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Moçambique fica a perder com saída da Vale

António Cascais
21 de janeiro de 2021

Em entrevista com a DW África, o ativista Adriano Nuvunga acusa o Estado de conluio com a mineradora na violação de direitos humanos.

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Foto: DW/J. Beck

A multinacional brasileira Vale, uma das principais companhias mineiras a operar em Moçambique, anunciou esta quinta-feira (21.01) que vai abandonar a exploração de carvão em Moatize. Tenciona, no entanto, encontrar uma empresa que esteja interessada em comprar a mina.

Em entrevista com a DW África, Adriano Nuvunga, diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) em Maputo, explica porque é que o abandono da Vale vai custar rendimentos ao Estado. E lembra que as populações locais foram, desde o início do projeto, muito mal-tratadas pela empresa brasileira.

DW África: O abandono da Vale é uma boa ou uma má notícia para os moçambicanos?

Adriano Nuvunga (AN): É uma má notícia, por várias razões. Primeiro, quando se fala do setor mineiro em Moçambique, ele está associado à Vale. Foi a Vale que veio ressuscitar o gigante carvoeiro Moatize. Esperava-se que se tornasse no "Eldorado" do país. Mas passado pouco tempo, as dificuldades começaram a surgir. Mesmo assim, a Vale continuou e fez investimentos importantes, que se esperava que, neste momento, já estivessem a gerar lucros importantes para a província, para o país e para a própria empresa.

Prof. Adriano Nuvunga
Adriano Nuvunga, diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD)Foto: Roberto Paquete/DW

DW África: O abandono da Vale quer também dizer que o Estado perderá os benefícios fiscais, ou seja, haverá menos dinheiro nos cofres do Estado.

AN: A saída da Vale vai significar perdas para o país também no sentido mais financeiro do termo. Porque, quando vende e depois um parceiro entra, essa saída e entrada significa a redução do ganho para o Estado. Porque de acordo com a nova legislação, quem compra tem que recuperar esse dinheiro. O que significa que a riqueza que devia ser para a província e para o Estado moçambicano fica nas mãos daqueles que hão-de vir para investir.

DW África: A Vale tratou com respeito as populações locais?

AN: Longe disso. Pode-se dizer que uma relação de conluio entre o Estado e a Vale resultou em violações gravíssimas dos direitos humanos. O atropelo àquilo que é a dignidade de comunidades foi perpetrado pela Vale com o beneplácito de pessoas importantes no Estado moçambicano.

DW África: No comunicado, a Vale diz que abandona Moçambique devido à questão ambiental. Isso é credível?

AN: O fator ambiental é importante. A questão ambiental é importantíssima. Há cada vez mais debate sobre a questão da transição energética, que coloca pressão sobre as mineradoras não só aqui em Moçambique como a nível global. Mas claramente a questão da produtividade, e também um pouco da qualidade do próprio produto, afetou grandemente essa visão que de que Tete seria o "Eldorado" do país.