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Relações EUA-África: O que esperar de Joe Biden?

António Cascais
20 de janeiro de 2021

Joe Biden e Kamala Harris "vão fazer exigências" aos países africanos em troca de cooperação, entende Emília Pinto, especialista angolana em relações internacionais. Isso não acontece com a China.

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Joe Biden, Presidente eleito dos EUAFoto: Chip Somodevilla/AFP

O Presidente eleito dos EUA, Joe Biden, toma posse esta quarta-feira (20.01). Espera-se que o novo homem forte da maior potência mundial venha a reverter muitas das medidas implementadas pelo seu antecessor, o republicano Donald Trump.

No que diz respeito a África, também é aguardado o retorno de um modelo de cooperação já conhecido, baseado na democracia, respeito pelos direitos humanos e transparência. Sobre a política externa norte-americana com Biden na Casa Branca, a DW África conversou com a especialista em relações internacionais, a angolana Emília Pinto. 

President-Elect Joe Biden And Vice President-Elect Kamala Harris Address The Nation After Election Win
Kamala Harris, nova vice-Presidente dos EUAFoto: Tasos Katopodis/Getty Images

DW África: O que África, em geral, e Angola, em especial, podem esperar dos novos ocupantes da Casa Branca?

Emília Pinto (EP): Joe Biden é um representante democrata e não vai fugir muito da cultura do partido, quer para a política interna dos EUA quer para a política externa. No período em que a Casa Branca estava sob o comando de Donald Trump, não havia uma política específica para África e, dessa forma, não se fazia muitas cobranças, o que provavelmente [não] vai voltar a acontecer com o candidato democrata. Os EUA vão voltar a cobrar uma África mais democrática, com respeito pelos direitos humanos. Isso são exigências da própria liderança americana, sobretudo dos democratas.

DW África: Mas pensa que Joe Biden e Kamala Harris vão ter um projeto concreto para África depois de, nos últimos anos, aparentemente terem escolhido a Ásia e o Pacífico como prioridade da sua política externa?

US-Vizepräsident Joe Biden in Kenia
Joe Biden no Quénia, em 2010, homenageando as vítimas do ataque a embaixada dos EUA em 1998Foto: DAI KUROKAWA/Epa/dpa/picture alliance

EP: Sinto que é um pouco prematuro dizer agora qual é o projeto que os EUA têm para África. A política externa compõe um programa, e este até agora ainda não foi definido para o período em que o mundo será "comandado" pelos democratas.

DW África: Disse que, em África e em Angola, não era visível uma política externa por parte dos EUA. Há observadores que dizem que esse vazio foi ocupado pela China. É uma boa notícia ou seria assustador se a China ocupasse o espaço que no último decénio foi ocupado pelos EUA?

EP: O que aconteceu foi o seguinte: Donald Trump, devido às suas similares caraterísticas com líderes africanos, sobretudo na sua perspetiva de exercício de poder, de certa forma não fez pressão para África, coisa que ultimamente estavámos habituados a ver. A política externa norte-americana para África era muito mais voltada para isso. A China tem um papel muito importante nas economias africanas, fez parcerias com elas e não cobrou contrapartidas, nem cobrou relatórios de boa governação, o que normalmente não acontece com partidos democratas, que fazem algumas cobranças no que diz respeito à boa governação, combate à corrupção, medidas de transparência. Por causa destas condições, os países africanos acabaram por preferir o país que desse muito capital e que não fizesse muitas exigências. Por não se fazer muitas exigências é que a China cada vez mais vai ganhando protagonismo em território africano.

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