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Repressão policial volta a impedir manifestação em Luanda

Pedro Borralho Ndomba (Luanda)/Lusa/cvt4 de maio de 2015

Forte aparato policial travou marcha dos ex-militares que nem sequer puderam se aproximar do local previsto para a realização do protesto no sábado (04.05). Pelo menos 20 pessoas foram detidas, algumas foram libertadas.

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Manifestantes pretendiam marchar até o Largo da Independência (foto), em LuandaFoto: Antonio Cascais

O protesto frustrado deste sábado (02.05), havia sido convocado por três plataformas representativas de ex-militares não desmobilizados, militares desmobilizados e ex-funcionários da Casa Militar da Presidência da República, que desde 2010 reclamam o pagamento de indemnizações e salários em atraso.

Segundo os organizadores, o evento havia sido formalizado em 22 de abril. Dias antes da manifestação, ainda de acordo com os organizadores, pelo menos 20 mil ex-militares de todo o país estariam mobilizados para o protesto.

Mas, no sábado (02.05), não se observou este número.

Direitos sequestrados

Angola Caixa de Segurança Social FAA
Desde 2010, ex-militares angolanos reclamam o pagamento de indemnizações e salários em atraso. Na Foto, a sede da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (CSSFAA)Foto: DW/P. Borralho Ndomba

Os antigos militares começaram a ser detidos por homens da Polícia Nacional Angolana por volta das dez horas da manhã, juntamente com os membros da União Nacional dos Ativistas de Angola, quando concentravam-se junto à escola Njinga Mbande com o objectivo de chegar ao Largo da Independência, local que esteve cercado por policiais.

Num relato por telefone à agência LUSA, Domingos António, da comissão organizadora desta manifestação, afirmou estar sob custódia policial, bem como outros membros da organização.

"Não conseguimos fazer a manifestação porque a cada pessoa que se aproximava do largo vinha uma carrinha [da polícia] e levava-a não sabemos para onde. Está muita gente detida", declarou.

Em entrevista à DW África, o jornalista da Rádio Despertar, Daniel Portácio, que também esteve detido quando tentava reportar os fatos, disse que os manifestantes ficaram cerca de dez horas na 19ª Esquadra da Policia Nacional do bairro Catintó, onde foram interrogados por várias horas.

Dúvidas e falta de informação

O jornalista acredita que alguns manifestantes continuam presos, pelo fato de os ex-militares dividirem-se por vários pontos do centro da capital, Luanda.

"Confirmo que não foram todos libertados, porque estávamos em celas diferentes. Aqueles que estavam próximos de mim, a rádio tinha conhecimento que na esquadra número X havia lá manifestantes e um jornalista, esses foram libertados na mesma tarde," explica o jornalista.

"Aqueles que estavam isolados ou que não tinham nenhuma defesa ou alguma comunicação, com certeza até domingo [03.05] ainda estavam detidos. Uma coisa a realçar é: um dos elementos ligados às antigas forças ficou na esquadra porque estava a ser fortemente questionado a que força pertencia - Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA, antigo braço armado da UNITA), ou Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA, antiga organização militar do MPLA)", denunciou Daniel Portácio.

Proteste gegen die Regierung Angolas
Repressões policiais a manifestações pacíficas são uma constante em Luanda (Foto tirada em 2013)Foto: DW/M. Vieira

O jornalista da Rádio Desperta garantiu que, na sua presença, os agentes da polícia não agrediram nenhum dos manifestantes durante o perído em que ficaram detidos. "Felizmente, no sábado, a polícia – talvez pela minha presença ou a presença da imprensa - não maltratou quase ninguém", disse.

Suspeita-se que Mário Faustino, um dos organizadores da referida manifestação, esteja detido pelo fato de ter o seu telemóvel desligado desde sábado.

A Agência Lusa relatou também que seu jornalista se viu obrigado a retirar-se do local onde o protesto deveria ter lugar, "por ordem superior" invocada por agentes da polícia sem que fosse adiantada qualquer outra justificativa.

Recorde-se que, na quinta-feira (30.04), o presidente da Associação de Apoio aos Combatentes das Extintas FAPLA, António Fernando Samora, apelou aos ex-militares para não participarem nesta manifestação, contestando o "aproveitamento político e oportunista de determinadas formações políticas", denunciando o objetivo destas de utilizar estes homens para ações de "desobediência e de vandalismo contra as instituições do Estado".

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