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Renúncia de Manuel de Araújo é "golpe muito duro para o MDM"

Vera Covelo Tavares
19 de julho de 2018

A decisão causou alvoroço. Manuel de Araújo deixou de ser cabeça de lista pelo MDM em Quelimane, e esta não é a primeira baixa no partido. Analista Fernando Lima prevê dificuldades nas autárquicas.

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Renúncia de Manuel de Araújo não ajuda o partido, que já estava em criseFoto: DW/J. Beck

Se a situação no Movimento Democrático de Moçambique (MDM) já era difícil, não ficou melhor. Com a saída de Venâncio Mondlane para a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) já se falava num partido em crise. Agora, Manuel de Araújo anunciou que já não será cabeça de lista pelo partido no município de Quelimane. Segundo a imprensa local, o político prepara-se para ingressar na RENAMO.

A DW África falou com o jornalista e analista político moçambicano Fernando Lima, que concorda que este é um "golpe duro para o MDM". Para o analista, o principal problema é que a saída de altos quadros do MDM para a RENAMO põem em causa possíveis coligações para derrotar a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) nas eleições. Contudo, Fernando Lima defende que os partidos não podem depender de pessoas de importância, e que o MDM ainda tem uma forte base de apoiantes com que ainda pode contar.

Fernando Lima
Fernando Lima: "Partido perde pessoas notáveis num momento particularmente complicado"Foto: DW

DW África: O que se passa o MDM?

Fernando Lima (FL): O que se passa é que tem havido uma grande deserção de pessoas conhecidas, de pessoas colunáveis, mas também de militantes de base. E o último nome a ser conhecido é o de Manuel de Araújo. Penso que é um duro golpe para o MDM, porque perde pessoas notáveis, com grande capacidade, num momento particularmente complicado, porque estamos à beira das eleições autárquicas. Mas, tal como disse recentemente o líder do MDM [Daviz Simango], os partidos não se podem formar na base de pessoas colunáveis, têm de ser formados por militantes, pessoas que fazem o trabalho do partido, que se devotam a uma causa partidária, que acreditam nas diretivas e ideologia do partido. É isso que o MDM tem de fazer.

DW África: Qual o futuro do MDM? O que se pode esperar do partido?

Renúncia de Manuel de Araújo é "golpe muito duro para o MDM"

FL: É um teste muito duro que o MDM vai ter de enfrentar. O MDM poderia ter feito uma coligação com grande potencial com a RENAMO, uma coligação entre os dois principais partidos da oposição. Penso que, neste momento, com estas deserções e com o facto de a grande maioria das deserções ter apenas um único destino, a RENAMO, duvido que esta possível coligação ainda possa acontecer, mesmo, nos casos pontuais em que se chegar à conclusão que, num determinado município, deveria haver uma coligação para enfrentar o candidato do partido FRELIMO. É um golpe muito, muito duro para o MDM.

DW África: Sem essa possibilidade de coligação, o cenário para as eleições autárquicas é mesmo negativo?

FL: Eu diria que é difícil, mas também diria que o MDM tem de aprender das suas lições de luta política, ou seja, compreender que a política não se faz apenas de pessoas que chegam diretamente para ocupar cadeiras disponíveis em termos de poder, em termos de Parlamento, em termos de autarquia, mas que devem corresponder a um outro tipo de luta e de militância mais profundo, o que não é o caso destas pessoas que abandonaram o MDM, porque são pessoas de militância e de adesão recente ao MDM.

Mosambik, politische Parteien bereiten Kandidaten für Kommunalwahlen in Quelimane vor
Falta democracia interna no MDM?Foto: DW/M.Mueia

DW África: Tem alguma ideia das motivações que levam estas pessoas, como Manuel de Araújo, a sair do MDM para a RENAMO?

FL: De acordo com essas pessoas, todos eles falam em falta de democracia interna no MDM. Há, claramente, um problema interno no MDM em termos do debate de ideias, do próprio funcionamento das estruturas, o que terá levado ao descontentamento destes indivíduos. O MDM, também pela natureza dos próprios estatutos, é muito centrado na figura de Daviz Simango, o atual edil da cidade da Beira. Este é outro desconforto para estas pessoas que gostariam de sentir mais democracia interna no MDM. Mas, a questão de fundo, claramente, são problemas ligados com a própria natureza das personalidades que abandonaram o partido.

DW África: Acha que Daviz Simango está a ficar isolado na liderança do partido?

FL: Não, não penso que ele esteja isolado. Não confundo o partido com o facto de meia dúzia de figuras sonantes terem abandonado o partido. São golpes políticos significativos no MDM, mas o MDM tem centenas de milhares de pessoas que votam MDM e não me parece que a existência de tantos milhares de apoiantes do MDM torne o engenheiro Daviz Simango solitário na liderança.