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Refugiados do Mali poderão aumentar

Vieira, Cristiane20 de dezembro de 2012

O Mali aguarda luz verde da ONU para o envio de uma força africana de intervenção. Caso venha a acontecer, o número de refugiados malianos no vizinho Burkina Faso poderá subir dos atuais 40 mil para 100 mil.

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O golpe de Estado no Mali, em março deste ano, a ocupação do norte do país por grupos islâmicos rebeldes, a instabilidade do poder central e a fome são os ingredientes de uma do caos naquele Estado da África Ocidental.

Face a essa situação, calcula-se que 400 mil pessoas já tenham fugido do norte do país. Algumas encontraram abrigo no sul do Mali, outras fugiram para países vizinhos. No Burkina Faso, localizado a sul daquele Estado, vivem atualmente cerca de 40 mil malianos em campos de refugiados. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que o número poderá subir para 100 mil no caso de uma intervenção militar.

No campo de Sag-Nioniogo, o médico Jean-Baptiste Conseiga identifica algumas das lacunas no tratamento adequado aos doentes: "muitas vezes, podemos identificar uma doença mas não podemos iniciar qualquer tratamento, porque nos faltam recursos. Essa é a nossa maior preocupação".

Fora do seu consultório, centenas de barracas brancas sobre um chão empoeirado oferecem sombra e abrigo a famílias inteiras. Também a logística do campo de refugiados carece de melhorias.

O brasileiro Hugo Reichenberger, técnico de relações internacionais do ACNUR no Burkina Faso, reconhece as dificuldades. "Aqui já estabelecemos alojamentos de emergência, mas queremos oferecer barracas melhores, no estilo tradicional. Isso é outra coisa que está faltando aqui. A educação é também um desafio. Nós oferecemos escola primária, mas nenhuma escola de ensino médio", diz.

Ao todo, as Nações Unidas estabeleceram, em colaboração com outras agências, seis campos para os refugiados do Mali, no Burkina Faso. Aqui chegam constantemente mais pessoas à procura de proteção.

Refugiados querem voltar

Em Sag-Nioniogo cruzam-se histórias de fuga. Hammadou Ongoiba deixou Douentza, no norte do Mali, com sua esposa e filhos, para estar fora do alcance dos islamitas que tomaram a cidade, no início de setembro.

Conforme um dos refugiados, Hammadou Ongoiba, os radicais dizem que são religiosos, "mas o que fazem não tem nada a ver com religião. Interpretam incorretamente a Sharia, a lei islâmica. Se alguém rouba, cortam-lhe a mão ou o pé, e apedrejam os adúlteros. Mas eles mesmo obrigam as mulheres ao sexo!", desabafa o homem ovido pela reportagem, que agora está a 200 quilómetros de distância do seu país. "Eles nos arruinaram e por isso estamos aqui", afirma Ongoiba, que um dia espera poder voltar ao Mali.

Também a família de Naim Ben Mohammed deixou Timbuktu, em abril passado, e recentemente foi transferido para o acampamento de Sag-Nioniogo. Naim Ben Mohammed está inconformado porque teve de deixar para trás os avós idosos.

Intervenção militar preocupa malianos

A discussão sobre o envio de tropas africanas ao norte do Mali é intensa. Muitos refugiados esperam que militares estrangeiros libertem seu país dos islamitas. Mas Naim Ben Mohammed contesta uma intervenção internacional no seu país: "esta não é uma solução. Os soldados estrangeiros não poderão distinguir entre rebeldes e civis. Uma ação militar pode ter consequências graves se for aprovada", alerta.

A maioria dos grupos islâmicos é composta por membros de grupos tuaregues, que preferem a via de negociações entre o governo do Mali e os rebeldes. Além das consequências humanitárias de uma intervenção, eles também temem que uma nova guerra acabe para sempre com seu sonho de uma maior autonomia para os tuaregues.

Os planos para a ação militar avançam com lentidão. Aguarda-se que o Conselho de Segurança da ONU autorize uma força de 3.300 soldados africanos, uma intervenção apoiada pela União Africana e pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). No entanto, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, tem algumas reservas sobre esta operação.

Enquanto se espera o desfecho da decisão, o ACNUR no Burkina Faso já se prepara para o caso de uma intervenção. "Trabalhamos em um plano de contingência. Se houver uma intervenção, estaremos preparados para cuidar de um número maior de refugiados. Isso poderia trazer mais 100 mil refugiados do Mali para o Burkina Faso. Mas essas são apenas estimativas, com as quais trabalhamos", diz Reichenberger.

Autores: Peter Hille / Cris Vieira
Edição: Glória Sousa / Márcio Pessoa