Ton Koene


Mas o exemplo queniano não é único no continente. Heinrich Bergstresser é jornalista na Nigéria. Aqui, são também os políticos que aprovam os salários do Executivo. Tal como no Quénia, os motivos prendem-se com o fenómeno do “clientelismo”.

Em primeiro lugar, os políticos eleitos usam os salários elevados para o seu próprio benefício, das suas famílias e amigos, de acordo com Bergstresser.

Mas também juntam dinheiro para o dia em que deixarem de ser eleitos, segundo o jornalistas: "Isso significa que essa elite, essa classe política, mas também as elites em geral, poderão continuar a viver de forma independente."

Bergerstresser argumenta que eles poderão manter de pé um mundo próprio, usando o dinheiro farto da produção de gás e de petróleo, e finaliza: "E esse mundo próprio das elites estará sempre desvinculado de qualquer justificativa perante o eleitorado".

Em muitos países do continente, os eleitores perguntam-se como é que os políticos justificam os seus salários e privilégios.

As justificações dos políticos

A África do Sul tem vivido violentas manifestações e greves como forma de exigir melhores salários. O caso da mina de Marikana é o mais destacado
A África do Sul tem vivido violentas manifestações e greves como forma de exigir melhores salários. O caso da mina de Marikana é o mais destacadoFoto: dapd

Questões levantadas também no Gana, em protestos públicos, fóruns online, blogues e na rede social Facebook, onde a população expressa o seu descontentamento.

Na África do Sul, a criação de uma comissão de estado que introduziu a idéia de um bónus de "performance" para os deputados recebeu diversas críticas. Os deputados sul-africanos surgem em quarto lugar na lista dos mais bem pagos em África.

O Presidente Jacob Zuma ganha mais de 14 mil euros por mês e um simples deputado, 6 mil, enquanto mais de metade da população vive com cerca de 40 euros mensais.

Ainda assim, Watty Watson, líder da bancada da Aliança Democrática no Parlamento da África do Sul, não considera que os políticos sejam demasiado bem pagos: “Não acho que os políticos sul-africanos ganhem salários assim tão altos, quando comparados com o resto do mundo. Penso que podíamos ter mais ajuda, mais equipamento e apoio administrativo."

E para fundamentar a necessidade de apoio Watson dá um exemplo: "Eu voltei agora de Taiwan e lá cada membro do parlamento tem cerca de 26 investigadores, secretários e pessoal administrativo. Isto é algo que realmente faz falta na África do Sul”.

Para além da África do Sul, Nigéria e Quénia, o Gana e a Namíbia lideram a lista dos líderes africanos mais bem pagos. A meio do ranking surgem a Libéria, Angola e Moçambique. Benin e o Zimbábue ocupam os últimos lugares. Aqui na Alemanha mesmo o Presidente aufere apenas 2 mil euros por mês

Autora: Maja Braun / Maria João Pinto
Edição: Nádia Issufo / António Rocha



 

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