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São-tomenses acreditam que uma ditadura esteja a caminho no seu país

Graca Ramusel17 de setembro de 2013

Em São Tomé e Príncipe grupos da sociedade civil acusam o Governo de censurar a opinião e liberdade de expressão e ainda molestar cidadãos cujas ações tendem a identificar-se com as da oposição política.

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O caso mais recente que chocou a opinião pública nacional e da sociedade civil foi o dos árbitros que não compareceram aos campos de jogos devido a agressão que o trio foi alvo por causa de uma decisão desfavorável à equipa dos militares.

A este incidente, seguiu-se a prisão de Esterline Gonçalves, em pleno local de trabalho. Gonçalves é um dos árbitros em causa e alto funcionário do ministério dos Negócios Estrangeiros, que criticou a atitude dos oficiais da instituição castrense na sua página do Facebook

Devido a este e outros acontecimentos, Ambrósio Quaresma, jornalista e diretor do jornal "O Parvo" entrevistado pela DW África, teme que o país caminhe para um regime ditatorial: "Hoje o cidadão comum tem medo de falar, porque por todos os lados há "bufaria", ou seja, agentes secretos que ouvem as coisas. Não é por acaso que alguns cidadãos são chamados pelo ministério da Defesa para serem ouvidos, porque alguém disse que ouviu isto ou aquilo. Isso não pode ser!"

Suspeitas de ditadura

O jornalista considera que o Presidente Manuel Pinto da Costa não está preparado para viver num regime democrático, e que as detenções arbitrárias e repressão nas manifestações têm o cunho do chefe de Estado: "Pinto da Costa regressou ao poder de mãos vazias e com o cérebro cansado, mesmo com o prazer de voltar a mergulhar o país na ditadura. E isto não pode ser."

E Ambrósio Quaresma apresenta o que considera serem os indícios desta situação: "As pessoas estão a ser espancadas e interrogadas, há intimidações... Os jovens que querem reivindicar os seus direitos são presos e violentados. Já passou o tempo dos "15 anos". Pinto da Costa é um Presidente que já não serve a São Tome e Príncipe."

Olívio Diogo, sociólogo e analista politico, não tem dúvidas de que está a ser preparado um poder absoluto em São Tomé e Príncipe.

Para ele a nova proposta de revisão da Constituição e da lei eleitoral introduzida no Parlamento pelo Partido da Convergência Democrática (PCD), força política que sustenta o Governo de Gabriel Costa, é um exemplo: "Não podemos continuar a fortalecer o poder deste Presidente da República, porque quando ele subiu ao poder a Constituição era a mesma que vigora até hoje, e é essa Constituição que queremos."

O Presidente justifica-se

Olívio Diogo apontou outros exemplos: "O eixo de Pinto da Costa está totalmente desconfiado do eixo de Patrice Trovoada [liderou o Governo do país pela Acção Democrática Independente ADI de 2008 a 2011]. E mal se diz alguma coisa as pessoas vão contar ao Presidente da República ou ao chefe do Governo. Então há esse tipo de reações de anti-corpos que se está a criar, e esses anti-corpos podem levar o país a uma situação incerta."

Durante uma visita aos serviços da guarda costeira, o Presidente são-tomense Manuel Pinto da Costa e Comandante supremo das forças armadas, questionado pela DW África se o país caminha para a ditadura por causa desses incidentes respondeu sorrindo: "Não senhor! Quem propaga coisas desse tipo são pessoas que andam à procura de qualquer coisa para lançar confusão."

Pinto da Costa é formado em economia na Universidade de Humboldt em Berlim, na ex República Democrática Alemã (RDA). Recorde-se que Pinto da Costa, governou São Tomé e Príncipe durante 15 anos no regime de partido único desde a independência em 1975 até ao ano 1991. Regressou ao poder através de eleições livres em 2011.