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Rapto de empresários de origem asiática agita Maputo

1 de fevereiro de 2012

O sequestro de empresários moçambicanos de origem asiática tem vindo a aumentar na capital de Moçambique. A comunidade muçulmana questiona a resposta da polícia, mas as autoridades falam em “falta de colaboração”.

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Foram raptados 15 empresários desde finais de 2011
Foram raptados 15 empresários desde finais de 2011Foto: picture-alliance/dpa

Os raptos em Maputo acontecem desde finais de 2011. Até ao momento, já foram raptadas 15 pessoas (dez muçulmanos e cinco hindus). Os familiares das vítimas têm pago somas elevadas em resgates.

A DW África entrevistou o presidente do Conselho Islâmico de Moçambique, Sheik Aminudin, que questiona não apenas a resposta da polícia aos raptos, como também a do próprio governo moçambicano.

Sheik Aminudin (SA): Levantam-se muitas interrogações sobre o caso e não conseguimos obter respostas claras. A comunidade está muito preocupada com esta situação.

DW África: Até agora, o trabalho da polícia tem-se mostrado pouco produtivo?

SA: Quando tem notícia de que há algo que não está normal na sociedade no que diz respeito à segurança aos cidadãos, a polícia não pode simplesmente dizer que ainda ninguém reportou o caso ou que ninguém a informou. Acho que este é um fenómeno que acontece um pouco por todo o lado no mundo. O governo, e não apenas a polícia, tem três obrigações em relação aos cidadãos: proporcionar a paz, a honra e a vida. São as três obrigações do Estado. Portanto, não nos fazem nenhum favor. Não é preciso andarmos a pedir. Por vezes acompanhamos entrevistas a alguns responsáveis da polícia a dizer que não atuaram porque ainda ninguém lhes foi reportar. Já é muito comum falar-se, dentro e fora do país, sobre porque há-de a polícia ficar à espera de casos concretos. Acho que é o trabalho deles colocar pessoal em campo e garantir essa paz e essa segurança aos cidadãos.

DW África: Aventa a possibilidade de as autoridades moçambicanas estarem a negligenciar este caso?

SA: Essas são as tais interrogações para as quais não temos resposta. Primeiro, porque é que está a acontecer esse tipo de coisas e o alvo, até agora, são os empresários de origem indiana, não só muçulmanos. Temos notícias de que também há hindus que foram alvo disso. E essa é a primeira interrogação. Porque se fosse um crime normal, em que o criminoso rapta alguém porque através desse ato quer conseguir algum valor… Na sociedade moçambicana há muitos ricos, tanto moçambicanos como de origem europeia e também libanesa. Portanto, porque é que isto está só a acontecer com os empresários de origem indiana? É uma interrogação muito grande para a qual não temos resposta.

DW África: Alguns empresários de origem asiática já estão a abandonar o país com receio destes raptos. Até que ponto este tipo de atitude pode ser prejudicial para Moçambique?

SA: Não é só a questão de alguns empresários que têm residência aqui pensarem em abandonar o país. As notícias difundidas por aí já são suficientes para afugentar outros investimentos. Este fenómeno é prejudicial em todos os aspetos. A falta de segurança afugenta investimentos, tanto dos que estão aqui como dos que estão por vir. Se quer mesmo ver a prosperidade do país, o Governo tem de tomar alguma medida para travar este tipo de ato.

A polícia de Maputo diz que as vítimas não apresentaram queixa formal
A polícia de Maputo diz que as vítimas não apresentaram queixa formalFoto: picture-alliance / dpa

Polícia fala em “falta de colaboração”

O porta-voz da polícia da cidade de Maputo, Arnaldo Chefo, disse à DW África que, desde o dia em que começaram os raptos, nunca houve uma “boa colaboração” por parte dos familiares das vítimas ou dos próprios empresários.

Segundo Arnaldo Chefo, a polícia não foi contatada pelos familiares das vítimas e as vítimas também não apresentaram nenhuma queixa formal. “A falta de colaboração complica o trabalho da polícia”, alega, assegurando ainda que “a polícia está muito preocupada com estes casos”.

O porta-voz refere ainda que houve apenas um caso em que a polícia pôde contar com a colaboração da família da vítima, neste caso um empresário de origem asiática raptado em finais do ano passado.

Autora: Nádia Issufo
Edição: Madalena Sampaio/António Rocha