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Rumores de golpe de Estado em Bissau são "falso alarme"?

15 de fevereiro de 2021

PAIGC quer esclarecimento cabal de Sissoco sobre denúncia de tentativa de golpe de Estado. Analistas criticam postura do chefe de Estado e entendem que um Presidente não deve comentar publicamente rumores sem fundamento.

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Guinea-Bissau Umaro Sissoco Embalo
Foto: AFP/Seyllou

O Presidente da Guiné-Bissau denunciou no último fim-de-semana um alegado plano de assassinato em massa de vários dirigentes. Em declarações aos jornalistas no aeroporto de Bissau, no sábado (13.02), à chegada do Senegal, Umaro Sissoco Embaló revelou que há rumores de uma alegada tentativa de golpe de Estado e um plano para o assassinar, ao ministro do Interior, Botche Candé, e ao ministro da Defesa Nacional, Sandji Fati.

O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) reuniu a sua Comissão Permanente para a analisar a situação e exige ao Presidente guineense que esclareça a situação.

Odete Semedo, vice-líder do principal partido na oposição, disse à DW que o partido estranha as declarações de Sissoco Embaló: "Reagimos com alguma estupefação vindo de um Presidente da República, que é uma pessoa que em princípio é idónea e saberá o que está a dizer. Compete-lhe dar respostas e esclarecer quais são as suas fontes." A única preocupação do PAIGC, assegura, "é o firmar da paz e sucesso para o povo guineense."

Umaro Sissoco Embaló não deu mais informações sobre a alegada tentativa de golpe de Estado. O ministro do Interior diz apenas que estão a investigar a situação e o ministro da Defesa não aceita comentar o assunto.

Declarações "surpreendentes" e "inadequadas"

Analistas políticos ouvidos pela DW em Bissau criticam a postura do chefe de Estado e afirmam que Sissoco Embaló lançou um "falso alarme" que pode desestabilizar o país.

Para o analista Rui Jorge Semedo, a comunicação do Presidente não só é surpreendente, também é inadequada. "Se realmente está em curso uma situação que pretende alterar a ordem política na Guiné-Bissau, não é o Presidente da República a aparecer em público a fazer essas denúncias. Seria o Ministério do Interior ou outras instituições a dar essa informação, mas também com elementos que provam a denúncia", argumenta.

Guinea-Bissau Rui Jorge Semedo, Politologe
Rui Jorge Semedo, analista político guineenseFoto: privat

O analista lembra que Sissoco está a repetir a velha estratégia dos sucessivos Presidentes da Guiné-Bissau, usada como pretexto para acusar ou deter os adversários públicos sem nunca apresentar provas.

"Esta denúncia é mais uma ameaça aos esforços para a construção da paz, ao mesmo tempo para encurralar os adversários políticos e próprio mal-estar entre o próprio Presidente da República e o seu primeiro-ministro e com o partido que o apoiou durante as eleições presidenciais. Mas nunca aceitou assumir esse mal-estar publicamente", sublinha.

Rui Semedo não entende que o chefe de Estado tenha perdido a confiança nas Forças Armadas que sempre estiveram ao seu lado. "O Presidente da República, desde que assumiu a posse, sempre vangloriou as Forças Armadas, sempre considerou as forças de republicanas. Inclusive patrocinou a retirada da ECOMIB alegando que o problema não está na classe castrense, mas sim nos políticos", recorda. Por isso, este pronunciamento recente "é uma contradição com o que tem dito sobre os militares", conclui o analista.

Estabilidade política em risco?

Rui Landim, politólogo guineense e comentador político, diz que o Presidente fez uma "declaração leviana" que pode pôr em causa a estabilidade política do país. "Não é o papel do Presidente da República comentar rumores, até chegar ao ponto de dizer que há um plano de assassinato em massa. Isto prova que estamos num pandemónio, não é Estado, não é nada. Porque o Estado tinha acabado há muito tempo", critica.

Para o analista, estas declarações do Presidente colocam o país numa situação de falso alarme. "Chegar ao ponto de suspeições de assassinatos é muito mau para o país, porque não se pode num contexto de contestação social. Isto é ridículo e o país saiu a perder", diz.

"Um Presidente não pode lançar um falso alarme em como há um plano de assassinato em massa sem provas, só para inviabilizar o país. O Ministério Público poderia investigar esta situação", defende ainda o analista.

Umaro Sissoco Embaló desafiou ainda quem o quiser atacar que o faça porque anda "sozinho e com os vidros do carro em baixo".

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